Por Bruno Núñez
Na Ásia, a indústria automotiva é dominada desde o começo por japoneses e sul-coreanos. Recentemente, vimos os chineses aparecer com protagonismo em grandes mercados mundiais, com diversas montadoras que são novidade para o consumidor. Em outro pedaço do continente asiático, porém, expoentes deste setor, apesar de desenvolvidos, não são muito conhecidos por aqui. Um exemplo vem da ex-república soviética do Uzbequistão, sede da Ravon, uma marca que resultou da joint-venture entre o governo local e a General Motors (GM). Os uzbeques são os protagonistas da primeira reportagem da série Nunca Visto no Brasil do Novo Varejo, sobre marcas inéditas para o brasileiro, que nunca estiveram oficialmente em solo nacional.
De passado soviético, independente desde 1991, o Uzbequistão é um histórico produtor de algodão, e só encarou a indústria automotiva após o fim da União Soviética. Pode-se dizer que a formação da Ravon começou em 1992, quando a Daewoo, montadora sul-coreana, entrou em acordo com a UzAvtoSanoat, uma empresa estatal, para a construção de uma fábrica no país.
Para ter mais informação sobre o assunto, o jornalista uzbeque Azamat Atajanov, do Gazeta.uz, nos ajudou a entrar em contato com a UzAuto, responsável pelo setor no país e, consequentemente, pela Ravon.
A origem da Ravon
“Em 1994, uma empresa automobilística conjunta, a UzDaewooAuto, foi formada entre a Daewoo South Korean Corporation e a UzAutoSanoat. A produção de automóveis começou em 1996 em uma fábrica especialmente construída na cidade de Asaka, localizada na região de Andijan, no Uzbequistão. Antes da abertura, os funcionários passaram por um estágio na Daewoo e em outras montadoras”, conta a companhia.
Os primeiros carros produzidos foram os Daewoo Damas, Nexia e Tico. No começo, as peças eram importadas que montavam esses veículos. Posteriormente, a produção de componentes começou a ser feita pelos próprios uzbeques, o que acabou diminuindo o custo desses modelos.
Em 2001, a indústria já havia chegado a marca de 250 mil carros produzidos. No mesmo ano, o Matiz começou a ser fabricado no Uzbequistão. Se por um lado tudo ia bem para os uzbeques, não se podia dizer o mesmo dos parceiros sul-coreanos. Em crise, a Daewoo teve uma parte de suas ações compradas pela General Motors em 2002.
Em 2008, com a falência da Daewoo e seu espólio absorvido pela General Motors, a UzAvtoSanoat se uniu aos norte-americanos para formar a GM Uzbekistan, 75% da estatal uzbeque e o restante da montadora. Os carros antes produzidos com o logo da montadora sul-coreana começaram a usar a marca Chevrolet.
Em 2011, 94% dos carros vendidos no Uzbequistão eram da GM, a maior fatia que a gigante tinha em qualquer mercado do mundo.
Com a GM Uzbekistan, o país se viu como um dos maiores consumidores da marca norte-americana. Para se ter uma ideia, em 2011, 94% dos carros vendidos eram General Motors, a maior fatia que a gigante tinha em qualquer mercado do mundo. Além disso, os asiáticos ocuparam o oitavo lugar do ranking de mais vendas da Chevrolet no planeta daquela época. Captiva, Tacuma, Epica e Malibu eram alguns modelos que saiam das fábricas uzbeques para as ruas do país.
Surge a Ravon
“Com o desenvolvimento da indústria automotiva no Uzbequistão, amadureceu a ideia de criar uma marca”, afirma o representante da UzAuto. Em 2015 surgiu a Ravon, a montadora nacional do país. O nome, no idioma local, o uzbeque, significa “estrada limpa” ou “suave” e também “caminho fácil”. Outra explicação é que é uma abreviação da expressão “Veículo ativo confiável na estrada” em inglês (Reliable Active Vehicle On Road).
Os Ravon R2, R5, R3 e R4 são as versões rebatizadas dos Chevrolet Spark, Gentra, Nexia e Cobalt, respectivamente.
Desde outubro de 2015, os modelos Chevrolet Spark, Daewoo Gentra, Chevrolet Nexia e Chevrolet Cobalt foram fabricados com a marca Ravon e rebatizados. Ganharam o nome, respectivamente, de R2, R5, R3 e R4. A diferença entre os GM e os com o emblema da montadora uzbeque não existe segundo a própria UzAuto.
“Os carros da Ravon são as tecnologias e modelos da General Motors. A criação da marca própria é ditada pelo “crescimento” da indústria automotiva do Uzbequistão, bem como pelo lançamento do produto da indústria automobilística uzbeque nos mercados dos países da CEI (países que formavam a antiga União Soviética), nos quais nossa fábrica historicamente tem reputação como um fabricante de qualidade, confiável e responsivo”, explica.
Nos países da antiga União Soviética, até os maiores como Rússia e Ucrânia, a Ravon já é uma marca importante no mercado. Três modelos são exportados nessas nações: R2, R3 e R4. “Hoje, temos um preço atraente combinado com um excelente nível de qualidade, e esperamos que isso permita que a empresa ocupe seu devido lugar no segmento de carros acessíveis no mercado”, conta.
Na Ucrânia, a Ravon já causou problema por seus preços acessíveis. Com o valor, os fabricantes ucranianos estavam reclamando que os carros vindos do Uzbequistão estavam acabando com o mercado local, onde os nacionais eram bem mais caros.
E mesmo com o preço acessível, os uzbeques prezam pela qualidade de seus modelos: “Uma característica da produção moderna de carros da nossa marca é o controle de qualidade constante. Após cada uma das operações executadas – seja estampagem, soldagem, pintura ou montagem -, uma equipe especial verifica a conformidade dos produtos de saída com o padrão geral de qualidade. Essa abordagem de produção faz do Ravon um dos carros mais confiáveis.”
O futuro da Ravon parece próspero. Neste ano, o governo uzbeque comprou a parte da General Motors da joint-venture, tentando quebrar o monopólio automotivo no país, e renomeou a GM Uzbekistan para UzAutoMotors. A ideia é que a linha se extenda para sete modelos. Além disso, a empresa pretende introduzir a Cadillac no país. Fábricas fora do Uzbequistão já estão nos planos: uma no Cazaquistão e outra na Rússia.
“O povo do Uzbequistão ama a marca Ravon e fica feliz em comprar carros com a marca Ravon. A indústria automotiva é uma das locomotivas de desenvolvimento industrial e inovador do país, e as pessoas entendem isso e respeitam”, finaliza.
Confira o vídeo da história da marca feito pelo Novo Varejo: