Frota de carros por assinatura cresce no Brasil e na Europa -

Frota de carros por assinatura cresce no Brasil e na Europa

Serviço com impacto significativo futuro no Aftermarket Automotivo Independente aumenta participação a cada ano e pode ter atingido 12% do total do parque circulante de automóveis no Brasil
Crédito: Shutterstock

A posse do automóvel já foi sinônimo de necessidade, investimento, status, comodidade e tantos outros atributos conforme diferentes conjunturas ao longo do tempo. Mas o mundo mudou – e muito. Não se trata de clichê. Com os movimentos disruptivos em curso no setor automotivo, cada vez mais o carro se consolida como sinônimo de mobilidade. Embora não seja, por enquanto, o único ou mesmo principal atributo associado ao automóvel, ao que tudo indica é o que mais ganha força. Pesquisas mostram que, em média, 45% dos Millennials acreditam que não é necessário possuir um carro, mas ter à disposição um meio de transporte; entre os mais jovens, a chamada Geração Z, o índice sobe para 55% – fazendo uma projeção de médio prazo, já estamos falando de um pensamento que envolve mais da metade da população, o que seguramente trará implicações em diferentes setores da economia, inclusive no Aftermarket Automotivo.

Esta nova equação fez surgir um serviço que só cresce em grande parte dos mercados globais: o carro por assinatura, hoje tido como a forma mais flexível de posse de veículos. E que ninguém confunda com a conhecida locação. A assinatura — ao contrário da locação diária ou por semana — é um contrato recorrente com prazo definido, que inclui uma série de serviços com mensalidade fixa. Ou seja, ideal para quem busca praticidade, previsibilidade de custos e um carro sempre novo, sem surpresas.

As perspectivas de expansão deste serviço impressionam. “De acordo com projeções da Roland Berger, o mercado de propriedade flexível – assinatura e leasing – deve crescer cerca de 8% ao ano até 2030 nos seis principais mercados europeus: França, Alemanha, Itália, Espanha, Países Baixos e Reino Unido. Dentro desse panorama, o leasing deverá evoluir em média a 7% ao ano, enquanto os serviços de assinatura crescerão impressionantes 25% ao ano. Com isso, o mercado total deverá atingir o valor de aproximadamente 94 bilhões de euros até o final da década”, diz o novo estudo Carro como Serviço – A ascensão da posse flexível de veículos, realizado pela Roland Berger. A consultoria não se debruçou sobre o mercado brasileiro, mas os números aqui também são impactantes. De segmento marginal em 2016, ano em que a modalidade ganhou efetivamente oferta e divulgação no país, os carros por assinatura respondem hoje por algo entre 10% e 12% da frota nacional – para mero efeito curioso de comparação, os eletrificados participam com 8% do total de veículos na frota circulante. O avanço é significativo, considerando tratar-se de um modelo de negócios que ainda dá os primeiros passos no país.

Dados da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla) indicam que a frota de veículos por assinatura saltou de cerca de 80 mil unidades em 2020 para mais de 300 mil em 2025. Em 2023, o setor cresceu 31,2 %, enquanto a locação tradicional avançou apenas 3,8 %.

Transformação cultural deu impulso à modalidade

Estes índices só se tornaram possíveis em razão de uma mudança cultural em curso entre os consumidores: a posse do veículo vem perdendo espaço para o uso. E aí voltamos ao conceito da mobilidade.

Cada vez mais, o que importa é chegar do ponto A ao B da melhor maneira possível, e isso não exige necessariamente um carro próprio. Muito pelo contrário, a modernização das cidades, especialmente das metrópoles, deve contemplar a integração entre diferentes modais de transporte.

Ao fazer as contas, muitos consumidores já enxergam uma vantagem nos planos de assinatura em relação à posse do veículo. Manutenção, seguro, licenciamento, impostos e assistência 24 horas são despesas já embutidas em uma única prestação mensal. Uma questão nem sempre citada, mas que também pesa, é a drástica redução da fidelidade do consumidor às marcas de veículos, consequência da imensa variedade de modelos oferecidos. Além disso, o assinante se livra da depreciação do capital investido na compra do carro próprio, que varia muito conforme o modelo – a Receita Federal considera uma taxa de depreciação de 20% ao ano. E a matemática das finanças pessoais não para por aí. Se a compra do carro for feita a vista, a desvalorização do bem soma-se à perda da rentabilidade do capital alocado para a compra. Se a transação se der por meio de financiamento, a taxa de juros aplicada na maioria das vezes supera o rendimento das aplicações. Como bem sabemos, o crédito no Brasil está cada vez mais difícil e caro.

E para fechar o contrato com chave de ouro, o assinante tem à sua disposição um carro 0km em média a cada dois anos, dependendo do plano escolhido. Ou seja, está sempre de carro novo e equipado com o que há de mais moderno em tecnologia. Para executivos, por exemplo, a assinatura proporciona conforto e imagem corporativa, inclusive com opções premium e blindadas. Enfim, uma proposta que a cada dia seduz mais consumidores. Como resultado, assistimos também ao crescimento da oferta e, em consequência, à redução de valores das mensalidades, que hoje podem começar em R$ 1.700 para os modelos de entrada. Das quase 22 mil locadoras que atuam no Brasil, cerca de 30% já oferecem serviço de assinatura. E, atentas à migração da posse do carro para o serviço de mobilidade, as montadoras não vão deixar este mercado promissor nas mãos das empresas de locação. Marcas como Stellantis, GM, Renault, Volkswagen, Mercedes-Benz, Mitsubishi, GWM e BYD também estão na briga.

