Mesmo com retomada da oferta, inflação do aço persiste e pressiona setor automotivo -

Mesmo com retomada da oferta, inflação do aço persiste e pressiona setor automotivo

Contratos de siderúrgicas como a Usiminas com o segmento receberam reajustes de 40% desde janeiro de 2021. Desvalorização cambial é um dos motivos

Lucas Torres

[email protected]

O desabastecimento de matérias-primas e insumos industriais para a produção de carros e autopeças se colocou como uma das principais consequências da pandemia do novo coronavírus para o setor automotivo brasileiro desde o início da crise sanitária no país, em meados do mês de março de 2020. Prestes a completarmos 12 meses de imersão na realidade da covid-19, no entanto, a pauta da escassez de produtos – outrora protagonista absoluta – começa a ganhar status de ‘preocupação secundária’ dos varejistas da reposição automotiva, que já passam a eleger a inflação como principal fator de pressão para a sustentabilidade de seus negócios no momento atual https://novovarejoautomotivo.com.br/wp-content/uploads/2021/02/NV-319-SITE.pdf?x93805

Economista sênior da consultoria internacional Prospectiva, Adriano Laureno aponta a escalada do IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) ao longo deste período de um ano como o principal reflexo deste ambiente de alta pressão inflacionária sobre os insumos industriais que acaba, inevitavelmente, desembocando nos varejistas, na ponta da cadeia.

“O IGP-M, que é um índice de inflação com peso maior para os insumos industriais que o IPCA, chegou a 25,7% em janeiro, no acumulado de 12 meses”, afirmou Laureno (veja a entrevista na íntegra na página 8).

Longe de ser coincidência, o patamar alcançado pelo IGP-M conflui com a alta dos preços das autopeças apontada pelos varejistas ouvidos pelo Novo Varejo em sua última edição.

Na ocasião, empresários do segmento como Flávio Ramos, da Ramos & Copini – distribuidora e varejista de autopeças com atuação no Rio Grande do Sul – estimaram uma alta de 20% nos itens em geral.

“Esta é nossa maior preocupação. No caso do desabastecimento, mesmo em seu ponto mais alto, conseguíamos buscar alternativas para compor o estoque. Já com a alta dos preços a este nível, não há para onde correr”, relatou Ramos.

Indústria do aço aumenta produção para atender o mercado nacional

A diminuição da preocupação dos players dependentes da matéria-prima quanto ao desabastecimento generalizado do setor automotivo se refletiu no balanço divulgado pelo Instituto Aço Brasil no último dia 22 de fevereiro.

Em nota, o Instituto posicionou o mês de janeiro de 2021 como um dos mais aquecidos do setor siderúrgico nos últimos anos ao apontar alta de 10,8% na produção brasileira de aço no período em relação ao primeiro mês de 2020, quando a pandemia sequer havia aterrissado em solo brasileiro.

Além do aumento da produção, o momento de alta do aço dentro do país foi ilustrado pelo salto de 24,9% das vendas internas no comparativo entre os janeiros e uma queda na exportação de 52%, em volume de aço, durante o prazo da amostra.

Em resumo, as siderúrgicas estão não apenas produzindo aço com maior intensidade, mas também mantendo uma parcela maior de sua produção no mercado local.

O cenário atual destoa significativamente do observado em 2020, quando, segundo o Instituto Aço Brasil, o setor siderúrgico chegou a operar com apenas 45% de sua capacidade instalada, perdendo a capacidade de atender a demanda do mercado interno.

Maior disponibilidade do insumo não é suficiente para reduzir os preços do aço no país

Mesmo diante de um maior equilíbrio da relação oferta-e-demanda, relação que, quando desequilibrada para o lado da falta de oferta se apresenta como uma das principais causas de aumento de preços, a pressão inflacionária segue sendo refletida no preço pelo qual o aço tem sido adquirido pela indústria automotiva.

De acordo com o diretor comercial da Usiminas, Miguel Homes Camejo, os contratos da empresa para fornecimento de aço ao setor automotivo foram reajustados em robustos 40% desde o último mês de janeiro, em uma medida que, segundo ele, reflete os desequilíbrios contratuais de 2020, quando a empresa teve de absorver parte dos custos gerados pela alta mundial das commodities a fim de atender o mercado de automóveis nos termos acordados previamente.

Em uma notícia ainda menos reconfortante para as empresas da cadeia de automóveis, seja no âmbito da reposição ou das montadoras, Camejo afirmou que novos reajustes (para cima) estão previstos no segundo bimestre.

Os desequilíbrios absorvidos pela Usiminas e demais siderúrgicas brasileiras relatados por Camejo, advém – na análise do economista Adriano Laureno – da desvalorização cambial sem precedentes enfrentada pelo real no último ano.

“Como os preços do minério de ferro e das demais commodities são formados no mercado internacional e em dólar, é inevitável que a desvalorização se traduza em uma pressão inflacionária sobre os setores que utilizam esses insumos”, apontou Laureno, antes de complementar apontando para a forte retomada da economia chinesa pós-covid como determinante para elevar os preços do aço, já que, principal importador do insumo, o país passou a conceder incentivos fiscais vantajosos para empresas dispostas a exporta-lo ao seu território.

Sem fazer cerimônia, Miguel Homes Camejo, da Usiminas, admitiu que a ‘prioridade’ dada ao mercado nacional, exposta nos dados do Instituto Aço Brasil, não chegou sem um preço adicional.

Segundo ele, na hora de negociar com empresas locais, qualquer siderúrgica brasileira tem estabelecido uma espécie de ‘taxa-prêmio’ de 10% acima dos valores internacionais.


Notícias Relacionadas