Fusca rebaixado: As modificações e a tradição do "besouro" no Brasil

Fusca rebaixado mantém acesa tradição do ‘besouro alemão’ no país

Somadas, páginas e grupos de redes sociais reúnem mais de 200 mil admiradores do veículo e mostram sua perpetuação cultura automobilística nacional.
O Fusca rebaixado é uma modificação muito popular no Brasil e ao redor do mundo inteiro.

Criado pela Volkswagen ainda na década de 1930, o Fusca é um dos carros mais populares do Brasil e do mundo – não apenas por sua história de grande sucesso, mas também pela maneira com que segue mexendo com a paixão dos amantes do automobilismo. Exemplo de sua teimosa contemporaneidade é a febre que cerca o Fusca Rebaixado, customização que reúne grande comunidade nas redes sociais.

Antes de nos debruçarmos sobre o cenário atual do ‘besouro’, porém, é fundamental que conheçamos o caminho que o veículo percorreu para atingir o status de queridinho máximo da população brasileira, o que acabou, consequentemente, transformando ele em um dos veículos favoritos para modificações, como o Fusca Rebaixado.

Antes do Fusca Rebaixado, a história do modelo no Brasil

O Fusca é um clássico da Volkswagen, presente em todos os continentes. Foto de Viena, na Áustria.

O veículo então batizado oficialmente de ‘Volkswagen Sedan’ passou a ser montado em terras brasileiras em de 1959, um ano depois do primeiro título mundial da seleção brasileira de futebol e, mais importante que isso, em meio ao grande plano de industrialização da nação comandado pelo presidente da República, Juscelino Kubitscheck.

Popularmente conhecido como ‘JK’, o presidente visava impulsionar a transição de um país de economia predominantemente rural para um local de indústria forte e, para tanto, deu atenção especial ao setor automobilístico, que intensificava à época a montagem de veículos em solo nacional.

Ao chegar ao Brasil em meio a essa ebulição urbana, o Fusca encontrou terreno fértil para se popularizar junto às massas e assim o fez muito rapidamente, levando apenas quatro anos para, em 1963, se tornar o automóvel preferido de 82,2% dos brasileiros.

Criado na Alemanha em 1935 com a pretensão de se tornar o ‘carro do povo’, o modelo cumpriu no Brasil toda a sua vocação ao não apenas ser o primeiro na preferência dos brasileiros, mas também o mais vendável dentre os modelos aqui presentes, unindo ‘aquilo que quer ser’ àquilo que se pode ter’, duas questões que nem sempre se alinham.

O feito se refletiu em números históricos. Durante 24 anos – de 1959 a 1982 – o Fusca liderou as vendas de veículos no país e simbolizou mais do que nenhum outro veículo a transição do automóvel individual no principal meio de transporte de uma sociedade que decidira ter no transporte rodoviário seu principal modal.

Em seu melhor ano de vendas, em 1974, o ‘besourinho’ vendeu 240 mil unidades no Brasil – superando em mais de 100 mil o volume total de 126 mil que havia alcançado em 1969, apenas cinco anos antes, e que parecia ‘imbatível’ para a época. Sinal dos tempos.

O sucesso do Fusca foi tão significativo e duradouro que o automóvel recebeu uma rara homenagem ‘em vida’, ou seja, antes mesmo de ter sua produção encerrada em nosso país.

Ainda em 1989, três anos após o encerramento de sua produção no país, o Fusca recebeu a honraria de ter uma data só sua no calendário brasileiro com a instituição do ‘Dia Nacional do Fusca’, anualmente comemorado no dia 20 de janeiro.

Fusca rebaixado e seu legado para a customização de automóveis no Brasil

Logo que passou a ser montado no Brasil, ainda na década de 50, o Fusca intrigou seus proprietários por uma espécie de semelhança que possuía com os veículos esportivos de competição da época.

A reação foi curiosa, ao passo que estima-se que a grande maioria desses proprietários talvez não soubesse que o besouro alemão foi projetado pelo famoso engenheiro automotivo austríaco – Ferdinand Porsche, o mesmo personagem que criou a luxuosa marca esportiva que carrega seu sobrenome como ‘marca’.

Inspirados pela associação com os carros de corrida, os proprietários do veículo no Brasil passaram a encontrar formas de aumentar ainda mais essa semelhança – intensificando algo ainda que ainda engatinhava no Brasil: a customização de automóveis.

Foi nesse período que ocorreu o surgimento do primeiro Fusca rebaixado, a partir da instalação de uma peça chamada catraca no quadro de suspensão do veículo – permitindo que esta fosse ajustada com os ‘dentes de regulagem’ da catraca.

Já nessa época, no entanto, descobriu-se que para que o veículo mantivesse sua eficiência de funcionamento e a durabilidade característica – era necessário que peças como batentes de amortecedor e batentes do eixo de suspensão estivessem em ótimo estado.

