Flexibilização da cadeia estimula concorrência entre varejos e oficinas -

Flexibilização da cadeia estimula concorrência entre varejos e oficinas

Em cenário de ‘terra de ninguém’, todo mundo vende para quem pode e agregar serviços aparece como alternativa a ser considerada pelo varejo

 

Por Lucas Torres ([email protected])

Existiu um tempo em que a maioria das pessoas adorava ‘bater perna’ no calçadão do centro da cidade visitando loja por loja a fim de comprar produtos variados para suas famílias. Um brinquedo em uma, um sapato em outra, a capa do sofá na loja de uma esquina, o CD de música na esquina oposta…

Com a consolidação das lojas de departamento, que concentraram todos aqueles produtos em um só local, o hábito de caminhar no calçadão foi sendo deixado de lado e os consumidores se inclinando cada vez a priorizar a comodidade e a economia de tempo. O modelo evoluiu para o shopping center e, hoje, os market places no ambiente digital concentram praticamente todas as demandas que uma família precisa, podendo comprar sem a necessidade de sair de casa.

Enfim, do ‘boom’ das lojas de departamento em meados da década de 70 do século passado até os tempos atuais muita coisa mudou. Mas a tendência observada de busca por praticidade do consumidor seguiu intacta. Ou melhor, acelerou ainda mais sua curva de crescimento. Tal mudança de comportamento nesse ator que é cada vez protagonista no mundo do varejo e dos serviços – o cliente – tem afetado de forma sensível a relação entre empresas desse segmento e seus respectivos públicos.

Na reposição automotiva, por exemplo, a vontade do consumidor resolver tudo em um só lugar tem trazido, ao longo dos anos, transformações a uma das relações mais tradicionais da cadeia do aftermarket: a parceria entre varejistas e reparadores. De acordo com o diretor do Sincopeças-SP e proprietário da Said Autopeças, Heber Carvalho, a conjuntura imposta pelo novo perfil dos consumidores fez com que os elos passassem a concorrer entre si. Segundo ele, já começam a se tornar raras as oficinas mecânicas destinadas a reparar o carro exclusivamente. Afinal, a margem de lucro – quem vem caindo no mercado como um todo – para esses casos se tornou extremamente estreita. “Eu já tive estabelecimento de reparação e posso afirmar que, hoje, toda oficina acaba tendo comércio de peças automaticamente. Antigamente o mecânico observava os componentes necessários para o serviço e direcionava seu cliente para comprar no varejo ou ia ele mesmo comprar. Hoje isso acabou. A própria oficina compra a peça direto do distribuidor e instala – ganhando na peça e na mão de obra”, relata Carvalho.

O diretor do Sincopeças-SP afirma que esse cenário sempre foi vislumbrado pelos reparadores, mas que a relutância dos distribuidores em ‘pular’ o varejo era fator de impedimento. “Os distribuidores não vendiam para os mecânicos, isso era regra. Mas aí, para afrouxar essa situação, foi criado o perfil de ‘centro automotivo’ e as oficinas passaram a ter uma inscrição estadual que lhes permitia comprar direto da distribuição e a antiga regra, na prática, passou a não valer mais”, explica Carvalho, antes de complementar: “Hoje em dia, é comum ver oficinas mecânicas trabalhando até com estoque. E te digo, às vezes têm até mais estoques do que pequenos varejos por aí”.


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