Mercado Livre avança nas vendas B2B após conquistar o dono do carro -

Mercado Livre avança nas vendas B2B após conquistar o dono do carro

Responsável pelo aftermarket automotivo no gigante do e-commerce argentino detalha visão e próximos passos da plataforma

Por Lucas Torres, direto de Buenos Aires

Os players do mercado automotivo, sejam eles montadoras, fabricantes de autopeças ou membros de outros elos da cadeia, terão de se acostumar: a competição não é mais apenas interna. Afinal, será preciso cada vez mais conviver com a presença de empresas de tecnologia interessadas em uma fatia deste bolo.

Com um dos estandes mais movimentados da Automechanika Buenos Aires 2024 – realizada entre os dias 10 e 13 de abril –, o Mercado Livre sinalizou mais uma vez aquilo que quem trabalha no aftermarket já percebeu: a plataforma vê o setor como um dos pilares de sua estratégia.

Nesta entrevista exclusiva para o Novo Varejo concedida durante a feira, o responsável pelo segmento da empresa na Argentina, Rodrigo González, afirmou que as autopeças representam aproximadamente 13% do faturamento total do Mercado Livre – volume que permite que a plataforma tenha cerca de 10% do marketshare deste setor nos países em que atua na América Latina. González afirmou, ainda, que as pessoas físicas são os principais clientes do Mercado Livre, representando 97,3% dos compradores.

Os planos da gigante do e-commerce, no entanto, preveem alteração deste cenário em breve. Para tanto, o Mercado Livre está prestes a inaugurar uma nova unidade de negócios B2B para o aftermarket automotivo. “Vemos um potencial muito grande nas vendas para empresas do setor. Isso porque, mesmo com o fato delas representarem apenas 2,7% do nosso total de compradores, elas já são responsáveis por 27% do nosso faturamento com autopeças”, afirmou o executivo. Confira a íntegra da entrevista a seguir.

Novo Varejo – O que o mercado de autopeças representa para o Mercado Livre hoje?

Rodrigo González – Hoje em dia representa entre 12 a 13% de todo o faturamento do Mercado Livre. E, se falarmos a respeito de nosso marketshare nos países em que atuamos na América Latina, vemos que o Mercado Livre começa a representar mais ou menos 10% do mercado.

NV – Dentro deste faturamento, há algum tipo de peça que se destaca em relação às demais?

RG – Sem dúvida. Um exemplo disso é a categoria de amortecedores, que representa entre 25% e 30% de todo nosso faturamento neste setor. Isso mostra, principalmente, uma mudança no comportamento do consumidor detentor da propriedade do carro. As pessoas físicas. Mas por que isso acontece? Em nossas análises, vemos que o Mercado Livre está se consolidando não apenas como uma referência de preços ou de qualidade e quantidade de produtos. Nós tivemos um incremento importante de visitas no comparativo ano a ano desde que criamos ferramenta de compatibilidade. Com ela, começamos a facilitar a compra das pessoas que não têm conhecimento técnico de autopeças e não sabem, por exemplo, qual amortecedor é o ideal para o seu modelo de veículo. Nessa funcionalidade, é possível incluir a marca, o modelo, o ano e a versão do carro e ver se ele é compatível com a peça em si.

NV – Os reparadores geralmente são os principais clientes das lojas tradicionais de autopeças. Como eles têm se relacionado com o Mercado Livre?

RG – Ainda são minoria, mas já têm uma relevância importante para nós. Isso porque, embora representem apenas 2,7% dos compradores, são responsáveis por 27% do faturamento total do segmento de autopeças. Este percentual está crescendo progressivamente, principalmente pelo fato da nossa entrega hoje em dia ser muito rápida. Queremos avançar ainda mais, por isso estamos criando uma nova unidade de mercado chamada ‘Venda B2B’, na qual estamos analisando o que temos de melhorar internamente para tornar ainda mais atrativa a experiência de consumo dessas pessoas que compram por volume. Uma das iniciativas que já avaliamos e estamos prestes a implementar é incentivar que vendedores inseridos em nossas plataformas passem a publicar anúncios de kits. Ou seja, uma venda ‘casada de peças’ de alto giro para tornar o preço mais vantajoso para quem compra.

NV – Qual é a lógica dessa iniciativa? A venda no modelo de kits baratearia o custo para o reparador que vai comprar no Mercado Livre?

RG – Hoje em dia, quando um vendedor faz uma publicação, ele coloca o custo de envio do produto. Ou seja, se o cliente comprar cada peça separadamente, irá pagar este custo múltiplas vezes. Em contrapartida, ao adquirir por meio de um kit, ele irá arcar com esse custo apenas uma vez.

