Por Claudio Milan
O acesso do mercado independente às informações técnicas é um desafio antigo e permanente para as empresas e os profissionais do mercado de reposição independente. Nos países desenvolvidos, a questão parece pacificada. Steve Flavin, presidente da unidade Automotiva do NPD Group nos Estados Unidos, destacou em entrevista exclusiva ao Novo Varejo que as entidades do mercado de reposição dos Estados Unidos atuam constantemente junto ao governo e ao poder legislativo para a preservação do direito à reparação. “Em 2022, 90% dos veículos serão equipados com algum dispositivo telemático. Isso significa que a informação desses carros será enviada para os fornecedores dos equipamentos originais. As concessionárias saberão quando seu carro vai quebrar, quando é hora de trocar o óleo ou como você dirige. Poderão fazer uma campanha só para você”. O NPD Group é parceiro de conteúdo da Editora Novo Meio. O direito à reparação está entre os assuntos que Steve Flavin abordou na entrevista.
Como está hoje o mercado de reposição nos Estados Unidos?
Fundamentos sólidos da indústria: idade da frota com tendência a envelhecer (média abaixo de 12 anos), número de carros em circulação aumentando, mais motoristas habilitados, menos sensibilidade do consumidor aos preços flutuantes da gasolina e mais carros entrando no “ponto ideal do mercado de reposição”: idade de 6 a 12 anos nos próximos anos. Esses fundamentos, juntamente com uma economia saudável e alta confiança do consumidor, são questões centrais para o sucesso no mercado de reposição dos EUA.
Quais são as principais semelhanças e diferenças entre o aftermarket automotivo dos Estados Unidos e do Brasil?
A principal semelhança são as cadeias de suprimentos complexas que apoiam um público consumidor para manter seus carros funcionando com segurança. E a necessidade consistente de reparo e manutenção automotiva nos dois países. A principal variação é a consolidação no mercado americano, do varejo ao serviço automotivo (rede de distribuição mais pulverizada no Brasil). Também parece haver uma porcentagem maior da cultura do it yourself (faça você mesmo) no mercado dos EUA.
Com base na experiência da NPD no Brasil, qual foi a característica do mercado no país que mais surpreendeu ou chamou a atenção da empresa?
A evolução da indústria. À medida que os mercados mudam, e à medida que a liderança planeja e desenvolve a estratégia para o futuro, há uma oportunidade de eficiência, colaboração e suporte da indústria que possibilita o compartilhamento de informações.
Quais conceitos e metodologias do mercado norte-americano poderiam ser aplicados ao mercado brasileiro para proporcionar aprimoramento?
Gerenciamento por categoria; colaboração entre distribuidor e fornecedor; padronização de peças e intercâmbio; educação do consumidor/usuário final; assuntos governamentais – união do mercado para entender e abordar questões legislativas e seus impactos no mercado de reposição.
O mercado norte-americano foi muito ativo na luta pela liberação do acesso do mercado independente às informações técnicas dos veículos, em ações como, por exemplo, o movimento Right to Repair. Essa questão foi resolvida? Qual é o cenário hoje?
A Auto Care Association continua a dar ostensivo suporte ao mercado de reposição em questões legislativas que podem afetar nosso setor. Nos dias 18 e 19 de setembro de 2019, profissionais de manutenção automotiva de todo o país se reuniram em Washington para participar da Cúpula Legislativa do Auto Care de 2019. O evento consistiu em briefings aprofundados sobre as questões políticas mais prementes do setor e reuniões presenciais com membros do Congresso e sua equipe. Pela primeira vez, a Cúpula ocorreu em conjunto com o evento que reuniu as lideranças da Auto Care Association – estiveram presentes 300 líderes do setor para vários dias de reuniões de comitês e networking.
Uma característica marcante do aftermarket automotivo americano, segundo sua apresentação no recente Seminário da Reposição Independente, é o crescimento constante, seja com economia forte, seja com a economia fraca. Qual é o segredo para esse desempenho?
Existem vários fatores. Muitas empresas líderes nos EUA continuam a se conectar com o consumidor e a investir em suas marcas e no setor. Além disso, outros fatores merecem considerações. Primeiro, as ações para educar os consumidores sobre os benefícios relevantes dos cuidados com o carro; segundo, entender as necessidades dos clientes fornecendo conceitos inovadores que ajudam a manter os veículos em circulação e, finalmente, fornecendo produtos premium que agregam valor adicional ao consumidor.
A informação que temos no Brasil é que nos Estados Unidos o e-commerce de autopeças implantado pela Amazon sofre com uma taxa de 30% de devolução de produtos por erros na compra. Qual sua opinião sobre as perspectivas do comércio eletrônico de autopeças? E quais produtos têm mais futuro nesse canal?
O comércio eletrônico está mudando a maneira como os consumidores compram, independentemente da categoria. A indústria continuará refinando a experiência de compra. Até o momento, vemos o crescimento nas vendas online de algumas peças específicas, como freios e componentes elétricos, entre outras categorias. A entrega rápida e outros ajustes atrairão o consumidor do mercado de reposição. Além disso, itens como acessórios internos e externos, em que o portfólio no comércio eletrônico é quase ilimitado, irão prosperar.
