Plasma, hemácias, leucócitos e plaquetas no mercado chinês? -

Plasma, hemácias, leucócitos e plaquetas no mercado chinês?

Ao contrário do que aconteceu no começo do século, o compromisso das marcas chinesas agora não é com o preço. Os carros trazem tecnologia de ponta, design atraente e – um diferencial decisivo – ampla oferta de eletrificação

As marcas de origem chinesa venderam mais de 300 mil carros no Brasil desde que se iniciou a segunda onda de desembarques no país. A abordagem do gigante asiático ao nosso mercado é marcada por dois movimentos distintos. As primeiras experiências tiveram início por volta de 2007 com a chegada da Effa Motors, seguida por montadoras como Chery, JAC, Lifan, Geely, Changan e Hafei. Alguns desses players simplesmente desapareceram no esquecimento. A estratégia, então, era oferecer automóveis baratos com uma alegada qualidade que acabou não sendo percebida pelos consumidores. Já a segunda onda parece bem mais forte e consistente. Com a luz verde dada por volta de 2018, dela fazem parte Caoa Chery, JAC Motors reposicionada, BYD, Great Wall Motors (GWM), Seres, Omoda & Jaecoo, Leapmotor, Zeekr, entre outras. Algumas ainda traçam os melhores caminhos para desembarcar aqui, outras já compraram instalações para produção local.

Ao contrário do que aconteceu no começo do século, o compromisso agora não é com o preço. Os carros trazem tecnologia de ponta, design atraente e – um diferencial decisivo – ampla oferta de eletrificação, que é exatamente o fiel da balança no que se refere à expansão gigantesca da indústria chinesa nos últimos anos. É claro que uma potência econômica com cerca de 1,5 bilhão de habitantes por si só já sustentaria números robustos. Mas a China não olha apenas para dentro: a eletrificação da frota global é o grande impulsionador das montadoras locais. No ano passado, a China vendeu um total de 31,4 milhões de veículos, 4,5% a mais que em 2023. Nos primeiros quatro meses de 2025, as vendas já chegam a 10 milhões de unidades, alta de 10,8% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Enfim, um cenário repleto de números que apontam para a prosperidade, mas… sempre tem um mas!

Agora, o contraponto foi trazido por ninguém menos que o fundador e presidente da GWM, uma das principais marcas locais e, atualmente, ícone da eletrificação também no mercado brasileiro.

Em entrevista à plataforma de informações financeiras online Sina Finance, Wei Jianjun não economizou palavras e soltou o verbo para dizer que a indústria automobilística chinesa é insalubre e está à beira do caos. Sem citar a marca – a mesma que vem inundando os portos brasileiros com milhares de carros trazidos por navios de dimensões estratosféricas – o empresário disse que um concorrente lidera uma ação de redução de preços que desencadeou pânico e guerra comercial.

Comparando o momento atual com a crise imobiliária chinesa da Evergrande, Wei Jianjun avaliou que a Evergrande das montadoras chinesas já começou, referindo-se a indústrias com dívidas excessivas que podem simplesmente quebrar. O executivo também se queixou da estratégia de venda de carros usados 0km – carros novos emplacados e comercializados como seminovos por preços menores para inflar os números de vendas.

A conjuntura é tão preocupante que o Goldman Sachs divulgou que o ciclo de guerra de preços pode resultar em um “banho de sangue” ainda neste ano. Uma crise chinesa é só o que falta neste sofrido mundo.


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