Estados do Norte e do Nordeste estão entre os que têm as taxas mais elevadas de famílias endividadas hoje, no Brasil, segundo a Radiografia do Endividamento realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Em ambas as regiões também foram registrados grandes porcentuais de famílias com contas em atraso e de rendimento mensal comprometido para pagar dívidas. Os dados mostram que os Estados do Rio Grande do Norte (95,6%), Amazonas (79,8%), Amapá (74,7%) e Maranhão (85,5%) estão entre os mais endividados. A média nacional foi de 67,4% no fim do primeiro semestre de 2020.
Considerando a proporção de famílias com o pagamento de alguma dívida atrasada, o Rio Grande do Norte aparece na primeira posição, com 48% dos lares, seguido por Ceará (45,5%) e Amapá (38,9%). Levando em conta a parcela da renda mensal das famílias comprometida para pagar dívidas, Norte e Nordeste dominam o topo da lista: os lares amazonenses foram os mais impactados, com 45%% dos rendimentos do mês direcionados a esse tipo de conta. Acre (39,2%), Piauí (39%), Bahia (38,1%) e Amapá (33,7%) vêm em seguida.
Para a Federação, os dados do endividamento no Norte e do Nordeste se explicam principalmente pela menor oferta de crédito formal nessas regiões, em comparação com outras – decorrente da aversão do sistema financeiro do País a se expor a riscos, além de certa seletividade das instituições bancárias na hora de emprestar dinheiro.
No fim do primeiro semestre de 2020, o saldo do volume de crédito formal destinado às duas regiões foi de 20,8% em relação ao total do País, enquanto a população residente nas duas regiões representou 35,9% do Brasil, evidenciando a desproporção da destinação de empréstimos pelo sistema financeiro. Sendo assim, há uma abertura maior para o crescimento do crédito informal e, por consequência, para taxas maiores de endividamento.
Capitais e o caso de Natal (RN)
Em Natal, no Rio Grande do Norte, quase todas as famílias (96%) tinham alguma dívida até junho de 2020, segundo a Radiografia do Endividamento – um crescimento de 22 pontos porcentuais em relação ao mesmo mês de 2019, quando 74% das famílias estavam endividadas.
Este aumento só não foi maior do que em São Luís (MA): de 57% das famílias com dívidas em junho de 2019, para 86% no mesmo mês deste ano – um aumento de 29 pontos porcentuais. A capital potiguar, no entanto, também registrou o maior aumento de lares com contas em atraso na comparação dos dois períodos: de 29% para 48% agora.
Para a FecomercioSP, ainda que Natal tenha reduzido o comprometimento da renda mensal das famílias com dívidas, a situação da cidade preocupa, pois os rendimentos médios são 13% mais baixos em comparação a outras capitais do país.
É no Norte e no Nordeste que estão localizadas, também, as capitais com maior crescimento no número de famílias endividadas entre junho de 2019 e o mesmo mês deste ano: São Luís, no Maranhão, ocupa o topo da lista, com uma expansão de 50,9% de lares com dívidas entre os dois períodos. Logo atrás, aparecem Salvador (BA), com 45%; Rio Branco (AC), com 37,85%; Teresina (PI), com 36,5%; e Porto Velho (RO), com 31,7%.
A mesma situação se repete na lista das capitais brasileiras com maior comprometimento mensal da renda para pagar dívidas: em Manaus, no Amazonas, quase metade (45%) do montante do mês de cada lar vai para compensar débitos. Em Rio Branco (AC) e Teresina (PI), este número é de 39%. Salvador (BA), com 38%, e Macapá (AP), com 34%, completam a lista.
Para a FecomercioSP, estes dados também se explicam pela variável renda: como ela está abaixo da média nacional nessas regiões, a tendência é que pessoas com rendimentos mais baixos recorram a algum tipo de crédito para chegar ao fim do mês – ainda mais em época de crise econômica aguda, como a atual.
Cresce mais dívidas que famílias no Brasil
Em meio à pandemia de covid-19, o número de famílias endividadas nas capitais brasileiras subiu no primeiro semestre do ano a uma velocidade seis vezes maior do que o crescimento do próprio volume de novas famílias: de 10,6 milhões para 11,2 milhões de núcleos familiares com alguma dívida.
Enquanto o número de famílias subiu 0,8% (pouco mais de 126 mil novas famílias) em junho de 2020, em comparação a junho de 2019, o endividamento familiar teve alta de 6% (quase 638 mil a mais de lares) no mesmo intervalo de tempo. Dessa forma, não é exagero afirmar que uma família pode obter dívidas antes mesmo de se formar.
Segundo os dados, 67,4% das famílias brasileiras vivendo em capitais estavam endividadas no fim do primeiro semestre – número que era de 64,1% em 2019.