O que pensa o novo presidente da Andap -

O que pensa o novo presidente da Andap

Relações institucionais, desenvolvimento de mercado, aprimoramento e ampliação de serviços são os pilares da gestão de Rodrigo Carneiro à frente da entidade

Por Claudio Milan ([email protected])

Em 1997, entrevistamos pela primeira vez Rodrigo Carneiro. Naquela oportunidade, o executivo completava dois anos no segmento de distribuição de autopeças, após consolidar carreira de mais de duas décadas no mercado financeiro. Em sua anunciada linha de conduta, estava a conquista de resultados positivos com ética e trabalho de equipe.

Não foi necessário muito tempo para que Carneiro fizesse um diagnóstico preciso de seu novo campo de atuação: “O número de players exageradamente elevado e a queda de preços e margens fomentará a seleção natural. Além do que, por tratar-se de um segmento caracteristicamente comoditizado, o desenvolvimento de features que agreguem valor é uma necessidade imperiosa. Somando estas variáveis à necessidade de algumas especialidades, desenhamos um perfil de distribuidor com alta qualidade de serviços e escala”.

Agora, Rodrigo Carneiro leva suas ideias e seus ideais para a Andap – Associação Nacional dos Distribuidores de Autopeças na condição de presidente da entidade. Momento mais que oportuno para uma nova entrevista em que apuramos as metas da gestão e sua visão do mercado.

Novo Varejo – Quais são as prioridades da nova gestão da Andap?

Rodrigo Carneiro – A gestão está baseada em três pilares: relações institucionais, desenvolvimento de mercado, aprimoramento e ampliação de serviços. A ideia é que a Andap se torne um fórum de discussão do aftermarket sobre modelos de negócios. Também pretendemos ampliar os serviços nas mais diferentes áreas para levar mais competitividade às empresas associadas. Devemos trabalhar ainda mais próximos às Federações do Comércio e Confederação Nacional do Comércio.

 

NV – O mercado de reposição sempre teve certa carência de representatividade junto aos poderes da República. De que forma o aftermarket pode atuar para ganhar força na representação de seus interesses legítimos?

RC – Reunindo forças com as entidades que representam o setor, estabelecer um plano de trabalho com os temas centrais e estabelecer agenda de reuniões. Para isso, precisamos da participação de todos os representantes.

 

NV – Recentemente houve, mais uma vez, o adiamento da inspeção veicular. A medida surpreendeu? Quais as expectativas e ações possíveis para que o programa possa efetivamente ser implantado no Brasil?

RC – Mais uma vez fomos surpreendidos com esta decisão de interrupção da inspeção veicular. Agora precisamos mobilizar o setor e buscar formas para que o assunto volte à discussão. Não podemos ficar parados, enquanto 45 mil vidas são perdidas todos os anos em acidentes de trânsito no Brasil. É uma questão muito séria e que não pode ser negligenciada. A falta de manutenção dos veículos é uma das causas de acidentes de trânsito com mortes e, por isso, devemos continuar lutando pela causa. Nesse sentido, estamos, via Câmara Automotiva da Confederação Nacional do Comércio, agendando reunião junto ao Denatran, em Brasília.

NV – Uma questão importante e polêmica é a comercialização de componentes reaproveitados, hoje restrita a itens de lataria, acabamento e acessórios. Mas parece pairar constantemente uma ameaça de liberação também de itens mecânicos e de segurança. Como caminha e essa questão e de que forma o mercado tem se mobilizado?

RC – A lei do Desmonte 12.977/2014 prevê que peças mecânicas usadas sejam comercializadas. A regulamentação está tramitando. O GMA – Grupo de Manutenção Automotiva – tem participado deste trabalho e apresentado estudos que comprovam o risco que pode ocorrer com a venda de peças usadas de segurança, pois esses componentes interferem diretamente na estabilidade do veículo. Uma simples inspeção visual é não garante que estes itens estejam em boas condições. É um ponto de muita preocupação e as autoridades precisam se atentar para o perigo de liberar esses componentes.

 

NV – O segmento de distribuição de autopeças em particular sofreu nos últimos anos um processo de perda de rentabilidade. Quais foram as causas desse processo? É possível atuar no sentido de recuperar margens perdidas?

