Mortes no trânsito seguem avançando no Brasil -

Mortes no trânsito seguem avançando no Brasil

Falta de manutenção estruturada ocupa o centro do problema
Crédito: Shutterstock

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é, entre todas os países do globo, o terceiro que mais sofre com acidentes fatais no trânsito – ficando atrás apenas de China e Índia neste ranking perverso. Em 2022, ano do último levantamento oficial do Ministério da Saúde, o número de mortos foi de cerca de 34 mil.

A preocupação com o tema não é nova. Exemplo disso é o fato de que, em 2024, celebramos os 10 anos da criação da campanha ‘Maio Amarelo’, criada para conscientizar condutores e pedestres quanto às boas práticas de prevenção e cuidado no trânsito. Apesar de ser um velho conhecido das autoridades nacionais, porém, o problema está longe de encontrar uma solução. Pelo contrário. No lugar de iniciar um movimento de redução, os dados de acidentes de trânsito seguem escalando ano após ano. Em seu primeiro levantamento de 2024, por exemplo, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) registrou um aumento de 12% no número de mortes no trânsito no estado durante o primeiro quadrimestre do ano em relação ao mesmo período de 2023.

Quadros parecidos têm sido vistos também em outros estados. Como no Paraná, onde a alta de mortes nas rodovias subiu 7% no comparativo anual que mede o período entre janeiro e abril, e no Rio de Janeiro, que em 2023 teve alta de 20,9% no número de pessoas feridas no trânsito em relação a 2022. As causas da dificuldade de ao menos estancar a escalada no país são diversas e passam, claro, pela educação no trânsito e pela severidade das leis que punem imprudências como o uso de álcool ao dirigir. Neste tocante, aliás, vale dizer que o Brasil tem avançado. De acordo com o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), desde a introdução da Lei Seca no país, há pouco mais de 15 anos, o número de mortes causadas pela combinação álcool e direção teve uma redução de 32%.

Falta de manutenção estruturada ocupa o centro do problema

Os avanços vistos no âmbito da educação da sociedade e punição ao consumo de bebidas alcoólicas antes de dirigir, no entanto, não encontram confluência em outras atitudes fundamentais para a segurança no trânsito. Neste contexto, um dos pontos mais críticos, segundo dados da Polícia Federal (PF), é a grande presença de carros em mau estado de conservação – fator que o órgão aponta como causa direta de 30% da causa de acidentes nas vias brasileiras.

Na verdade, é um tanto subjetivo mensurar o real número de acidentes resultantes da falta de manutenção. Afinal, seriam necessárias perícias minuciosas e apurações técnicas que, em geral, não acontecem. Mesmo assim, o percentual apontado pela PF reacende um sinal de alerta já há muito tempo dado pela Organização PanAmericana da Saúde (OPAS) que, ao oferecer uma cartilha para diminuir o impacto dos acidentes de trânsito na região, indicou a segurança dos veículos como um dos principais riscos à vida de condutores e pedestres.

Ao repercutir o tema na última Automec, o presidente do Sindirepa Brasil, Antonio Fiola, salientou a importância da inspeção veicular obrigatória e a criação de uma cultura de manutenção preventiva como medidas de prevenção aos acidentes de trânsito – sobretudo considerando o fato da frota nacional ter alcançado sua maior média de idade (10 anos e 10 meses) nos últimos 25 anos.

Na ocasião, o Secretário Nacional de Trânsito, Adrualdo Catão, reafirmou o compromisso do estado na avaliação e implementação de medidas nessa direção. “Não vamos fugir. A inspeção veicular é um tema complexo, mas que tem grande impacto na redução de emissão de gases e na segurança do trânsito. Estou me comprometendo a encarar este tema”, afirmou, arrancando aplausos dos presentes na abertura do evento. Passado mais de um ano da Automec, porém, dirigentes como Fiola afirmam não terem visto avanços concretos na implementação de políticas em prol da garantia do bom estado da frota brasileira. E, por essa razão, reforçam as demandas do setor neste sentido. “É uma luta que estamos travando há décadas, fizemos muita mobilização e conseguimos implantar a inspeção ambiental na cidade de São Paulo, que obteve ótimos resultados, mas, infelizmente, questões políticas inviabilizaram a continuidade do projeto, o que foi muito prejudicial para a população na cidade. A ideia, na época, era implantar a inspeção técnica também para verificação de outros itens do veículo, como acontece em outros países”, afirmou Antonio Fiola.


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