Embora o comércio paulista tenha ficado negativo em 7.018 vagas no primeiro semestre deste ano, após registrar dois anos de crescimento no período, o setor automotivo fechou o período com saldo positivo de 1.309 ofertas de emprego. É o que diz os dados levantados pela CNC (Confederação Nacional do Comércio), com base em informações do Caged (Cadastro Geral de Emprego e Desemprego), do Ministério do Trabalho.
Para Fábio Bentes, economista da CNC, boa parte dos setores que demitiram no primeiro semestre deste ano é dependente de crédito.
Apesar de a taxa básica de juro dar sinais de que tende a cair, o financiamento continua caro, o que leva os consumidores a evitar compras de bens de maior valor.
“O efeito da queda da Selic (hoje, em 13,25%) será marginal neste ano. Crédito caro é limitador de vendas. Se as vendas não crescem, não há contratação de profissionais”, diz.
No primeiro semestre deste ano, as vendas do varejo no Estado de São Paulo caíram 0,2% em relação a igual período do ano passado, de acordo com a PMC (Pesquisa Mensal do Comércio).
Os setores de vestuário e de utilidades domésticas foram os que registraram as maiores quedas, de 10,1% e 13%, respectivamente.
Na direção oposta, os setores que registraram as maiores altas nas vendas foram hipermercados e supermercados, de 2,8%, e combustíveis, de 11,4%.
EXPECTATIVA
Para Bentes, as contratações no varejo tendem a ser menores daqui para a frente por conta do custo do trabalho e de mais uso de tecnologia.
“O perfil da força de trabalho tende a mudar, num prazo maior, em razão da necessidade cada mais maior de profissionais para as áreas de entrega e logística.”
O comércio emprega no Brasil cerca de 9,6 milhões de pessoas e, no Estado de São Paulo, 2,7 milhões de pessoas.
A boa notícia é que o setor de vestuário e calçados, que mais fechou vagas neste primeiro semestre, deve reagir neste segundo semestre.
Primeiro, diz Bentes, porque os preços do setor estão desacelerando. Segundo, porque o comércio de roupas e calçados não depende tanto de crédito.
O varejo de combustível já deve sofrer mais neste semestre, na avaliação do economista, porque novos reajustes estão previstos para corrigir defasagens de preços.
“De uma forma geral, o ano deve ser ainda complicado para o varejo.” Para não ter queda de emprego, diz, o setor tem de crescer pelo menos 2% no Estado de São Paulo.
Paulo Matos, diretor geral da Tommy Hilfiger, que opera cinco lojas em São Paulo, com cerca de 48 funcionários, diz que o quadro de pessoal está estabilizado, considerando as mesmas lojas.
“Quando a economia está mais aquecida, é mais difícil reter bons profissionais, pois o varejo ainda tem a estigma de ser uma segunda opção de emprego. Hoje, não tenho turnover”, diz.
Em sua avaliação, a economia brasileira “está andando de lado”, as vendas estão estáveis, considerando as mesmas lojas. O faturamento cresce com abertura de novas lojas.
“Nós vamos crescer 25% sobre o ano passado porque vamos abrir novas lojas, 12 franquias e duas próprias no país”, diz. Para essas lojas estão previstas 500 contratações.
A marca perdeu bons profissionais durante a pandemia, diz Matos, que acabaram se dando bem com vendas pela internet e preferiram trabalhar de casa, por exemplo.
A expectativa para o setor nos próximos meses, em sua avaliação, é até boa, pois não tem o tumulto das eleições nem Copa do Mundo, situações que afugentam os consumidores.
“O governo também deve agir neste final de ano para puxar o PIB para cima”, diz. Se o consumo aumenta e as vendas crescem, o emprego também cresce. “Vamos torcer.”