Mercado de usados e seminovos reage em fevereiro -

Mercado de usados e seminovos reage em fevereiro

Levantamento realizado pela Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), entidade representativa do ramo de revendas de automóveis seminovos e usados, mostra dados positivos, com crescimento de 2,3% na comparação com janeiro.

Enquanto o volume de vendas de veículos seminovos e usados em fevereiro no Brasil aponta reação positiva no setor, diferentes aspectos gerados pela pandemia influem diretamente em cenários distintos da economia – o que é desafio para alguns, para outros pode representar oportunidades. São os dois lados da moeda, e tudo está interligado.

O principal ponto a considerar no balanço de mercado de fevereiro é a procura maior pelos automóveis seminovos, enquanto, para os carros novos, a tendência é de forte queda. “O carro usado subiu e o zero despencou. Está faltando produtos, as fábricas estão sendo obrigadas a dar férias coletivas”, diz o diretor comercial da AutoMAIA Veículos, Flávio Maia.

Levantamento realizado pela Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), entidade representativa do ramo de revendas de automóveis seminovos e usados, mostra dados positivos, com crescimento de 2,3% na comparação com janeiro.

Na outra ponta, a falta de semicondutores para suprimento de grandes montadoras é a pauta do dia. São basicamente chips utilizados em diversos componentes do carro, quando é fabricado, como controle de navegação e mecanismos de assistência ao motorista, entre um número crescente de aplicações – o automóvel médio pode ter entre 50 a 150 chips.

É uma ameaça para a produção de veículos, exatamente quando os mais importantes fabricantes em escala global vinham se refazendo das perdas nos negócios agravadas a partir do início da disseminação do coronavírus pelo planeta.

“O impacto da escassez de semicondutores é global, e não só no mercado de automóveis. Vai começar a afetar a rede de eletrodomésticos, por exemplo, entre outros inúmeros efeitos negativos na economia como um todo”, continua Flávio Maia.

Podem ser peças pequenas, mas de preponderância significativa na hora de montar um carro. São efeitos da COVID-19 antes até mesmo imponderáveis. Os componentes para a indústria automotiva são em muitos casos os mesmos necessários pela cadeia de eletroeletrônicos em geral.

Agora essa destinação é o que mais concorre com as necessidades na produção de um carro. Essa demanda, em alta, é um dos fatores que está fazendo quase zerar o estoque de semicondutores. Está travada uma batalha pelos chips, que no momento se mostram tão essenciais para a mobilidade quanto a gasolina.

O fechamento de fábricas de automóveis forçado pela pandemia, principalmente nos primeiros meses de 2020, levou os fornecedores de semicondutores a redirecionarem o escopo da produção para o mercado de smartphones, laptops e dispositivos de jogos, tablets, webcams, eletrodomésticos, entre outros, necessidades ampliadas para reuniões online, profissionais em home office, por exemplo.

“Quando as empresas automotivas se animavam novamente com a gradativa retomada das atividades, a indústria de semicondutores não pôde mais suprir integralmente a demanda inesperada, que aos poucos começou a retornar”, diz Flávio Maia.

O gargalo da cadeia de componentes afeta em cheio os negócios para os carros novos. Entre as principais marcas mundiais de automóveis, as formas de fabricação vêm sendo adaptadas, com reduções e paralisações nos trabalhos, interrupções em linhas de produção e perdas muitas vezes inevitáveis, que também põem em risco a própria sobrevivência de alguns modelos, muitos consagrados.

Os cuidados para contenção do coronavírus, em si, têm influenciado nesse quadro. Enquanto o Brasil se aproxima da marca de 270 mil mortos pela doença, fabricantes pelo país e no mundo anunciam medidas extremas para fazer frente à pandemia, e isso tem também impacto direto na produção de carros novos. Determinações de lockdown por inúmeras cidades agravam a situação.

Um reflexo que aparece na procura maior pelos carros usados e seminovos, que seguem em alta, frente à decaída dos zero quilômetro. “Com a escassez dos carros novos, uma perspectiva é que o preço aumente e, ainda que esse aumento não seja substancial, compradores podem ter que esperar mais para obter o veículo desejado”, pontua o empresário.

MOVIMENTO DE ALTA

Conforme balanço da Fenauto, no segundo mês do ano, foram 1.188.275 veículos comercializados, contra 1.162.057 anteriormente no Brasil. Também, no paralelo com fevereiro de 2020, as vendas chegaram a um resultado positivo de 15,9%. O acumulado de 2021 já alcança um total de 4,8% a mais que em 2020, quando o volume de vendas foi de 2.242.641 unidades. Até o momento, neste ano, foram 2.350.332.

Na avaliação do presidente da Fenauto, a retomada nas vendas pode estar relacionada ao cancelamento das festividades de carnaval, diante do aumento das ocorrências do coronavírus.

“E também se deve à estabilização da economia no mês, sem tantos compromissos financeiros como os que incidem em janeiro. A expectativa é que esse movimento positivo continue ao longo dos próximos meses, juntamente com o retorno gradativo das atividades da economia com o avanço da vacinação pelo país”, constata Ilídio dos Santos.

No caso específico de Minas Gerais, o incremento dos negócios no setor automotivo em fevereiro encontra outros motivos que também influenciaram para um cenário mais animador. Depois de impasse entre o Departamento de Trânsito de Minas Gerais (DETRAN-MG), financiadoras de veículos e bancos, no início do ano, devido ao aumento das taxas para a emissão de gravames, os carros financiados voltaram a ser liberados nas revendas de Minas Gerais.

“Os resultados de janeiro foram fortemente impactados por essa batalha entre os bancos e o DETRAN. Foram 15 dias sem comercializar carros financiados”, considera Flávio Maia. Com a situação resolvida, a atmosfera de fevereiro foi de otimismo, com projeção de bons resultados, o que agora se confirma.

No fim das contas, a produção global de veículos não deve retornar ao seu nível de 2019 antes de 2022. “Em relação aos semicondutores, o lapso da oferta deve ser amenizado a partir de, no mínimo, o segundo trimestre. Ainda assim, levará ainda um tempo para o setor se recuperar dos problemas gerados pela pandemia”, conclui Maia.


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