O futuro do setor automotivo em 5 transformações -

O futuro do setor automotivo em 5 transformações

Estudo global da KPMG atualiza as macrotendências da mobilidade e sugere ações para adequação das empresas à nova realidade em construção.

Por: Claudio Milan [email protected]

É repetitivo – porém, necessário – dizer que o setor automotivo vem passando por um momento único e inédito de transformações. As mudanças envolvem tanto a evolução tecnológica como uma nova cultura social de mobilidade. E ocorrem respeitando certo encadeamento de eventos: primeiro no chamado mundo desenvolvido, envolvendo montadoras e sistemistas antes, propagando-se com menor velocidade para os países em (eterno) desenvolvimento, chegando mais tarde ao aftermarket do primeiro grupo e, finalmente, ao mercado de reposição dos mais humildes, como nós. Neste longo trajeto, muitas inovações acabam sofrendo alterações em razão da necessária adequação às diferenças regionais. O Brasil é um bom exemplo: por aqui, o etanol terá no processo de descarbonização um papel único, impossível de ser replicado no restante do planeta. Por isso, em nossa futura frota os híbridos flex tendem a prevalecer sobre os veículos 100% elétricos. Esta introdução é importante porque o texto que você começa a ler trata dos resultados do estudo global “The Future of Automotive”, em que a KPMG atualiza perspectivas para o setor automotivo, porém com base nas macrotendências, que, eventualmente, podem não ter total sintonia com nossas expectativas. Mesmo assim, as informações são valiosas para quem, sabiamente, acompanha de perto as impactantes transformações impostas ao setor automotivo que, como dissemos algumas linhas acima, com uma ou outra ‘customização’ percorrerão a trilha de mudanças até, finalmente, chegarem até nós.

CONFRONTO

“Nos últimos anos, as montadoras e todos no ecossistema automotivo – de fabricantes de componentes a engenheiros de projeto, executivos de marketing e finanças, investidores, revendedores e clientes – foram confrontados com grandes mudanças. Em meus 30 anos na indústria, nunca vi algo como isso”, diz na introdução do paper do estudo Gary Silberg, líder automotivo global da KPMG International. E daí surgem as cinco transformações impactantes analisadas pelo estudo realizado pela consultoria global: como os carros funcionam, como os carros são construídos, como os carros são usados, como os carros são vendidos e como o setor é regulamentado. No estudo, a KPMG enumera oito imperativos estratégicos para as montadoras, resultantes das cinco transformações em curso: organizar-se para a transição rumo ao veículo elétrico; repensar a produção, as cadeias de fornecimento e os parceiros; monetizar a experiência do veículo conectado; criar modelos como serviço; criar uma experiência de vendas diretas perfeita; utilizar os dados para aumentar o valor gerado ao cliente; ter mobilidade financeira; e atrair talentos para o setor.

Os imperativos são direcionados às montadoras. Mas, de novo, não perca de vista o encadeamento das transformações e as inevitáveis implicações futuras em seu negócio. Gary Silberg avalia que para cumprir os novos imperativos estratégicos, as empresas terão de se tornar organizações conectadas, que utilizam dados e tecnologia digital para funcionar de forma mais homogênea, desenvolver produtos inovadores, conectar-se com clientes e fornecedores, tomar decisões rápidas com confiança e proporcionar aos funcionários as ferramentas necessárias para o sucesso. “Terão de ser confiáveis administradores dos dados do cliente e desenvolver continuamente tecnologias de assistência ao motorista que salvam vidas. São muitas mudanças e muitos desafios. Mas a mudança também é oportunidade. Sabemos que os líderes automotivos estão prontos para os desafios e ansiosos para buscar novas oportunidades”, finaliza o executivo.