No Brasil, em média as famílias têm optado por planos que variam entre 12 e 36 meses e a maioria dos assinantes está na faixa de 30 a 40 anos de idade, compartilhando características de estilo de vida urbano, alta familiaridade com serviços digitais e fluidez entre mobilidade e comodidade, reunindo profissionais autônomos, motoristas de aplicativos e executivos, conforme relata pesquisa da Infocar. Conforme avança a transformação cultural e o setor ganha escala, as perspectivas se ampliam. Segundo projeções da ABLA, o total de contratos vigentes no ano passado pode ter chegado a mais de 200 mil, com evolução para 300 mil em 2025, e a frota por assinatura subido para 12 % do estoque total das locadoras.

Posse flexível dos veículos passa por transformação na Europa

A assinatura de veículos é um serviço em expansão global, os números comprovam e disso poucos duvidam. Porém, segundo as conclusões do estudo Carro como Serviço – A ascensão da posse flexível de veículos, da Roland Berger, trata-se de “um mercado ainda fragmentado e opaco, com desafios significativos para todos os tipos de players — desde bancos das montadoras até empresas de financiamento independentes. Os valores residuais em queda, especialmente no caso de veículos elétricos (BEVs), estão pressionando o setor. Atualmente, observamos uma variedade de modelos de negócios, sem uma solução ‘tamanho único’. Cada player precisa de uma abordagem personalizada, tanto na sua oferta quanto na estratégia de crescimento, considerando seu modelo de negócio original, proposta de valor central e ativos existentes”.

O trabalho realizado pela consultoria apurou que “a posse flexível de veículos está passando por uma mudança notável na Europa — especialmente nos padrões de consumo privado. Três anos atrás, na pesquisa do Automotive Disruption Radar 12 da Roland Berger, 57% dos consumidores já indicavam interesse em modelos de posse flexível no futuro. Essa tendência só cresceu, impulsionada por diversos fatores:

  1. Pressão econômica

Com a situação econômica da Europa apresentando tendências recessivas, os consumidores estão sob crescente pressão financeira. Por isso, pagar uma mensalidade fixa é uma alternativa mais atrativa do que realizar uma compra de alto valor, que implica riscos financeiros e de depreciação.

  • Expectativas das novas gerações

Modelos de assinatura como Netflix e Spotify já fazem parte da vida cotidiana dos jovens. Essa geração espera a mesma flexibilidade de outros serviços — incluindo mobilidade e posse de veículos. A ideia de se comprometer por 5 anos com um carro parece antiquada para muitos.

  • Digitalização e canais online

Cada vez mais, os consumidores preferem comprar veículos pela internet. Em média, 18% dos consumidores nos 6 mercados analisados já demonstram essa preferência — chegando a 25% na Alemanha. Além disso, a afinidade com marcas diminuiu; os consumidores estão mais abertos a comprar de plataformas de terceiros que oferecem múltiplas marcas e modelos; e os canais online se tornaram o principal canal de aquisição para empresas de assinatura”. A Roland Berger também considera o crescimento da participação em vendas dos carros elétricos um fator importante de estimula aos planos de assinatura. “Isso porque eles permitem ao consumidor testar o carro elétrico por um tempo maior, sem os riscos associados à queda no valor residual, evolução tecnológica rápida e fim de subsídios públicos”.

Hoje, na União Europeia, as taxas de utilização de leasing e assinatura são mais elevadas na França, Alemanha e Países Baixos, indicando que esses mercados estão mais maduros para modelos de posse flexível. Já Espanha, Itália e Reino Unido ainda estão em estágios mais iniciais de adoção. As expectativas são de que o mercado continue crescendo, com taxa média de 4% ao ano nos próximos anos, sendo com predominância ainda do leasing, que apresentará crescimento estável, e os carros por assinatura em trajetória de rápida ascensão, puxada pela digitalização e mudanças no comportamento do consumidor. “A força dos players no mercado de propriedade flexível está relacionada à sua estrutura de origem — enquanto montadoras e concessionárias se beneficiam da reputação da marca e da rede de vendas, players independentes destacam-se por sua atuação em nichos e processos digitais inteligentes”, diz no relatório do estudo Jan-Philipp Hasenberg, Sócio Sênior, Roland Berger. A consultoria revela que o mercado de assinatura está em processo de consolidação e a maioria dos provedores ainda não opera com lucro, sendo necessário continuar investindo pesadamente em aquisição de clientes. Locadoras tradicionais estão entrando no mercado de assinatura com base em suas operações já estabelecidas. Operadoras puras de assinatura estão migrando para contratos mais longos (12 meses) e explorando novos segmentos adjacentes, a fim de escalar e alcançar rentabilidade. “No futuro, espera-se que as fronteiras entre leasing, aluguel e assinatura se tornem cada vez mais tênues”, prevê o texto


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