Além disso, o rebaixamento da frente do Fusca não deveria ultrapassar a linha de sua traseira – a fim de manter sua estabilidade e segurança da direção, bem como evitar que o automóvel ficasse desconfortável e ‘duro’.

Embora a tradicional instalação da catraca seja utilizada com frequência por diversos proprietários de Fusca, diversas outras opções de rebaixamento surgiram da metade do século XX para os dias atuais.

Pesquisando em grupos e comunidades de amantes do Fusca rebaixado, encontramos algumas dessas alternativas. Abaixo descrevemos de maneira resumida o mais popular entre eles.

Fusca rebaixado a partir do manuseio do feixe

Um encontro de fanáticos pelo Fusca Rebaixado. Vários veículos com a mesma modificação.

Diferente da maioria dos carros, o sistema de amortecimento do Fusca não é composto por molas e sim pelos ‘feixes’ – ou Facão, a essência do fusca rebaixado.

Nesse contexto, no lugar de ‘cortar as molas’ como se faz nos demais veículos, alguns proprietários de fusca optam pela retirada de alguns desses feixes.

Na dianteira dos Fuscas cuja a suspensão usam pivôs, existem dois conjuntos de dez feixes cada, sendo seis deles ‘feixes mais estreitos’ e outros quatro ‘feixes largos’ – colocados no tubo da suspensão.

A função do primeiro é fazer o papel das molas, ou seja, de amortecimento. Enquanto o papel do segundo é segurar os braços da suspensão.

Os proprietários dos veículos que já experimentaram essa prática de rebaixamento na prática afirmam que os feixes largos não podem ser mexidos em hipótese nenhuma, pois são eles os responsáveis por sustentar a suspensão.

Já os mais estreitos têm de ser retirados de maneira a rebaixar o nível da dianteira a no máximo 3 centímetros – a fim de manter a estabilidade e o conforto do automóvel.

Nesse método, tal como na instalação da catraca na suspensão, é fundamental a participação de um profissional especializado no manuseio do Fusca a fim de garantir a assertividade do processo para além da questão estética, priorizando a segurança do motorista na direção – assim como dos outros veículos que circularem na via.

Admiradores se juntam nas redes sociais para curtirem paixão pelo Fusca modificado

Outro encontro de Fusca Rebaixado. Várias unidades do modelo da Volkswagen presentes no evento.

Quando o Fusca foi criado pela montadora alemã Volkswagen na metade da década de 1930, antes mesmo da segunda guerra mundial, adventos tecnológicos pela internet estavam muito longe de existir.

A longevidade do veículo, no entanto, permitiu com que ele atravessasse as décadas de ‘mundo analógico’ que se sequenciaram à sua criação até chegar à era digital – na qual vivemos atualmente.

Nos dias atuais, admiradores e proprietários de Fuscas rebaixados trocam experiências, compartilham curiosidades, se ajudam na busca por peças e marcam grandes encontros via rede social.

Na rede social Facebook, por exemplo, dois grupos direcionados exclusivamente para o nicho do Fusca Rebaixado reúnem – juntas – mais de 5 mil integrantes.

Outra página da mesma rede social, nomeada de ‘Clube do Velho Fusca Rebaixado’ – reúne 1.600 pessoas interessadas em ver um conteúdo totalmente imagético de fotos de fuscas rebaixados sem nenhum texto de legenda acompanhando. Isso que é amor a ‘infinitas vistas’.

O queridinho do apaixonado por automobilismo também está presente em outras redes sociais como Instagram e Youtube.

Na primeira, uma página peremptoriamente nomeada de ‘Fusca Rebaixado’ conta com o expressivo montante de 6.800 seguidores.

Todos esses números consideram apenas os amantes do besourinho customizado. Se ampliarmos, porém, o escopo para o Fusca em geral – os fãs transgeracionais se acumulam em quantidade ainda mais impactante.

No Facebook o grupo ‘Apaixonados por Fusca’ reúne 134 mil participantes, enquanto – no Instagram – a página ‘Fusca Volks’ acumula 133 mil seguidores.

Linha do tempo do Fusca – da criação ao encerramento de sua produção no Brasil

O logo da Volkswagen e da cidade de Wolfsburgo, terra da marca alemã, no capô de um Fusca.

Como contamos um pouco no início desse texto, o Fusca tem uma história de ligação profunda com as raízes do automobilismo brasileiro – sendo, talvez, seu principal expoente na transição para a urbanização do país e a consolidação do automóvel individual como principal meio de transporte.

Mais do que apenas fazer parte como instrumento de um projeto intensificado por JK no final da década de 1950, o automóvel de origem alemã impactou ainda significativamente a cultura automobilística do brasileiro – mexendo com sua imaginação e o impulsionando a colocar sua ‘impressão digital’ em seu veículo a partir de sua customização.

