Laboratório de inovação do varejo une prática e teoria em favor da evolução -

Laboratório de inovação do varejo une prática e teoria em favor da evolução

Eduardo Tosta, coordenador do programa lançado por MDIC e ABDI, destaca segmentação conteudista e caráter experimentativo das atividades

 Por Lucas Torres ([email protected])

Com o objetivo de apresentar soluções tecnológicas e fomentar a cultura da inovação no varejo brasileiro, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) lançaram em junho o Laboratório de Inovação do Varejo (ProVa).

Com sede no Shopping Frei Caneca, na capital paulista, o Laboratório promoverá mais de 102 atividades ao longo de dois anos – como meetups, ciclos de design thinking, feiras e workshops – e pretende atender as necessidades dos pequenos, médios e grandes varejos do país com uma abordagem conteudista segmentada. Trata-se de uma aposta do governo federal para capacitar e recuperar o setor. O espaço abriga áreas de coworking, ilhas de tecnologias, salas de eventos e uma loja conceito em que o varejista pode vender seus produtos no shopping por um período determinado.

De acordo com o Coordenador de Comércio e Serviços da ABDI, Eduardo Tosta, tal abordagem só se tornou possível após um período de três meses de pesquisas e 57 entrevistas de profundidade com varejistas e presidentes de associações do setor que possibilitaram à agência angariar a percepção das necessidades dos diferentes portes.

Além do diferencial de segmentar o conteúdo, o ProVa tem como ponto forte a junção de teoria e experimentação. “A ideia não é apenas instruir e promover cursos teóricos, mas permitir ao varejista que aplique as soluções dentro do laboratório, em tempo real. Tudo isso, na nossa visão, contribui para que ocorra o processo sensibilização que é, sem dúvida, o ponto crucial para que um varejista saia do ponto de estagnação e passe a inovar”.

Somados às atividades no ambiente do laboratório, o ProVa realizará workshops e dinâmicas em outros estados do país – tal como Brasília (DF) e Belo Horizonte (MG), além de cursos na modalidade EaD, a fim de incluir o maior número de varejistas possível em seu programa.

Para conhecer melhor esta iniciativa inovadora, os detalhes sobre o programa e convidar os varejistas de autopeças a se engajarem na ação, a reportagem do Novo Varejo realizou uma entrevista exclusiva com Eduardo Tosta.

Novo Varejo – O Laboratório de Inovação do Varejo é um programa voltado para os empresários do setor varejista, mas majoritariamente organizado e concebido por uma agência ligada ao setor industrial. Como vocês chegaram a esse formato?

Eduardo Tosta – O projeto vem do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços que, com a intensificação do Fórum de Competitividade do Varejo, passou a ter um foco muito grande na busca por estratégias de modernização do varejo nacional como um todo. A partir disso, nos contataram sobre a possibilidade de entrarmos como parceiros no Laboratório de Inovação do Varejo (ProVa) e logo de cara aceitamos – inclusive colocando recursos a maior parte dos recursos.

 

NV – Na cadeia da reposição automotiva, por exemplo, muito se fala na necessidade de maior integração entre todos os elos – da indústria ao varejo, passando pelos distribuidores – mas o setor ainda não logrou um modelo de cooperação ideal desses participantes. De que forma a ABDI vê a importância dessa integração da indústria com o varejo e como ela pode impactar o desenvolvimento da economia do país como um todo?

ET – Na verdade essa ideia de integração já está no nosso radar há algum tempo. Hoje temos um limite muito fluido de onde se inicia a indústria e onde começa o serviço e o comércio. Inclusive, temos muitas indústrias já adentrando com força no mercado do varejo. Para termos uma economia competitiva em geral acredito ser necessário que todos os setores estejam fortalecidos e, sobretudo, inseridos na cultura da inovação. É benéfico para todos.

 

NV – O Laboratório de Inovação tem sua sede em São Paulo (SP), mas existe alguma proposta para expandi-lo para mais localidades do território brasileiro a fim de atingir o maior número possível de empresários do segmento?

