Política econômica de Trump começa a fechar as portas para o mundo -

Política econômica de Trump começa a fechar as portas para o mundo

O dia 9 de novembro de 2016 será lembrado por muito tempo como o marco da maior surpresa eleitoral do mundo democrático em todos os tempos. Em um primeiro momento essa frase pode soar como uma espécie de hipérbole sensacionalista. Entretanto, basta uma reflexão para compreender o caráter incomparável do choque causado pela vitória do outsider bilionário Donaldo Trump, eleito o novo presidente dos Estados Unidos.

Dono de um histórico de incontáveis polêmicas antes mesmo do ingresso na política, Trump subiu o tom na campanha presidencial e, apoiado no discurso de recuperação da grandeza americana, atacou aliados comerciais históricos; acordos recém-assinados, como o Acordo de Associação Transpacífico (TPP); e populações inteiras de países de maioria muçulmana.

Hoje várias das promessas eleitorais estão se concretizando e o que se vê é um governante disposto a romper com a política internacional adotada pelos Estados Unidos desde o pós-segunda-guerra e a fazer do protecionismo nacionalista sua principal bandeira.

Para discutir os efeitos dessas primeiras sinalizações e seus impactos econômicos no Brasil e no mundo, conversamos com o Economista-Chefe da Infinity Asset, Jason Vieira.

 

Prejudicados e beneficiados com a saída dos EUA do TPP

 Logo ao assumir a Presidência, Donaldo Trump retirou a assinatura dos Estados Unidos do recém-firmado Acordo de Associação Transpacífico (TPP). Considerado por muitos governantes e teóricos como maior acordo comercial do mundo no século XXI, o documento estabelecia livre-comércio entre países da Ásia, Oceania e das Américas do Sul e do Norte, entre os quais destacavam-se Japão, Austrália, Canadá, México, Nova Zelândia, Chile e, é claro, Estados Unidos.

De acordo com Vieira, é possível vislumbrar um cenário em que a China acabe assumindo um possível protagonismo no TPP. “Caso isso aconteça, ela assumiria o papel que seria exatamente criado para anula-la e avançaria mais sobre a economia dos EUA”, aponta.

O economista afirma ainda que a saída dos americanos do TPP não pode ser analisada como um movimento avulso e sim como uma clara posição de fechamento do país para o comércio exterior e a adoção de uma política de cunho protecionista, cenário que deve prejudicar diversos países ao redor do globo, inclusive os próprios Estados Unidos. “Isso irá prejudicar uma série de países, em especial o México, porém os próprios estadunidenses podem sofrer com uma economia menos dinâmica em termos globais”, analisa Vieira.

Aprofundando um pouco mais a análise, o entrevistado compara a situação americana com o protecionismo adotado no Brasil durante os últimos governos e considera o rompimento de Trump com as tradições liberais e expansionistas do país desde o final da segunda-guerra mundial como uma atitude perigosa. Ele acrescenta que o antídoto planejado por Trump para minimizar os efeitos costumeiramente advindos de políticas protecionistas não deve ser aplicável de maneira prática.

“Trump deseja um processo de reindustrialização dos Estados Unidos, algo que dificilmente ocorrerá, pois ele não conta apenas com o custo financeiro, mas também com o custo ambiental”, acrescenta.

Oportunidades para o Brasil

A posição do governo norte-americano quanto ao comércio internacional é vista por alguns economistas da comunidade brasileira como uma oportunidade para o país se engajar em novos acordos e expandir suas relações com as nações agora ‘órfãs’ da parceria estadunidense.

Dono de outro ponto de vista, Jason Vieira acredita que essa visão não corresponde com a realidade atual da economia brasileira. Para ele, desde a chegada de Henrique Meirelles à Fazenda e José Serra ao Itamaraty, o Brasil tem assumido uma postura mais proativa em termos de acordos internacionais e na sua postura comercial e diplomática. Porém muito ainda precisa ser colocado em prática, sobretudo no que diz respeito à competitividade nacional.

“Em termos globais, o maior problema do Brasil continua a competitividade, que, somada ao ‘Custo Brasil’, dificulta a posição do país para assumir um protagonismo maior em escala global”, opina.


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