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Números da estagnação automotiva brasileira

O Brasil encerrou 2023 com uma capacidade instalada para produzir 4,5 milhões de veículos por ano. Acontece que fabricamos, ainda em 2023, 2,33 milhões de unidades, segundo informações da Anfavea. Isso representa quase 50% de ociosidade.

Por Claudio Milan | [email protected]

O Brasil encerrou 2023 com uma capacidade instalada para produzir 4,5 milhões de veículos por ano. Acontece que fabricamos, ainda em 2023, 2,33 milhões de unidades, segundo informações da Anfavea. Isso representa quase 50% de ociosidade. Pior: significa também um crescimento de apenas 1% sobre… 2004! São nada menos que 20 anos entre um dado e outro com basicamente o mesmo resultado. Nosso melhor desempenho ocorreu em 2013, quando saíram das linhas de montagem 3,73 milhões de veículos. A capacidade instalada, jamais atingida, chegou a ser de 5 milhões. Sim, enfrentamos uma pandemia. Mas, em 2019, último ano antes da crise sanitária global, a produção total havia sido de 2,95 milhões, bem distante de 2013.

Começamos com estes números para entender um pouco melhor algumas das principais constatações da edição 2024 do Relatório da Frota Circulante que acaba de ser publicado pelo Sindipeças – veja em nossas páginas uma matéria bem mais detalhada sobre o assunto.

A primeira constatação diz respeito à participação dos carros leves no total da frota brasileira: 81% dos 47 milhões de autoveículos que circulam em nossas vias. Considerando que nosso foco editorial é exatamente esta parcela, vamos nos limitar a ela até o final do texto.

E mais uma vez chama atenção a morosidade com que os números crescem. Entre 2014 e 2023, passamos de 34,71 para 38,40 milhões de unidades. A expansão de 2023 sobre 2022 foi de apenas 0,2%, ainda pior que os 0,3% de 2022 para 21.

Tal lentidão reflete, naturalmente, no envelhecimento da frota brasileira de veículos leves. Os 8 anos e 7 meses em 2014 se transformaram em 11 anos e 1 mês em 2023. Se isso é benéfico no curto prazo para o mercado de reposição, por outro lado mostra que o país não vem crescendo como deveria, e as potenciais demandas futuras para o aftermarket são comprometidas pelo enxugamento dos números de renovação do parque circulante. Os carros com idade entre 0 e 5 anos representavam em 2014 40,7% da frota, índice que caiu quase pela metade no ano passado: 21,3%. Retrato fiel de um país que não consegue crescer.

E para finalizar, a gênese nefasta dos dados demonstrados até aqui. A produção não anda porque os brasileiros não conseguem ampliar acesso aos automóveis. Se em 2014 tínhamos 4,7 veículos para cada habitante, em 2023 a proporção evoluiu discretamente para 4,3. Considerando apenas a população economicamente ativa, fomos de 2,4 para 2,3 habitantes por veículo. Ou seja, um quadro de estagnação em 10 anos. Só para comparar, a China conseguiu reduzir de 8,5, em 2015, para 4,4 habitantes por veículo em 2020. OK, a China vem experimentando nos últimos anos um crescimento fora da curva. Mas, afinal, não queremos nós também crescer? A indústria automotiva está entre as mais importantes do país. Apesar dos desafios, fomos, em 2022, o 8º maior produtor de veículos do mundo e o 6º maior mercado consumidor, segundo a Anfavea. Ao mesmo tempo em que os indicadores nos alertam para um processo de estagnação que precisa ser superado, o potencial de consumo está posto. Ter um carro próprio ainda é desejo de boa parte dos brasileiros. É fundamental fazer com que nossa economia cresça de forma sustentável para que tal desejo possa ser atendido.

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