Marketplace é a principal tendência para a comercialização de autopeças -

Marketplace é a principal tendência para a comercialização de autopeças

Rafael Campion, cientista de dados do Google, comenta os resultados da pesquisa e aponta rumos digitais para o mercado de reposição

Qual foi a principal conclusão do estudo em relação ao comportamento do consumidor de autopeças no ambiente online?

Todo ano pesquisamos no Google as principais categorias do varejo online. A categoria “autopeças” vem se tornando a cada ano mais importante. Há vários fatores para isso. Em primeiro lugar, com a crise as pessoas pararam de comprar automóveis e o segmento de autopeças foi beneficiado por esse cenário, as pessoas passaram a fazer mais manutenção nos carros que elas já têm. Temos uma frota no Brasil com idade razoavelmente avançada, o que também já demanda manutenção. E há uma questão no setor de autopeças que acaba influenciando positivamente o comércio online, que é o amadurecimento dos consumidores no ambiente digital. Nesse processo eles deixam de comprar simplesmente um smartphone ou um livro para consumir produtos de outras categorias em que antes eles não compravam no online, como, por exemplo, moda, beleza e autopeças. Nesse cenário, a compra de pneus se destaca porque é um produto que o consumidor conhece mais, é mais fácil comprar um pneu do que um amortecedor ou virabrequim. As pessoas acabaram por fazer essa compra online mais cedo do que outras autopeças.

 Há consagrados varejos vendendo os mais diversos produtos com sucesso na internet. Em relação às autopeças, em que estágio o segmento se encontra quanto a maturidade, disponibilidade de canais e eficiência das ferramentas?

Sem dúvida está no caminho certo. Uma questão muito interessante que impacta o segmento de autopeças é que, obervando grandes varejistas como Americanas ou Magazine Luiza, vemos que eles eram muito focados na venda de eletroeletrônicos. Mas o processo que está acontecendo agora no mercado como um todo é o foco nos marketplaces. Com isso, o site da Americanas está também vendendo outras lojas, quem entra na Americanas para comprar um móvel vai encontrar o produto sendo vendido no ambiente da Americanas por outro varejo. Esse processo de marketplace em que as lojas plugam outros varejos dentro do próprio site fez crescer também o interesse por autopeças.

Então é possível dizer que a principal tendência do comércio eletrônico de autopeças são os marketplaces?

Sim. Hoje vemos as lojas ingressando nesses grandes varejistas. Se o consumidor encontrar uma loja, mesmo que desconhecida, vendendo no site da Americanas ele ganha mais confiança para fazer a compra e ajuda também no desenvolvimento da categoria. Esse processo de marketplace está contribuindo para que diversas categorias, em especial autopeças, ganhem relevância no meio online. De certa forma isso é inevitável, o marketplace tem uma facilidade muito grande para disseminar o produto, é muito mais fácil do que você fazer uma loja própria.

 O mercado de reposição trabalha com produtos muito técnicos que exigem um profissional aplicador. Em geral esse mecânico não é receptivo à ideia de o consumidor levar a peça para a realização do serviço. Muitos entendem que essa característica pode representar um entrave para a expansão do comercio eletrônico de autopeças. Cruzando essa especificidade com os resultados da pesquisa, qual é a tendência para este setor no ambiente digital?

Você tem razão, os produtos técnicos acabam tendo um menor volume de buscas. Se a pessoa não conhece bem o item ela procura menos online porque quem faz a compra muitas vezes é o mecânico. Em produtos como acessórios, por exemplo, o consumidor conhece melhor, consegue identificar se é bom. Mas vale dizer que a pesquisa online para o setor acaba sendo muito importante até para o consumidor entender melhor o que o mecânico está fazendo, porque até pouco tempo atrás isso era uma caixa preta, o consumidor não tinha muita informação para conversar com o mecânico. Muitas vezes essas buscas ocorrem por conteúdo para o consumidor entender o que o mecânico está fazendo, por que está comprando aquele produto, se aquele produto está no preço certo.

Em comparação aos países da Europa e Estados Unidos, em que estágio se encontra o comércio digital de autopeças no Brasil?

O consumidor brasileiro antes comprava mais eletroeletrônicos, agora começa a comprar itens como roupas e também autopeças nessas novas categorias. A consultoria Forrester define os mercados em quatro fases, sendo a quarta fase relacionada à compra de produtos específicos, não tão padronizados quanto os smartphones, por exemplo. O Brasil está no momento de entrada na quarta fase, enquanto na Europa e nos Estados Unidos a gente já vê os consumidores mais prontos para essa mudança. Até porque nos Estados Unidos há varejistas que ajudaram muito nesse desenvolvimento e no marketplace, como eBay e Amazon. No Brasil já vemos vários marketplaces se desenvolvendo, e de certa forma para várias categorias, alguns varejistas entraram no mercado e colocaram dinheiro para mostrar que também dá para comprar outros produtos online, como móveis e moda. E também já há grandes varejistas fazendo isso para autopeças, como, por exemplo, o Mercado Livre.

É possível estimar um percentual de participação do varejo digital de autopeças no futuro?

Para autopeças especificamente não temos uma projeção. O que fizemos ano passado foi um estudo com a Forrester que apura a influencia do digital nas vendas efetivamente realizadas nos ambientes online e offline. A influência do digital no total de vendas do varejo hoje é de 25% e espera-se que aumente para 42% em 2021. Mas há diferenças muito grandes por categoria. No caso dos smartphones, por exemplo, hoje 75% das vendas já são influenciadas pelo meio digital. No segmento de moda, o índice é de 33%. O estudo não foi estendido para autopeças ou pneus, eu diria que são segmentos nem de perto tão influenciados quanto o de eletroeletrônicos, até porque existe o intermediário, que é o mecânico. Mas, sem dúvida, integram a mesma tendência do varejo como um todo, de praticamente dobrar a influencia digital até 2021.


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