Do Portal FGV
O Indicador de Incerteza da Economia Brasil (IIE-Br), calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE), chegou ao mais alto nível da série histórica em abril deste ano, passando dos 200 pontos. O indicador é a conjugação do Indicador de Mídia (IIE-Br Mídia), que corresponde a 80%, com o Indicador de Expectativa (IIE-Br Expectativa), que representa 20%. O componente de Mídia, que tem peso maior no indicador, registrou importante aumento no mês de abril, saltando para 195,3 pontos, impactado pela pandemia de Covid-19.
Na prévia de maio, o IIE-Br Mídia mostrou uma certa acomodação (179,4). O movimento não foi muito diferente em outros 20 países acompanhados pelo Economic Policy Uncertainty Project, que calcula o índice de incerteza dessas nações, com metodologia semelhante ao IIE-Br Mídia da FGV. A maioria dos países analisados atingiu o pico da Covid-19 em março, quando houve aumento abrupto da incerteza, seguido de alguma acomodação. Mesmo tendo desacelerado em muitos países, o indicador se manteve historicamente elevado na maioria deles.
A comparação foi feita pela economista Anna Carolina Gouveia, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação (FGV IBRE), com o objetivo de compreender melhor o comportamento da incerteza no Brasil. Em março, houve forte incremento, com uma variação superior a 15 pontos em 16 dos 21 países pesquisados. Em abril, China (189,2), Rússia (178,4) e Singapura (163,4) foram os que tiveram nível de incerteza (Mídia) mais próximo do registrado no Brasil.
“Além da incerteza associada à pandemia de Covid-19, comum a quase todos os países, o Brasil conta com alguns fatores que impulsionaram ainda mais o indicador. Primeiro, o país apresentava um crescimento fraco mais de três anos após uma grande recessão e buscava reequilíbrio macroeconômico. A crise de saúde lançou grande incerteza sobre os próximos passos da agenda econômica. Em segundo lugar, enquanto em muitos países a pandemia motivou movimentos de união nacional, aqui a incerteza advinda do ambiente político também atingiu recordes em abril. Por fim, a própria evolução de número de contágios e mortes no país continua em fase ascendente nestes últimos dias”, ponderou Anna Carolina.
Se for considerado o percentual de elevação nos últimos 12 meses, o Brasil também aparece no topo da lista – o crescimento foi de 72,4%, seguido por Estados Unidos (63,7%), México (60,2%), Rússia (59,7%) e Coréia do Sul (43,4%).
Um ponto curioso entre os países analisados é que em alguns casos o pico recente da incerteza não foi durante a pandemia. A China, primeiro país a apresentar casos de Covid-19, já vinha de um ambiente de incerteza elevada desde o ano passado, em função principalmente da guerra comercial com os EUA. O Economic Policy Uncertainty Index (EPUI) para aquele país atingiu o nível máximo em dezembro de 2019. O Reino Unido viveu um grau de incerteza ainda maior que de agora em 2019, durante o período mais tenso do Brexit. O Chile experimentou níveis de incerteza próximos aos níveis atuais em novembro e dezembro do ano passado, por conta das manifestações que pediam melhorias sócio estruturais.
Aqui no Brasil, a pesquisadora e o economista Aloisio Campelo Jr., superintendente de Estatísticas Públicas do FGV IBRE, já haviam identificado nível elevado da incerteza a partir de 2015 – a média entre meados de 2015 até antes da pandemia ficou em 115,0 pontos para o IIE-Br (considerando os componentes Mídia e Expectativa), bem acima da média anterior a esse período, que foi de 98,5 pontos.
“Entre 2015 e o final de 2019, fatores de instabilidade interna foram preponderantes. Além de eventos econômicos como a recessão de 2014-2016, o país foi bombardeado por uma sucessão de problemas de natureza política como o impeachment, a crise do governo Temer, a turbulenta eleição de 2018 e a instável relação entre Executivo e Legislativo no atual governo. A incerteza elevada foi um dos fatores a colaborar para que o investimento produtivo não ganhasse tração depois de 2016”, analisou.