Novos players disputarão espaço com empresas já estabelecidas no País -

Novos players disputarão espaço com empresas já estabelecidas no País

Crescimento das concessionárias e negócios globais com forte atuação junto aos distribuidores estão entre as tendências de transformação da cadeia de comercialização de autopeças no Brasil

 

Por Claudio Milan ([email protected])

 A cadeia de negócios do aftermarket automotivo é complexa e, conforme prevê o estudo divulgado no Seminário da Reposição Automotiva, a complexidade tende a aumentar. Ao mesmo tempo em que empresas da ponta da cadeia – como oficinas e varejos – passam por movimentos de consolidação ou participação em outros elos, as montadoras buscam mais espaço nos segmentos de peças e serviços e novos players se apresentam em busca de uma fatia da reposição, que é um mercado apetitoso na medida em que há muito dinheiro circulando. Importadores de marcas asiáticas, por exemplo, já têm presença significativa e devem continuar crescendo graças aos preços baixos, boa qualidade e portfólio de peças completo.

Em relação às montadoras, Bernardo Ferreira, associated partner da McKinsey&Company, consultoria responsável pela pesquisa, destaca que a rede autorizada cresceu muito num período de 15 anos, porém nos últimos cinco as concessionárias vêm sofrendo. “É muito difícil fazer dinheiro em concessionárias hoje e uma das soluções para esse drama é ser mais rentável em pecas e serviços. Por isso, elas estão investindo forte no treinamento das redes, buscando novas maneiras de atuação e trabalhando em conjunto para atrair mais clientes”.

Outra estratégia citada pelo especialista é a criação de novas marcas, uma maneira de oferecer um produto um pouco mais barato para quem está fora da garantia. “Um VW Economy Parts você vê e sabe que é Volkswagen. No outro lado, surge a Ford com a Omincraft, uma linha de peças que podem ser aplicadas nos veículos de diferentes marcas”. Também pode ser mencionada com bom exemplo a rede de oficinas multimarcas Euro Repar, que faz parte do grupo PSA (Citröen e Peugeot) e já está atuando no Brasil.

Quanto aos asiáticos Ferreira exalta o reconhecimento que as marcas vêm conquistando no Brasil. “Se é uma marca de confiança eu já sei que vai vir com qualidade, preço bom e, muitas vezes, com um portfólio completo, pois elas conseguem alavancar o volume de outras regiões para a produção. Vemos, hoje, os asiáticos até conseguindo ser agressivos na ponta, conversando com o varejo, com as oficinas e explicando qual é o papel da marca. Em alguns segmentos, já respondem por algo entre 20% e 30% do mercado”.

 

Fortes no exterior, grupos de compras estão chegando para ficar

O segmento de distribuição de autopeças tem experimentado novas parcerias com empresas globais. Os formatos de associação são diversos e esse movimento, de acordo com a pesquisa, veio para ficar. Uma das vertentes apontada pelo estudo são os chamados grupos de compras. “São redes de distribuidores com maneiras de atuação diversas. Uma delas é a compra em grupo, selecionando fornecedores que vão oferecer um tratamento diferenciado, proporcionando ganhos em escala. Conversamos bastante com o pessoal da Europa e lá eles já sentem muito mais esses grupos, estão muito mais avançados”, diz Bernardo Ferreira.

Justamente por isso, o passo seguinte dessas organizações é buscar novos mercados, abrindo espaço para o crescimento das operações. O Brasil, naturalmente, está nesse radar, especialmente se houver a esperada retomada da economia. Segundo o consultor, é nesse momento que as empresas brasileiras devem estudar com atenção os potenciais novos parceiros. “Você tem que pensar se é oportuno ter uma parceria e, se for o caso, avaliar com quem vai fazer”.

A primeira discussão que se coloca é se faz sentido consolidar as nossas cadeias, considerando que o Brasil, perto de outros países mais adiantados, tem um mercado bastante pulverizado. “Um bom exemplo é o segmento de distribuição, em que, nos Estados Unidos, os quatro maiores grupos têm quase 50% do mercado. São todos de capital aberto, superagressivos e atuando até o cliente final. No Brasil, a gente estima que as quatro maiores empresas de distribuição respondem por algo entre 10% e 20%”, compara o consultor da McKinsey.

Outro paralelo traçado pelo estudo – mas não totalmente justo, segundo a própria avaliação do especialista – diz respeito à produtividade das oficinas brasileiras, menor que nos Estados Unidos. Enquanto um estabelecimento norte-americano serve 1.800 veículos, o brasileiro atende apenas 345 carros. Para o futuro, isso representa uma oportunidade de otimizar a cadeia como um todo. “E quem fizer isso vai ter ganhos de escala importantes”, prevê Bernardo Ferreira.


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