Novo regime automotivo não encaminha soluções para os desafios do setor -

Novo regime automotivo não encaminha soluções para os desafios do setor

Letícia expõe carências do Rota 2030

Consultora da Prada Assessoria entende que Rota 2030 trata com timidez questões primordiais para o futuro da indústria

Claudio Milan

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Como o próprio nome indica, o novo regime automotivo brasileiro pretende ser um balizador para o setor até o ano de 2030. No entanto, na visão de Letícia Costa, sócia da Prada Assessoria, pelo que se conhece da proposta até o momento a política em gestação deixa a desejar e não endereça os desafios que o setor vivencia. “Primeiro é difícil falar do Rota 2030 porque nenhum anúncio oficial foi feito. No entanto, com base nos pilares em que a política vem sendo construída, alguns dos objetivos são conflitantes com a necessária busca pela competitividade”, analisou a especialista durante o 5º Fórum IQA da Qualidade Automotiva.

A consultora destacou que uma providência necessária para que o setor ganhe competitividade é não criar subterfúgios para garantir a sobrevivência de empresas ineficientes. “Esse turnover de empresas é que faz com que as boas continuem querendo melhorar e que novas possam entrar no mercado para ‘cutucar’ as melhores. Quando a gente fala em reestruturar os fornecedores dos tiers 2 e 3, tem muita empresa que talvez não devesse estar nesse setor. E na medida em que tentamos equacionar essa situação acabamos fazendo com que as empresas de produtividade mais baixa tragam a produtividade média do setor também para baixo”.

Outro equivoco apontado por Letícia Costa é a concessão de incentivos fiscais sobre questões em que bastaria legislar – e, como exemplo, ela cita os temas relacionados à segurança veicular. “Em outros países determina-se que a partir de tal data tais equipamentos precisam ser padrão nas linhas de montagem. Ninguém recebe benefício para cumprir a obrigação. Que eu saiba, aqui no Brasil o Euro 5 entrou sem nenhum benefício para os fabricantes de caminhões. Por que ter incentivos para coisas que eu pura e simplesmente consigo resolver com uma lei?”.

E o último questionamento trazido pela sócia da Prada Assessoria diz respeito à timidez com que o Rota 2030 aborda as principais tendências do setor. “Se estamos falando de 2030, eletrificação, mobilidade, veículo autônomo e digitalização são os temas que estão na mesa. A Inglaterra já anunciou que a partir de 2040 não terá mais carro com combustível fóssil; a Alemanha segue no mesmo caminho. A China vai investir pesado no veículo elétrico. E o Brasil? O que nós vamos fazer com o veículo elétrico? Aqui nós temos o etanol, que resolve nosso problema no mercado doméstico, mas não resolve a necessidade de inserção do Brasil como indústria global”.

Na avaliação de Letícia Costa, tais direcionamentos persistem porque a indústria brasileira continua olhando apenas para o ano seguinte. “Além disso, teríamos que inserir nas discussões players não tradicionais para o setor, como os fabricantes de softwares. Daqui a pouco um Google vai ser tão importante quanto uma montadora. O Rota 2030, nesse sentido, é pouco agressivo e eu acredito que, do jeito que ele está configurado hoje, é mais Rota 2020. Ele resolve nossos problemas nos próximos três anos, mas não posiciona o Brasil para ser competitivo no ano 2030”.


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