Daí veio a consolidação do Fusca rebaixado – uma tentativa quase inocente de se tentar ‘imitar’ os carros esportivos de competição da época que hoje transcende até seu próprio modelo e leva sua influência para outros veículos que hoje tem o rebaixamento como marca registrada, tais como o Opala e o chamado ‘Gol quadrado’.

A fim de resumir em uma linha do tempo linear e de fácil visualização o caminho percorrido pelo Fusca até se tornar essa verdadeira lenda em solo brasileiro – com direito a data comemorativa de abrangência nacional, separamos alguns dos principais marcos dessa linda história – de 1935, ano de sua criação em solo alemão, até o ano de 1996 – período de encerramento da produção do ‘besouro’ em nosso país.

.Ano de 1935 – O Fusca é lançado na Alemanha pela Volkswagen a partir de um desenho do engenheiro austríaco Ferdinand Porsche – o mesmo personagem que daria origem à famosa de carros esportivos que carrega seu sobrenome. Na ocasião, o Fusca foi batizado pela ‘Volks’ de ‘o carro do povo’.

Ano de 1936 – Os primeiros Fuscas tinham a janela traseira bipartida e motor de 1.200 cilindradas

Ano de 1950 – Naquela época, os carros ou eram importados ou suas peças eram trazidas para serem montadas aqui. O Fusca verde da capa desta matéria mantém várias de suas características originais, inclusive a cor e a ausência de retrovisores externos.

Ano de 1953 – Mostrando sua vocação para ‘camaleão’, o Fusca altera sua estrutura – colocando quebra-ventos nas janelas laterais. Além disso, sua janela traseira bipartida é substituída por uma peça única em formato oval.

Ano de 1959 – É iniciada a produção brasileira do Fusca, cujo nome oficial era “Volkswagen Sedan”

Ano de 1961 – O Fusca segue se inventando e seu sistema de sinal deixa de ser a “bananinha” para ser incorporado ao pisca-pisca luminoso junto às luzes de freio.

Ano de 1963 – Quatro anos depois de passar a ser produzido no Brasil, o Fusca se torna o carro preferido de 82,8% dos brasileiros.

Ano de 1967 – Novas atualizações são realizadas no veículo e o novo motor de 1.300 cilindradas substitui o de 1.200.

Ano de 1968 – Os aros de suas rodas passam a ser vazados para melhorar a ventilação dos freios

Ano de 1970 – Enquanto o Brasil é campeão do mundo, o milionésimo Fusca brasileiro deixa a linha de produção e – em comemoração – se torna mais potente a partir da versão conhecida como ‘Fuscão’ que ganhou um motor de 1.500 cilindradas

Ano de 1974 – O Fusca vive seu apogeu e tem o melhor ano de vendas de sua história colocando 240 mil novos veículos nas ruas. No mesmo ano, ganha um motor de 1.600 cilindradas

Ano de 1979 – cerca de 1,5 milhão de unidades do Fusca saíram da fábrica direto para as ruas de nosso território durante os anos 70. Ao todo, foram fabricados no Brasil cerca de 3,3 milhões de besouros. Ao fim da década, suas lanternas ficam mais proeminentes e o carro ganha o apelido curioso de Fuscão Fafá – em referência à cantora Fafá de Belém

Ano de 1980 – Cem de suas unidades são montadas com as tampas do porta-luvas velocímetro e grades do painel na cor prata.

Ano de 1982 – O último dos 24 anos consecutivos em que o Fusca permaneceu na liderança de vendas do mercado automobilístico brasileiro – liderança alcançada ainda em 1959, primeiro ano em que o veículo passou a ser produzido de maneira local

Ano de 1983 – A Volkswagen finalmente adota o nome pelo qual o veículo foi chamado no país desde seu nascimento e o renomeia definitivamente como ‘Fusca’

Ano de 1984 – O Fusca ganha um volante espumado, rodas de 14 polegadas e um cinto de três pontas

Ano de 1986 – Sua produção é interrompida com 850 últimas unidades em um período no qual três a cada dez carros circulando pelo país eram Fuscas. Nessa época, o veículo contava com uma variedade maior de cores para a lataria e vinha com uma chave dourada.

Ano de 1993 – A ‘Volks’ retoma a produção do Fusca no Brasil a pedido do então presidente da República – Itamar Franco. Os carros produzidos nesse período ficam conhecidos como Fusca Itamar e em três anos foram vendidos mais 40 mil exemplares.

Ano de 1996 – A produção do Fusca no Brasil é encerrada por definitivo com os últimos 1,5 mil exemplares fazendo parte de uma série especial chamada série Ouro. Diferente dos ‘Fuscas Itamar’, estes tinham logo adicionado ao lado do bocal da gasolina, novas cores, porta-trecos, estofamento de luxo e volante do Gol da época.


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