NRF 2022 deixa claro: avanço tecnológico deve caminhar junto com maior humanização do setor varejista -

NRF 2022 deixa claro: avanço tecnológico deve caminhar junto com maior humanização do setor varejista

Conheça as principais tendências debatidas na maior feira de varejo do mundo

Lucas Torres [email protected]

O cenário de mudanças profundas promovidas pelo avanço tecnológico e por uma reorganização social mais plural e sustentável esteve no centro das reflexões sobre o futuro do varejo no ‘Retail Big Show’, realizado em Nova York entre os dias 16 e 18 de janeiro. Conhecido no Brasil como ‘NRF’, o maior evento de varejo do mundo ofereceu insights sobre maneiras com que as empresas varejistas podem se reposicionar neste novo ambiente – não apenas para incrementar as vendas, mas também para estreitar relacionamento com os consumidores.

Diversos especialistas e empresários brasileiros estiveram presentes na Big Apple durante a feira. Entre eles, estava a comitiva enviada pela GOUVÊA Ecosystem que, em tempo real, se dedicou a interpretar alguns dos principais pontos abordados em boletins cheios de substância.

Como fruto dessa consolidação dos insights presentes nos diversos painéis da ocasião, os curadores da GOUVÊA listaram as três principais tendências da edição de 2022 da NRF. Nesta reportagem, o Novo Varejo contextualiza cada uma delas. Acompanhe a seguir.

NRF antecipa revolução nos negócios digitais

Por cerca de uma década, entre os anos de 2010 e 2020, a feira realizada na cidade de Nova York pregou com insistência a necessidade de implementação do conceito de omnichannel por parte das empresas varejistas. Isto é, a adoção de ferramentas e processos que permitissem aos consumidores optar pelos canais mais convenientes na hora de realizar uma compra: fosse na loja física; via telefone; ou por meio de e-commerce.

Em 2022, este conceito de multicanalidade deu lugar definitivo à ideia da quebra da fronteira entre os mundos físico e digital – criando uma sociedade de consumo híbrida, denominada fígital. Os leitores mais atentos do Novo Varejo com certeza já estão bem familiarizados com o termo e seus desdobramentos. Há muitos caminhos já disponíveis para implementar o conceito. Exemplo disso são empresas como o Walmart e Americanas, que permitem aos seus clientes acessar totens na loja física para fazer compras no ambiente digital e/ou comprar online e retirar na loja; bem como marcas que já disponibilizam QR Codes nas embalagens capazes de serem scaneados para oferecer informações adicionais sobre o produto aos clientes em formatos de texto, áudio ou vídeo. De acordo com os palestrantes da NRF, no entanto, muito além dessas inovações já em curso, o mundo do varejo está prestes a experimentar uma disrupção ainda maior nos próximos anos com a consolidação do metaverso.

Nome dado a uma espécie de universo paralelo em que as pessoas transitarão de maneira virtual com seus avatares e óculos de realidade aumentada, o metaverso irá desafiar os varejistas a estarem presentes em ambientes marcados pela gamificação. Segundo a sócia-diretora da MosaicLab, Karen Cavalcanti, a lição que ficou da NRF é que o metaverso terá um forte impacto não só no varejo tradicional, mas em toda a relação de consumo. Além disso, estes ambientes paralelos irão promover uma proximidade do consumidor com as marcas realizada de uma forma nunca vista antes. “Há possibilidade de as empresas interagirem a respeito de outros assuntos como, por exemplo, passar ensinamentos, conversar sobre saúde, relacionamentos e não só sobre compras.

Resta a dúvida de qual será o propósito e o objetivo de cada uma nesse ambiente”, explica Karen. Para executivos da GOUVÊA Ecosystem como Eduardo Yamashita e Ricardo Contrera, porém, a ocorrência da ‘plena integração’ entre os universos físico e digital ainda carece do amadurecimento de tecnologias como o 5G – de modo que deve necessitar de uma curva de amadurecimento com até 10 anos de duração. Yamashita ressalta, porém, que assim que consolidada a questão tecnológica, as empresas varejistas serão definitivamente convocadas a quebrar as fronteiras dos canais, ao passo que, à essa altura, consumidores das gerações Z e Alpha, já nascidas em uma sociedade digital, representarão 50% da população mundial. “Devido ao fato dessas gerações serem totalmente digitais, ou seja, não pensam mais na união da loja física com o digital como as gerações atuais, o metaverso será algo bem natural e interessante para esse público”, afirma o executivo da GOUVÊA Ecosystem. Ainda no âmbito da tecnologia, a temática da Inteligência Artificial (IA) foi outra a figurar com grande destaque na NRF 2022.

