O último final de semana de novembro agitou o universo das autopeças com a notícia da compra da renomada distribuidora de autopeças DPK pela Stellantis, grupo franco-ítalo-americano dono de marcas de destaque como Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën. Em 2023, a Stellantis consolidou sua liderança no mercado de automóveis leves, vendendo mais de 555 mil no Brasil.
Segundo projeções da Fraga Inteligência Automotiva, essa posição de destaque continuará firme, com a expectativa de ultrapassar 2.7 milhões de veículos até 2028. Durante o recente congresso da revista Auto Data, o CFO da Stellantis, Carlos Kitagawa, revelou um ousado plano de investimento no Brasil, destacando a produção nacional da plataforma Bio-Hybrid. Essa plataforma, compatível com motores flex, híbridos e elétricos, oferece três opções de hibridização: híbrido-leve(MHEV), híbrido convencional (HEV) e híbrido plug-in (PHEV). Enquanto a Stellantis projeta avanços significativos em seu core business, centrado na fabricação e venda de automóveis, chama a atenção a movimentação estratégica do grupo no mercado de reposição de autopeças. Esse setor, cada vez mais aquecido, tem sido alvo de investimentos, aquisições e parcerias, evidenciando sua crescente importância econômica.
A compra da DPK parece fazer parte da estratégia da Stellantis para expandir sua rede de distribuição de peças próprias no Brasil (Eurorepar, Mopar e Bproauto). De acordo com a Fraga Inteligência Automotiva, o país tem mais de 681 concessionários das marcas líderes do grupo (Fiat e Jeep). A integração da DPK a esse contexto sugere uma abordagem “faça você mesmo”, visando consolidar o sucesso no mercado por meio de suas próprias empresas ou concessionários.
Essa estratégia, embora ousada, enfrenta desafios no competitivo mercado de reposição. A DPK, com suas 18 filiais, está presente nos municípios que representam 42,42% do mercado, atendendo a mais de 846 cidades nas quatro grandes regiões do Brasil. No entanto, a estratégia da Stellan tis arrisca limitar as oportunidades de formar uma rede de distribuição mais ampla, envolvendo múltiplos distribuidores e com uma cobertura de mercado maior, uma vez que naturalmente irá aumentar significativa – mente a resistência dos demais agentes comerciais as marcas do grupo.
Apesar da tradição da DPK, a formação de uma rede mais diversificada, com distribuidoras nacionais e atacarejos regionais, poderia oferecer uma capilaridade maior com esforços equivalentes ou menores por parte da montadora.
Outro ponto que requer atenção dos executivos das empresas envolvidas na transação diz respeito à percepção de mercado em relação às marcas Eurorepar, Mopar e BPROAUTO sob o guarda-chuva do grupo Stellantis. Com a atual movimentação, além da resistência mencionada entre os distribuidores nacionais, essas marcas podem encontrar dificuldades de aceitação nos varejos e entre os reparadores, sendo vistas apenas como marcas próprias da DPK, e não necessariamente como marcas “originais de montadora”.
Embora as marcas próprias dos agentes comerciais estejam em ascensão, seu faturamento ainda se limita a 5% a 10% nos grandes agentes comerciais. Enquanto as especulações sobre os motivos e estratégias por trás dessa transação proliferam, a realidade dos fatos e a verdadeira estratégia por trás desse xadrez permanecerão reservadas aos executivos das companhias envolvidas. O que se torna cada vez mais evidente é que o segmento de reposição no Brasil atrai a atenção não apenas de players locais, mas também de grandes montadoras globais, indicando uma mudança notável no cenário automotivo que era difícil de imaginar em um passado recente. Desejo os mais sinceros votos de sucesso aos novos proprietários e aos profissionais da DPK, que a empresa continue trilhando o caminho da inovação e criatividade que sempre lhe foram características. Que essa nova fase seja marcada por mais investimentos e avanços no mercado de reposição brasileiro
