O presidente da República sancionou na última semana de junho o Programa Mobilidade Verde e Inovação, o Mover. Trata-se da atualização da política para o setor automotivo brasileiro – a revisão já prevista do Rota 2030. Apesar da importância desta lei, o destaque na grande mídia ficou para o ‘jabuti’ que enfiou no mesmo PL a famigerada ‘taxa das blusinhas’. Situações esdrúxulas de um legislativo muitas vezes disfuncional…
Para nossos leitores, o que interessa são os desdobramentos do Mover a partir de agora. Ainda que o aftermarket continue correndo por fora nos grandes debates setoriais, é importante saber que o estímulo a pesquisa e desenvolvimento continua prioritário, assim como as ações para a descarbonização – em sintonia com a pauta global, precisamos reduzir emissões. Passado o ‘surto’ de inúmeras montadoras europeias que se puseram a estabelecer quase que de forma irracional prazos para encerrar a produção de motores a combustão interna, assistimos agora a uma revisão nestas estratégias.
O primeiro semestre foi marcado, nos países do bloco, por queda ou estagnação nas vendas de carros elétricos. Os preços dos usados sofreram forte desvalorização e a infraestrutura de recarga não cresceu na velocidade esperada. Como resultado, montadoras locais redirecionaram investimentos e vêm, agora, aumentando a produção de automóveis híbridos. Como diriam nossos avós, o mundo dá voltas… A lei que vai banir os carros movidos a combustíveis fósseis a partir de 2035 continua valendo para os países membros da União Europeia. Mas, até lá, ainda vai passar um bom volume de água por baixo da ponte. Fiquemos todos muito atentos. Enquanto o chamado ‘velho continente’ bate cabeças na corrida pela descarbonização, o Brasil – quem diria! – vai pavimentando um caminho sólido rumo a esse mesmo objetivo. E, mais do que isso, abrindo janelas de oportunidades que têm potencial para tornar o país um protagonista no contexto global da mobilidade limpa. Em recente evento online realizado pelo Sindipeças, debateuse o potencial que o Brasil tem para deixar de ser seguidor das tecnologias vindas de fora e se tornar de fato um líder disruptivo no desenvolvimento de alternativas extremamente eficientes no processo de descarbonização a partir do conceito ‘do berço ao túmulo’. A favor desta perspectiva, oferecemos ao mundo um diferencial único na indústria automotiva: uma experiência de 45 anos na utilização do álcool combustível. Esta solução em que o país foi pioneiro e é líder até hoje cada vez mais desponta como uma imensa possibilidade para alçar o Brasil a uma posição que ele tem tudo para merecer ocupar, não apenas no contexto da motorização híbrida, mas também numa eventual futura utilização da célula de combustível com base no etanol. Enfim, neste momento absolutamente disruptivo para o setor da mobilidade em todo o planeta, temos uma rara oportunidade para subir de patamar. É hora de ousar. Resta torcer para que saibamos aproveitar. O ‘bonde’ da história costuma passar em alta velocidade.