RC – Os altos custos das operações se devem à necessidade de abertura de filiais por causa da Substituição Tributária e infraestrutura logística deficiente que exige estar próximo dos clientes. Com a Substituição Tributária, a distribuição precisou antecipar a arrecadação do imposto de seu estoque antes mesmo de fazer a comercialização. O capital fica empatado, o que onera o processo e reduz a margem de rentabilidade. A entrada de importados também afeta o mercado e empurra os preços para baixo. O sistema de logística exige investimento para atender cada vez mais os frequentes pedidos fracionados do varejo que está diminuindo o estoque e fazendo mais pedidos com menos quantidade de itens.

Também o mercado dever rediscutir o modelo de negócio e buscar agregar valor na cadeia de distribuição para descomoditizar a oferta.

NV – Uma queixa antiga do varejo é a quebra da cadeia rígida que no passado regeu o mercado de reposição. Essa queixa é justa? Faz sentido imaginar que seria possível nos tempos atuais manter tal rigidez? Olhando para o futuro, todos os elos tendem a se manter ou é possível prever algum enxugamento?

RC – É claro que o mercado vem mudando muito e esse movimento vai continuar. Surgem novos modelos de negócios, como associações que reúnem distribuidores para compras coletivas, há formação de redes no varejo. Enfim, hoje é difícil ter apenas um formato. Mas pela capilaridade e a extensão do País, a distribuição, assim como o varejo, tem um papel extremamente importante e deve continuar. Existirão todas as formas de negócios.

 

NV – O mercado brasileiro vem assistindo à chegada de players globais atuando, sob diferentes modelos, especialmente nos segmentos de distribuição e varejo, inclusive a presença de um fundo internacional de investimentos. Qual sua visão sobre essa tendência? E quais os possíveis impactos para as empresas que permanecerem sozinhas no mercado?

RC – Justamente, o que eu acabei comentar. O mercado está em transformação e tende a se consolidar, o que não significa que só existirão grandes grupos; até pelas dimensões do Brasil não dá para ficar apenas com um modelo. Cada região possui características próprias. O que dá certo em um local, pode não dar em outro. Há exemplos de grandes redes que não conseguiram avançar por aqui. O Brasil tem um modelo muito específico e a reposição, ao contrário de outros países, é responsável por 80% da manutenção da frota circular, algo bem singular e que chama a atenção de investidores internacionais para o nosso mercado. Porém, o que dá certo na Europa, Estados Unidos e outros continentes pode não ter êxito aqui.

 

NV – A legislação tributária é apontada sempre como um entrave para o crescimento das empresas. No segmento da distribuição, a Substituição Tributária foi positiva ou precisa ser revista? Quais seriam as principais medidas de uma reforma tributária que garantisse mais justiça na comercialização de autopeças para o mercado de reposição?

RC – Para a distribuição, a Substituição Tributária é um fator complicador e que onera muito os custos. O distribuidor paga o tributo antes de vender, isso é muito prejudicial para o negócio. Além de não poder transferir mercadorias de uma filial para a outra. O ideal é que voltasse ao modelo débito crédito, como era anteriormente.

 

NV – Estamos prestes e eleger um novo presidente da República. Recentemente, o Novo Varejo entrevistou empresários do segmento varejista e detectou que seria desejável que o futuro chefe do Executivo fosse liberal e reformista. Em sua opinião, quais seriam os atributos indispensáveis para que o Brasil eleja um bom presidente da República?

RC – No cenário político atual, fica difícil definir o ideal, mas precisamos de renovação não apenas na Presidência, mas no Congresso Nacional e no Senado. Precisamos virar a página e dar chance a candidatos que desejam ingressar na política para ver se conseguimos construir um país melhor para as próximas gerações. Estas eleições podem ser um divisor de águas. É a minha expectativa e presumo que seja da maioria da população.

 

NV – O que o gestor do varejo de autopeças precisa fazer para manter sua empresa saudável e competitiva?

RC – A gestão é um ponto crucial de todo o negócio. As lojas vêm procurando profissionalizar cada vez mais a administração. Também é importante manter a equipe motivada e com metas, aperfeiçoar atendimento ao cliente, buscar formas de se comunicar, divulgar os produtos e manter um bom relacionamento com as oficinas para garantir fidelização e, acima de tudo, optar por marcas reconhecidas e que oferecem produtos de qualidade. O consumidor sabe que pode confiar, isso é fundamental.


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