Funcionário da Cruzeiro Autopeças, de Belo Horizonte, adquiriu seu xodó no mesmo ano em que teve seu primeiro filho, hoje apaixonado pelo automóvel
Por Lucas Torres (jornalismo@novomeio.com.br)
Na comemoração do primeiro semestre completo da série Meu Xodó, o Novo Varejo vai contar mais uma história de paixão entre um balconista e seu carro. Neste mês, vamos a Belo Horizonte, a capital de Minas Gerais, para conhecer mais uma relação muito especial.
Ex-funcionário de uma empresa focada na manutenção de automóveis importados, o balconista da Cruzeiro Autopeças, Edvaldo Cristiano de Souza, de 42 anos, alimentou durante muito tempo seu sonho de possuir uma BMW. Não movido pelo status, pelo caráter exclusivo ou ainda pela beleza do design do carro alemão, mas, sobretudo, pela singularidade do ronco de seu motor.
Em 2012, dois anos antes de ingressar na Cruzeiro – empresa em que atua há quatro anos –, Beto, como é conhecido pelos colegas mineiros, finalmente adquiriu seu objeto de desejo e passou a ser proprietário de uma elegante BMW 325I de 1995.
“À época foi um sonho realizado, pois eu me encantava por cada motor de BMW que roncasse nas dependências da empresa em que trabalhava”, conta o orgulhoso proprietário.
Como em uma dessas histórias que o destino parece ter escrito minuciosamente cada detalhe, o ano da aquisição de um xodó coincidiu com o nascimento de outra valiosa conquista de nosso personagem: 2012 marcou a chegada do único filho do balconista, David de Souza.
Seis anos depois, o bebê que chegou ao mundo, digamos, de BMW, é hoje uma criança apaixonada pelo elegante automóvel alemão. “É até engraçado. Hoje esse meu filho gosta mais do carro do que eu mesmo”, afirma o personagem.
O significado do automóvel para a família Souza não para por aí. Foi com a BMW que a família fez uma de suas viagens mais marcantes: para o Lago de Furnas – conhecido como O Mar de Minas, no memorável ano de 2012.
De lá para cá, aliás, pouca coisa mudou na BMW do balconista. Segundo ele, em todo esse período de uso dá para se contar no dedo as vezes em que o veículo apresentou problemas da manutenção – exceto por uma peça ou outra de revisão corriqueira que o personagem encontrou facilmente devido a seu trânsito no setor automotivo.
“Além da facilidade de manutenção devido aos contatos que a gente faz trabalhando no segmento, a atividade dentro do ramo automotivo, sobretudo da reposição, faz com que nós balconistas tenhamos uma sensibilidade e uma curiosidade diferente para com os automóveis. É imprescindível para o sucesso na profissão e parte fundamental desse sentimento que acabamos nutrindo pelos nossos próprios veículos. É bem legal”, exprime.
Novo sonho de consumo no radar do balconista
Acaba sendo difícil para quem tanto conhece peças, modelos e roncos de diferentes automóveis manter uma relação estritamente monogâmica com seus veículos – ainda que estes carreguem tanto significado como a BMW de Beto.
De acordo com o balconista, passados seis anos de lua de mel, seu automóvel atual tem deixado de ocupar a posição de sonho e tem dado espaço para outro clássico do automobilismo mundial. “A BMW já foi o carro dos meus sonhos, mas hoje é realidade. Meu sonho de consumo hoje é ter um Jaguar. Não que venha a substituir minha BMW, até porque meu filho não deixaria, mas para se somar a ele como uma espécie de dupla de xodós”, brinca.
Ainda que haja espaço para um “novo amor” em sua vida, no entanto, Beto deixa claro que ainda estremece e, por vezes, se emociona ao escutar o ronco singular de sua BMW ao ligar e ao sentir sua potência no esticar de uma estrada livre. “Ela é diferente”, finaliza.
Reinaugurando a importação de automóveis para o Brasil
Hoje nem todos se lembram, mas a importação de automóveis para o Brasil ficou proibida entre 1976 e 1990. O protecionismo resultou em acomodação para as montadoras que atuavam no país, distanciando nossos produtos de seus similares vendidos no primeiro mundo. Essa defasagem motivou o então presidente Fernando Collor a lançar uma de suas frases que entraria para a história do setor automotivo nacional: “os carros brasileiros são umas carroças”.
Foi no governo do próprio Collor que as importações, finalmente, voltaram a acontecer. E qual foi o primeiro modelo a entrar no Brasil após esse longo período? Exatamente uma BMW. No caso, uma 520i que entrou no país em 15 de junho de 1990 trazida pelo grupo Regino.
A partir daí, os portões foram abertos e escancararam o atraso de nossos automóveis. A abertura do mercado às importações foi decisiva para que as montadoras atuantes aqui, até então acomodadas, buscassem evolução e competitividade, resultando em novos e modernos produtos. Caso contrário, provavelmente ainda estaríamos andando de carroça.