Home office seguirá relevante no mundo pós-pandêmico -

Home office seguirá relevante no mundo pós-pandêmico

Pesquisas e especialistas são unânimes em afirmar que a evolução do trabalho remoto durante a crise sanitária servirá de pilar para modelos mais flexíveis de trabalho daqui em diante. Mudança resulta em menos carros nas ruas

Lucas Torres [email protected]

Os últimos dezesseis meses foram de adaptação e desafios para grande parcela da força de trabalho brasileira. Isso porque, embora o regime home office – em que as pessoas passam a exercer as atividades profissionais dentro de suas casas – estivesse longe de ser uma completa novidade no país, sua disseminação para os mais diversos segmentos ocorreu de forma muito mais acelerada do que empresas e trabalhadores estavam esperando.

De acordo com pesquisa da Fundação Instituto de Administração (FIA), apenas 43% das empresas ofereciam alguma opção de trabalho a distância, parcial ou integral, antes da pandemia. A mesma FIA constatou que, no segundo semestre de 2020, já em meio à pandemia do novo coronavírus, o índice saltou para 90% – mais que o dobro. O crescimento tão abrupto de um movimento cuja tendência apontava para uma implementação gradual não veio sem trazer certo grau de ansiedade para empregados e empregadores.

Do lado das empresas, uma das perguntas mais relevantes dizia respeito à possibilidade de manter um alto nível de produtividade sem a supervisão in loco por parte das lideranças. Já no âmbito dos funcionários, as preocupações se concentravam nos desafios para estabelecer uma rotina organizada o suficiente para que a casa servisse como um escritório apenas no horário de trabalho – mas que não perdesse a capacidade de gerar conforto e descanso, físico e mental, como um legítimo lar. As estatísticas mostram que os primeiros tiveram mais sucesso no alcance de seus objetivos do que os segundos. Levantamento conduzido pela Fundação Dom Cabral em março de 2021 relevou que mais de 58% dos respondentes consideraram ter ficado mais produtivos durante o período home office.

Em outro estudo, este focado apenas nos profissionais de Recursos Humanos (RH), a consultoria de gestão de pessoas Mercer Brasil constatou que 85% dos que trabalham neste setor aumentaram as horas da jornada profissional e que 79% acumularam mais carga de  trabalho.

Em contrapartida, ambos os estudos identificaram que tamanho ganho de produtividade comprometeu de maneira importante o bemestar dos trabalhadores. Na pesquisa da Fundação Dom Cabral, 49,6% afirmaram terem tido piora na qualidade de vida por questões como perda de convívio social, maior carga de trabalho e piora de comportamento por ausência de convívio. Já o survey da Mercer Brasil revelou que 64% dos profissionais de RH sofreram para lidar com a ansiedade no trabalho durante a pandemia.

Em entrevista exclusiva concedida ao Novo Varejo, o líder de produtos de carreira da Mercer local, Rafael Ricarte, afirmou que, embora a pesquisa tenha focado em um público específico, a percepção da empresa é que este sentimento é compartilhado por colaboradores dos mais diferentes segmentos.

Na opinião do executivo, no entanto, a análise sem contextualização dos impactos do home office na saúde mental das pessoas não faz justiça ao modelo de trabalho – uma vez que ignora o cenário atípico causado pela crise sanitária. “É preciso dizer que as pessoas não só tiveram de trabalhar em casa, mas de ficar em casa em todos os momentos. Normalmente, o regime home office é sinônimo de flexibilidade. E durante a pandemia isso não pode acontecer”, analisou Ricarte.

A contextualização proposta pelo porta-voz da Mercer Brasil alivia, de certa forma, a dicotomia entre saúde mental e produtividade do home office como regime de trabalho e, mais do que isso, oferece perspectiva otimista quanto à manutenção do modelo em uma sociedade pós-pandêmica. Validando essa percepção, levantamento divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) no último mês de maio estimou que o regime home office seguirá fazendo parte da realidade de cerca de 20,8 milhões de profissionais em atividade no Brasil, podendo ser adotado por 22,7% das ocupações, mesmo após a retirada das restrições impostas pela covid-19.

Essa noção é partilhada pelo consultor de negócios do Sebrae-SP, Adriano Augusto Campos. Para ele, o home office não cairá em desuso, mas sim ser somado ao ambiente físico a fim de oferecer maior flexibilidade em relação às jornadas, horários e locais de trabalho, no chamado modelo híbrido.

“Entendo que no curto prazo, e a depender da diminuição das restrições, parte das empresas deve estimular seus colaboradores a ampliar o contato presencial, mesmo que os times tenham se adaptado bem no trabalho a distância”, pontuou Campos, destacando a importância do local de trabalho como espaço de convivência social logo na sequência: “É possível notar que parte dos profissionais, sobretudo aqueles que moram sozinhos ou que não possuem ambiente tão adequado para trabalhar em casa, está demonstrando uma necessidade clara de ampliar as relações sociais e o trabalho é uma das maneiras disso acontecer”. Questionado sobre os impactos da aceleração da ‘experiência do trabalho remoto’ promovida pela pandemia em relação às empresas, o consultor do Sebrae disse acreditar que essa adoção forçosa do home office contribuiu mais do que para o amadurecimento da ideia no mundo corporativo local. “O que se percebeu é que o trabalho em home office não só deixou de ser um ‘experimento’ como demonstrou que é viável, vantajoso e flexível. Se bem trabalhado pelos gestores e suas equipes, pode trazer inúmeros benefícios em termos de produtividade, eficiência econômica e qualidade de vida”, analisou Campos. Na mesma linha do especialista do Sebrae, Rafael Ricarte disse acreditar que a aceleração do home office foi fundamental para promover amadurecimentos no campo da gestão empresarial ao mostrar para os líderes de perfil ‘mais controlador’ que é possível contar com uma equipe produtiva e responsável sem ter de adotar uma abordagem tão invasiva junto aos funcionários.


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