As mudanças e suas consequências

O estudo realizado pela KPMG sugere que o sucesso futuro das montadoras será determinado pela capacidade de adaptação às cinco categorias de mudanças que exigem respostas estratégicas e evoluções nos modelos de negócios e operações. “Ao agir sobre esses novos imperativos estratégicos tornando-se empresas verdadeiramente conectadas, as montadoras podem atender às demandas dos clientes, gerenciar cadeias de suprimentos e talentos e tomar decisões baseadas em dados”, diz o relatório. Saiba mais a seguir sobre cada uma das transformações apuradas – o estudo completo você encontra nas plataformas digitais da KPMG.

COMO OS CARROS FUNCIONAM

A mudança para os veículos elétricos está se acelerando. Estima-se que 50% dos automóveis vendidos nos EUA em 2030 poderão ser elétricos; autoridades chinêsas dizem que 70% dos automóveis vendidos no país em 2030 serão elétricos. Globalmente, espera-se que as vendas unitárias de EVs cresçam 12,8% anualmente de 2022 a 2034. Ao sair do tradicional motor a combustão, as montadoras vêm perseguindo furiosamente e eletrificação – e enfrentando novos concorrentes. Os carros tornam-se cada vez mais conectados, com processadores que melhoram desempenho do veículo e fornecem um novo tipo de experiência, incluindo a codução autônoma. Infoentretenimento e outros serviços também são vistos como uma fonte de receitas recorrentes para as montadoras. Os fabricantes de veículos conectados serão desafiados a garantir aos consumidores que os sistemas eletrônicos que controlam seus veículos (eventualmente direção autônoma) são confiáveis e protegidos contra ataques cibernéticos. As montadoras também devem ser confiáveis a ponto de não usar indevidamente as informações do motorista e garantir que os dados estejam protegidos.

COMO OS CARROS SÃO FABRICADOS

A mudança para veículos elétricos requer novas maneiras de fabricar carros – com componentes e tecnologias completamente diferentes. Plantas e processos devem ser otimizados. Novas e diferentes parcerias estão surgindo. No paper “The Future of Automotive”, a KPMG enumera cinco fatores críticos na transformação dos processo de fabricação dos veículos: a) modularização do chassi para reduzir custos, peso do veículo e acelerar a produção; b) novos entrantes agitando a concorrência – fabricantes de veículos elétricos respondem por um quarto de todas as startups do mercado automotivo; c) inclinação para a Ásia – montadoras asiáticas têm tecnologia e ambição para desafiar o domínio global das marcas tradicionais, consequentemente as empresas ocidentais expandem presença na Ásia, muitas vezes em conjunto com concorrentes emergentes; d) desafios da cadeia de fornecimento – as cadeias sofreram com a escassez de componentes e matérias-primas em razão da Covid-19 e da guerra na Ucrânia. A falta de microships e lítio reduziu a produção de veículos elétricos e a produção global de veículos (em todos os grupos motopropulsores) caiu quase 10 milhões em 2021. As restrições da cadeia de abastecimento podem aumentar o poder de negociação dos fornecedores, resultando em preços mais altos para as montadoras; e) atração de talentos digitais – as montadoras buscam vencer a batalha da inovação, a tecnologia se torna onipresente, e o resultado é uma disputa com outros setores por engenheiros de software e outros tecnólogos.

COMO OS CARROS SÃO USADOS

 Modelos como carona, compartilhamento de veículos e assinaturas continuam a ganhar força, com veículos sendo utilizados ‘como serviço’. Segundo prevê o estudo da KPMG, é pouco provável que a posse de automóveis se torne algo do passado, mas os consumidores estão se tornando mais abertos em relação aos serviços de mobilidade. A pesquisa conclui que 63% das montadoras estão investindo ou planejam desenvolver modelos de propriedade alternativos, como compartilhamento de viagens e “micro-compartilhamento” dentro de dois anos. Serviços de assinatura são outra tendência crescente.

