Mulheres líderes avaliam igualdade de gênero no aftermarket automotivo -

Mulheres líderes avaliam igualdade de gênero no aftermarket automotivo

No mês que abriga o Dia Internacional da Mulher, executivas apontam vitórias e barreiras ainda a serem transpostas no setor

Lucas Torres [email protected]

Comemorado anualmente em 8 de março, o Dia Internacional da Mulher diz muito mais sobre a luta de direitos por igualdade entre os gêneros. Afinal, a gênese da data está na história de um incêndio ocorrido numa fábrica de tecido na cidade de Nova Iorque, em 1911, no qual 125 mulheres morreram pelo fato de os proprietários terem trancado o estabelecimento a fim de evitar greves e motins.

Em 2022, mais de um século após o acontecimento, boa parte da sociedade já evoluiu significativamente no que diz respeito à igualdade de gênero – no Brasil, por exemplo, já são 90 anos que as mulheres têm direito a voto direto com mesmo peso que os homens – é difícil acreditar que um dia foi diferente.

Quando analisamos a fotografia dos profissionais que compõem a força de trabalho do setor automotivo no Brasil, porém, nos deparamos com uma configuração que sugere a necessidade de avanços robustos até que possamos classificar o setor como um ‘ambiente plural’. Embora as mulheres tenham aumentado suas presenças nas empresas no âmbito geral, isso não se traduz nos estratos de nível hierárquico. Exemplo disso é o fato de que, segundo pesquisa da MHD Consultoria, elas representam 40% dos funcionários de nível aprendiz do setor – e respectivos 18% e 15% quando falamos de postos de gerência e de vice-presidência/presidência. Outra questão emblemática é que as profissionais do setor têm de, em geral, estar mais preparadas do que os homens para quebrar as barreiras de entrada: 33% das mulheres atuantes no mundo automotivo possuem nível superior completo, contra apenas 21% dos homens. Talvez ainda mais marcante, é que, a despeito disso, estas profissionais recebem salário 23% inferior ao dos homens. Os números mostram, em suma, que o caminho é longo. A realidade, em situações pontuais, porém, aponta caminhos de profissionais que romperam todos estes obstáculos para serem bem-sucedidas. A fim de apreender a visão destas personagens sobre o posicionamento da mulher no setor automotivo atual, bem como inspirar outras mulheres a ingressarem no segmento, convidamos algumas das profissionais que fazem a diferença no dia a dia de suas empresas para uma reflexão. A cada uma destas profissionais foi pedido que desenvolvessem a questão: “Como você vê o espaço das mulheres no aftermarket automotivo na atualidade? Quais barreiras ainda precisamos transpor para criar um ambiente mais plural e igualitário?”.

Confira a seguir o resultado desta roda cheia de insights e substância:

Dirce Boer – Diretora Executiva da DMC “As mulheres estão ocupando espaço e posição de liderança cada vez maiores nas empresas e nos negócios. No aftermarket automotivo não tem sido diferente. Acredito que, neste segmento, com um histórico de ambiente essencialmente ocupado por homens, isto se deve à capacidade agregadora que elas têm ao liderarem equipes. Pois, dentre outras qualidades, valorizam os subordinados pela competência e não somente pelo seu gênero, se é masculino ou feminino, para definir se tem os atributos necessários para uma determinada tarefa. As barreiras ainda existem, mas muita coisa mudou. É possível notar o grande número de mulheres que atualmente ocupam cargos de destaque com absoluta competência neste segmento. Pudemos acompanhar a evolução de muitas delas que, após exercerem lá no passado a função de promotoras de vendas, evoluíram e hoje são gerentes em grandes empresas. O mercado reconheceu as suas habilidades e atualmente elas são referências neste setor

Camila Rocha – Diretora de Marketing e Comunicação da BorgWarner “As conquistas, dificuldades e superações das mulheres no aftermarket automotivo vêm de longa data, há muito que ser comemorado ao olhar pra trás e ver como vencemos ao longo do caminho, mas, claro, ainda há muito a ser debatido sobre este assunto e muitos pontos que ainda necessitam de atenção, pois eles criam obstáculos para o desenvolvimento de uma sociedade igualitária. Entender a importância da participação das mulheres no mercado vai além da equidade de direitos e deveres. A igualdade de gêneros é essencial para o desenvolvimento da sociedade e a expansão da economia mundial. A pauta já é, inclusive, uma das metas estabelecidas em conferência do G20. Organizações como a BorgWarner – que prezam pelo desenvolvimento e oportunidades igualitárias para todos e têm, em seus valores, a preocupação com a inclusão – contribuem decisivamente para esta mudança de cenário, para o avanço das mulheres em posições de liderança, no combate à desigualdade de gênero, ao assédio, e aos preconceitos em relação à qualificação das mulheres para determinados postos de trabalho. Ainda temos desafios em um setor majoritariamente masculino, mas seguimos quebrando o preconceito e inspirando outras mulheres e meninas a lutarem por seu espaço e continuarem esta luta de estar em qualquer lugar em busca de uma sociedade mais igualitária”.