NV – Como são tratados os produtos de giro mais vendidos na plataforma?

Rodrigo González – É o caso dos amortecedores que falamos há pouco. Vale dizer, inclusive, que, quando nos referimos à unidade de ‘autoparts’ do Mercado Livre, nos referimos também ao segmento de lubrificantes. Então, também temos esses produtos e tudo o que está vinculado à troca de óleo, como o filtro. Basicamente, o que avaliamos é: quais são as partes do veículo que têm uma venda mais recorrente? Como garantir que o consumidor final ou o reparador profissional possa comprar melhor esses itens conosco? Temos, claro, a questão da compatibilidade que nos permite vender produtos com maior complexidade de aplicação. Mas os produtos genéricos ainda nos dão uma flexibilidade maior, inclusive nessa questão dos kits que eu citei anteriormente.

NV – Como a participação na Automechanika Buenos Aires se encaixa na estratégia de expansão do Mercado Livre no segmento de autopeças?

RG – Nosso principal objetivo na feira é, primeiro, nos apresentarmos frente ao mercado como, agora sim, uma plataforma que vende e cada vez vende mais autopeças a todos os tipos de consumidores. Hoje em dia já representamos no mercado um bom peso no faturamento. Então, queremos salientar essa mensagem por aqui. Somos uma plataforma que quer participar cada vez mais desse mercado e ter cada vez mais marcas, mais vendedores, se animando com a ideia de vender no Mercado Livre. Inclusive porque nossa empresa é, claro, uma plataforma de compra e venda, mas também oferece soluções de pagamento por meio do Mercado Pago, que é uma plataforma facilitadora de transações com funcionalidades como escaneamento de QR Code e etc. Também queremos apresentar soluções novas, como a possibilidade de que empresas desenvolvam conosco seus e-commerces próprios, fora do Mercado Livre. Em resumo, mostrar a todos que somos um aliado da omnicanalidade, integração de ambiente físico e digital que, se antes era uma tendência, hoje já é uma realidade e, diria, até uma exigência.

NV – Como o Mercado Livre tem visto a quebra da antiga cadeia tradicional de venda. Vocês têm recebido demanda de marcas querendo vender na plataforma de vocês sem um intermediário?

RG – A realidade é que sim. Hoje em dia estamos percebendo que há fabricantes que estão querendo vender, que há importadores que não só estão querendo vender, mas que já estão vendendo definitivamente, saltando um pouco a cadeia como você disse. Mas estamos trabalhando para garantir a sustentabilidade do mercado como um todo com ações como a que chamamos de ‘marcas exclusivas’. Por exemplo, um importador que traz uma marca de fora pode vender no Mercado Livre, uma marca que só vai ser comercializada na nossa plataforma. Com isso, protegemos aquilo que a gente chama de mercado tradicional, o offline. Os dois não vão competir diretamente. É a nossa forma de dizer ‘não pulem a cadeia tradicional. Continuem lá. Mas, se quiserem fazer algo diferente, como uma alternativa complementar, podem vender no Mercado Livre sem prejudicar a cadeia’. Dito isso, é preciso que sejamos sinceros: a realidade é que as margens atuais estão se apertando por todos os lados, tanto no Off como no On. Esse cenário faz com que o importador comece a buscar vender direto porque é uma forma mais rentável de atuar.

NV – O mundo ideal para o Mercado Livre é que a plataforma coexista com a cadeia tradicional do aftermarket? Pergunto por que alguns varejistas, por exemplo, se sentem ameaçados com o avanço de vocês.

RG – Sem dúvida nenhuma. Existem várias coisas que impulsionam ou reprimem uma venda. O preço, o crédito e o valor do dinheiro em si. Portanto, quando falamos de Argentina, não é difícil ver que o cenário não está tão favorável. Como resultado, as vendas no offline estão caindo de maneira robusta. Desde que a recessão se instalou por aqui, vimos que as vendas nas lojas físicas caíram entre 25% e 30%. Por outro lado, o faturamento do Mercado Livre segue crescendo nesta categoria de autopeças. É preciso que o mercado nos veja como aliados, não como competidores. Conosco, as empresas podem mitigar os impactos desses momentos mais difíceis e manterem-se em funcionamento. Para mim, o papel mais lindo do Mercado Livre é ser um complemento. Uma loja pode ficar aberta, por exemplo, das 9h às 18h, mas seguir comercializando seus produtos noite afora na nossa plataforma. Vender tarde da noite e ter seus produtos despachados já no dia seguinte. Esse é o nosso mindset: de cooperação. É importante para nós que o mercado compartilhe dele.

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