O evento – que além da produção de conhecimento é marcado pelo intercâmbio entre retailtechs e varejistas – concentrou 80% de sua oferta de inovações na utilização da IA para melhorar a performance das vendas do varejo, seja por meio da otimização dos aspectos de relacionamento com o cliente ou melhorando as próprias operações internas como na organização do estoque, no setor de compras, no departamento de marketing e etc.

Nem só de tecnologia vive o futuro do varejo: Sociedade 5.0 exige diversidade e sustentabilidade

Em paralelo a todos os assuntos envolvendo a evolução tecnológica e seu impacto no varejo, a NRF 2022 ofereceu uma ênfase importante às iniciativas relacionadas à ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) e ao DE&I (Diversidade, Equidade e Inclusão.

De acordo com Cristina Souza, CEO da GOUVÊA Foodservice, a lição retirada das apresentações do evento é o quanto a liderança é importante como propulsora das melhores decisões e da potencial evolução dos profissionais de uma empresa. “Não importa se são mulheres, homens, LGBTQIA+, minorias étnicas ou qualquer outro grupo, mas sim a atitude para transformação de negócios”, afirma Cristina, complementando na sequência: “Todo mundo sabe que o negócio é para gerar resultado, mas esse resultado só é atingido com as pessoas felizes, comprometidas e envolvidas. A partir do momento em que entendemos que cada pessoa é única, que precisamos respeitar as pessoas e o que é melhor para elas, a mudança ocorre e traz bons frutos”. Estes aspectos amplamente discutidos na principal feira de varejo do mundo atuam como uma espécie de grito de alerta ao setor automotivo brasileiro marcado, por exemplo, pela ampla maioria da presença masculina – de acordo com a pesquisa ‘Diversidade no Setor Automotivo, realizada pela MHD Consultoria, apenas 23% das oportunidades do setor são ocupadas por mulheres. Ao mesmo tempo, no entanto, ele reflete uma tendência natural também observada na nossa reposição automotiva – tendência esta difundida pelas profissionais do setor que têm participado da série ‘Mulheres no Aftermarket’ conduzida pelo Novo Varejo.

Nela, profissionais como a coordenadora de Marketing e Comunicação Corporativa da Schaeffler, Renata Campos, afirmaram ser uma questão de tempo para que o número de mulheres no setor automotivo aumente. “O exemplo das meninas interessadas em cursos de mecânica é evidência de uma geração que está vindo com nova mentalidade e as empresas certamente vão se adequar a isso”, destacou Renata em entrevista ao Novo Varejo.

Liderança e retenção de talentos é fundamental

Diversos gurus do varejo brasileiro não cansam de afirmar que, apesar de todo o avanço tecnológico, as pessoas ainda são os principais diferenciais de um negócio neste segmento.

Exemplo disso é o fato de, em entrevista exclusiva concedida ao Novo Varejo, o consagrado consultor Luiz Antônio Secco ter afirmado que uma das maiores vantagens das empresas de grande porte em relação às pequenas são às suas capacidades de acessar profissionais mais competentes. Esta mesma premissa também esteve em destaque na NRF 2022. Em diversos painéis a feira enfatizou a importância de as lideranças do segmento assumirem posição de mentoria e desenvolvimento de talentos a fim de que, a partir disso, os colaboradores passem a enxergar o negócio como um todo e agir como verdadeiros elos entre o ‘core’ da empresa e seus consumidores.

Para o sócio-diretor do MosaicLab, Ricardo Contrera, esta tendência de ‘liderança somada à mentoria’ se tornou ainda mais necessária com a chegada da pandemia e a popularização do modelo home office de trabalho. “Os dois anos em que os profissionais trabalharam em home office ou no modelo híbrido resultaram na mudança da vida tanto do consumidor como do colaborador. Então, podemos ver que a NRF deste ano contou com líderes mais humanizados e mais flexíveis”, conclui Contrera


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