Poliana Zimermann – Coordenadora de Marketing ZM “Ainda de maneira lenta, porém evolutiva, as mulheres vêm ocupando cargos dentro do setor automotivo que até poucos anos eram restritos aos homens. Assim como em todos os setores, a busca pela equidade de gênero ainda precisa ser fomentada e, quando falamos em ascensão dessas profissionais, o acesso feminino a posições estratégicas ainda é mínimo. Alegra-me saber que faço parte de uma crescente evolução de diversidade, que vem oportunizando todos os perfis profissionais. Torço para que a inclusão do gênero feminino seja cada vez mais habitual e que as mulheres ocupem os espaços por mérito profissional. Estatisticamente mais escolarizado, tenho certeza que o público feminino está preparado para assumir todos e quaisquer desafios”.

Renata Costa Silva – Gerente de Marketing e Comunicação Schaeffler América do Sul e México “Definitivamente hoje temos mais presença neste mercado, mas entendo que o nosso setor é predominante masculino até por uma questão histórica; então, é importante valorizar esse movimento e o espaço que as mulheres que se interessam pela área têm conquistado. Independentemente do gênero, o fundamental é o respeito e entender que todos estão aqui com o mesmo objetivo, que é o sucesso do nosso negócio e do nosso cliente. Nós, mulheres à frente desse mercado, também precisamos fazer nossa parte e apoiar umas às outras para que esse espaço no setor seja uma conquista conjunta. Aqui na Schaeffler temos essa consciência e tentamos pensar em ações que “abracem” as mulheres que confiam nas nossas marcas”.

Bruna Almeida – Diretora Administrativa da Auto Norte “Vejo que cada vez mais nós, mulheres, estamos ganhando e ocupando espaços antes dominados pelos homens de nosso setor e fazendo um trabalho admirável. Muito me orgulha conhecer mulheres preparadas e obstinadas dentro do setor de reposição automotiva, e poder me reconhecer nelas é uma oportunidade que vai além do lado profissional, é um acolhimento necessário que dá luz ao sentimento importantíssimo para qualquer ser humano, independente de gênero: o pertencimento. Não me acho mais uma “estranha no ninho”, nem dentro da Auto Norte / Peça Brasil, que vem valorizando e dando voz às mulheres em cargos diversos, inclusive em nossas lideranças, e nem no mercado afora. Temos muito ainda a lutar e conquistar, e estamos no caminho. Avante, mulheres da reposição. Estamos juntas!”

Thuanney Castro – Supervisora de Marketing Wega Motors “Falar do espaço das mulheres no mercado de trabalho é algo desafiador, esse tipo de entendimento depende bastante do referencial. Mulher é um exemplo de força e garra e, por muitos anos, teve seu potencial limitado, minimizando o espaço da mulher no mercado de trabalho. Sendo consideradas um símbolo frágil, as mulheres tiveram dificuldades de entrar no mercado, principalmente no setor automotivo, que sempre foi dominado pela figura masculina. Mas hoje as coisas mudaram – o setor de aftermarket aceita a posição das mulheres e principalmente respeita suas ideias e opiniões. No ano de 2022, ainda existe preconceito e diferença salarial de mulheres para homens – são barreiras que precisam ser enfrentadas todos os dias. Acredito que o principal desafio no século que vivemos é ter que provar todos os dias que somos capazes de gerenciar com qualidade e competência qualquer atividade”.

Luciane Tuma – supervisora de Marketing da NGK “Acredito que as mulheres têm conquistado cada vez mais espaços significativos nos últimos anos, em todos os níveis, no aftermarket automotivo, na medida em que as empresas reconhecem os benefícios de investir em equidade de gênero para promover ambientes mais inclusivos e elevar o crescimento dos negócios, embora o caminho ainda seja longo para que o cenário fique equilibrado entre mulheres e homens neste mercado, que, historicamente, tem a predominância do gênero masculino. Avalio que estamos rompendo vários paradigmas nesse movimento em prol da equidade de gênero dentro das empresas, mas ainda há muitos desafios a serem transpostos, como ampliar a participação das mulheres em cargos estratégicos, com programas de aceleração de desenvolvimento feminino, e superar barreiras no comando das equipes, com ações que promovam entre os colaboradores a compreensão de que as mulheres também entendem de carro e podem liderar essa indústria. Afinal, ter mais mulheres nessas posições é uma questão estratégica para se comunicar com o público-alvo, uma vez que o público feminino é um grande influenciador na decisão de compra e essa influência direta é proporcional ao lucro do setor”.

Ana Paula Cassorla – Diretora da Pacaembu “Acredito no potencial feminino e a mulher pode trabalhar em qualquer área que desejar. Tenho notado mais mulheres atuando no segmento de reposição automotiva e fico muito feliz com isto. Nosso mercado ainda é muito masculino, mas as mulheres já se fazem notar em várias empresas e posições de destaque. Sem dúvidas que há muito espaço ainda para que mais mulheres ocupem posições no setor, e não vejo barreiras para que isto ocorra. Vai sempre depender do potencial, desejo, foco e determinação da profissional. O mercado está aí e as empresas estão interessadas e precisam cada dia mais de bons profissionais, independentemente de sexo. Portanto basta querer e se preparar que a mulher tem e terá seu espaço no segmento automotivo. Sejam bem vindas meninas é um ótimo mercado para se trabalhar”.


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