ET – Claro que boa parte das atividades será realizada no ambiente do próprio laboratório, em São Paulo. Mas isso não significa que elas se restringirão a esse espaço, muito pelo contrário. Teremos atividades e workshops em Belo Horizonte, em Brasília, no interior de São Paulo e algumas outras localidades – por meio de parcerias com associações. Além disso, teremos capacitações realizadas a distância – com um curso de capacitação que visa atender aproximadamente 40 mil lojistas dos mais diversos nichos do varejo nacional.

 

NV – Como uma agência inserida no contexto da indústria e não necessariamente tenha uma intimidade profunda com as particularidades do mundo de varejo reuniu expertise para conceber as 102 atividades do ProVa?

ET – Antes de conceber as atividades disponibilizadas pelo ProVa fizemos uma pesquisa de campo por mais de três meses em que realizamos entrevistas de profundidade com cerca de 57 pessoas – dentre as quais estavam varejistas e presidentes de associações do setor – a fim de termos um diagnóstico completo das lacunas do varejo brasileiro, suas dificuldades e bloqueios. Toda essa fase de estudo nos permitiu direcionar as atividades especificamente para cada um dos diferentes grupos de varejistas.

 

NV – Comente um pouco mais sobre essa questão de diferenciação no conteúdo das atividades dos diversos grupos de varejistas existentes no mercado brasileiro.

ET – Os pequenos, por exemplo, necessitam das atividades que denominamos sensibilização. É o que chamamos de primeiro estágio, com o qual vamos tralhar com ferramentas mais simples de inserção à cultura da internet e das redes sociais – em uma espécie de familiarização gradual do pequeno varejista com essas ferramentas. Em geral, é o desconhecimento das funcionalidades da tecnologia que afasta o interesse do varejista mais simples para com a inovação. Por isso esse estágio de primeiro contato é fundamental para esse público. Em relação aos médios – aqueles que possuem de 10 a 20 lojas – temos um programa voltado à integração de canais. É fundamental que esse varejista saiba utilizar as ferramentas de vendas na internet de um modo que seu consumidor não perceba as fronteiras entre o digital e o físico a fim de que ele tenha uma experiência sem atrito. Esses varejistas, geralmente, já ultrapassaram o estágio inicial de iniciação à tecnologia e necessitam implementar alguns detalhes que lhes permitam dar o próximo passo na questão da experiência do cliente – que é fundamental. Por fim, direcionado para os grandes, temos atividades que os ajudam a direcionar corretamente seus recursos para montar uma equipe de inovação. Para esse grupo o foco é dar oportunidade de contatos novos – sobretudo com startups que podem acelerar o processo de inovação de formas específicas. Além disso, trabalhamos com eles a questão da motivação dos vendedores, do aperfeiçoamento do processo de controle de vendas e questões bem avançadas de tecnologia como, por exemplo, a realidade virtual.

 

NV – Muito se comenta no mundo do varejo sobre a falta de uma gama de formação específica para o setor, ao passo que a parte majoritária dos cursos técnicos e até os universitários prioriza uma formação mais voltada para a indústria. Você concorda com essa visão? Como o ProVa pode preencher um pouco desse vácuo existente?

ET – Existe sim uma lacuna na formação para o varejo. A gente vê até algumas iniciativas por aí, mas elas não são acessíveis a todos e acredito que não seguem o melhor modelo – ou pelo menos o mais atrativo. O ProVa tem a vantagem de ser 100% gratuito e de, mais do que isso, apostar em um modelo de experimentação prática. A ideia não é apenas instruir, promover cursos teóricos, mas permitir ao varejista que aplique as soluções dentro do laboratório, em tempo real. Tudo isso, na nossa visão, contribui para o que chamei de sensibilização que é, sem dúvida, o ponto crucial para que um varejista saia do ponto de estagnação e passe a inovar.

 

NV – Como os varejistas interessados em participar do ProVa podem se informar sobre as atividades oferecidas pelo programa?

ET – As ações são todas divulgadas no site do programa: www.provalab.com.br; nas nossas mídias sociais (facebook e instagram), além do trabalho de multiplicação realizado pelas associações parceiras do ProVa. O varejista pode buscar esses canais, observar a lista de atividades disponibilizadas e, havendo vaga, se inscrever.


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