COMO OS CARROS SÃO VENDIDOS

Os consumidores têm comprado carros no ambiente online há anos. Segundo a pesquisa KPMG, agora eles querem completar todas as demais transações relacionadas ao veículo também online. E os novos players de veículos elétricos estão pulando as concessionárias e vendendo direto – e as montadoras de automóveis a combustão estão ansiosas para seguir o mesmo caminho. Cresce a pressão sobre as montadoras por novos canais de venda que eliminam o modelo tradicional das concessionárias, protegido por leis estaduais nos Estados Unidos, por exemplo. (Nota da Redação: e no Brasil também, pela lei Ferrari, de 1979). Nos EUA, a Tesla foi pioneira em vendas diretas ao consumidor. Na Europa, onde tais restrições não existem, a Audi pretende vender modelos elétricos diretamente aos clientes, com entrega e serviço através de revendedores tradicionais. Ao mesmo tempo, um processo de consolidação das concessionárias resulta em concentração de poder de compra que pode colocar em risco as margens das montadoras – segundo o estudo, números recentes sugerem que 2021 foi um ano recorde para fusões e aquisições em concessionárias.

COMO O SETOR É REGULAMENTADO A KPMG enumera três questões fundamentais: a) impulso à emissão zero – novas regulamentações forçam as montadoras a acelerar a produção de veículos elétricos. Mais de 20 países já sinalizaram uma eliminação completa das vendas de carros a combustão nas próximas décadas; b) incentivos e financiamento governamental – o mercado de EVs se beneficiou enormemente dos incentivos, mas os programas estão em constante evolução; c) o caminho acidentado para a direção autônoma – de acordo com recente pesquisa global da KPMG com executivos do setor automotivo, 45% das montadoras estão investindo em veículos autônomos ou planejam fazê-lo nos próximos dois anos. Porém, para a implantação generalizada destes veículos, as montadoras ainda precisam mostrar tecnologia mais confiável para aprovação regulatória. Em meio a relatos de falhas no sistema de orientação, grupos de consumidores e sindicatos pressionam legisladores a reter a aprovação de veículos autônomos em vias públicas.

Principais conclusões do estudo

• A transição EV está mudando a forma como as empresas automotivas são organizadas Cada vez mais, as empresas automotivas estão se reorganizando para gerenciar a transição para o veículo elétrico por meio de investimentos e parcerias – e, recentemente, separando os negócios de motores de combustão interna dos de veículos elétricos.

• As operações de fabricação e cadeia de suprimentos estão sendo reinventadas As montadoras estão adotando a fabricação modular – incluindo design de chassi multiuso – e materiais leves. Também estão se esforçando para resiliência da cadeia de abastecimento, buscando novos materiais de bateria e outros componentes-chave mais perto de casa.

• Encontrar maneiras de monetizar a experiência do veículo conectado Fornecimento de software, atualizações de conteúdo e componentes para a experiência conectada no carro podem criar novos fluxos de receita.

• Os consumidores estão prontos para uma experiência totalmente conectada no carro Os consumidores apreciam cada vez mais a personalização do infoentretenimento, assistência à condução e tecnologia para assistência. • Aproveitamento de dados para melhor desempenho e novos fluxos de receita Dados sobre desempenho, segurança e design, por meio de vários sensores de IoT, permitem novas maneiras de tornar os carros mais seguros e confiáveis. Mas os fabricantes de veículos conectados também devem garantir a segurança dos dados e a privacidade.

• A descarbonização está ficando séria Novas políticas de carbono zero e novos incentivos provavelmente acelerarão a adoção de EVs e o encerramento dos modelos a combustão. Países e alguns estados dos EUA estão estabelecendo prazos para o fim da venda de veículos com motores a combustão.

• O papel do revendedor continua evoluindo Os compradores de carros estão acostumados a fazer compras online e em concessionárias. E novas marcas de veículos elétricos adotam abordagens diretas ao consumidor. À medida que os modelos alternativos de propriedade e carro como serviço se popularizam, a função do revendedor mudará.


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