Produto chinês atende a diferentes exigências de qualidade -

Produto chinês atende a diferentes exigências de qualidade

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Por muitos anos o produto chinês foi visto com grande preconceito ao redor do mundo. No Brasil não era diferente. Tal como o clássico estigma que chama de ‘paraguaia’ a mercadoria falsificada, o termo ‘ching ling’ era – e ainda é – comumente destinado a produtos de qualidade inferior à disposição dos consumidores por preços fora da realidade do mercado.

A má fama advém de uma abertura de mercado que não mediu riscos, nem estrutura, no fim dos anos 70, início da chamada era pós-Mao Tse Tung, período em que o país era um grande canteiro agrícola fechado para uma globalização às vésperas de consolidar-se.

Sem contar com aparato tecnológico necessário, organização das instituições de trabalho e treinamento de mão de obra adequado, os primeiros anos de abertura chinesa exportavam mercadorias produzidas de forma amadora, muitas vezes na casa dos fornecedores ou em grandes balcões improvisados.

O cenário, entretanto, começou a mudar na metade dos anos 80, quando as principais multinacionais de todo o planeta enxergaram na força de trabalho barata chinesa uma grande oportunidade de baixar custos de produção.

Grande parte desse barateamento, entretanto, era motivada pela falta de regulações trabalhistas, o que permitia a utilização de expedientes já ilegais na maior parte do mundo como trabalho infantil, jornadas de trabalho comparáveis às do século XVIII e até atividade escrava. Essas características não só feriam os direitos humanos estabelecidos pela ONU, mas também prejudicavam a qualidade das mercadorias chinesas, mesmo aquelas produzidas sob a supervisão de multinacionais já consolidadas em todo o planeta.

Cenário

Quando pisou na China pela primeira vez em busca de motopeças para importar no ano 2000, era esse o cenário com que o diretor geral da Laquila, Eduardo Saul Trosman, se deparou. “Saímos de nossa primeira viagem assustados. Era tudo muito precário, sem estrutura e padronização. Tinha até trabalho infantil”, conta. Apesar do susto inicial, o empresário enxergou o potencial de crescimento naquele país, o que acabou se consolidando.

O empresário conta que já por volta de 2010 a situação era totalmente diferente e que, embora a mão de obra chinesa ainda fosse mais barata que a dos países mais desenvolvidos, já não existia ali um gap de qualidade. “Hoje o produto da China tem a qualidade que você quiser. É óbvio que ainda existe o produto paralelo ou ‘ching ling’, mas quem quer importar qualidade encontra produtos iguais aos oferecidos pelo primeiro mundo”, afirma, antes de complementar de forma enfática: “As multinacionais da Europa e Estados Unidos estão lá e estão muito mais estruturadas do que eram há 10 anos”.

O crescimento da qualidade do produto chinês, apontada pelo diretor da Laquila, foi possibilitada por dois fatores primordiais: a evolução estrutural da industria no país e o aprimoramento da mão de obra.

Naturalmente, o salto de qualidade resulta em elevação de custos, que já começam a ser acrescidos no preço dos produtos chineses. “A mão de obra na China está ficando mais cara, o que encarece a mercadoria produzida lá. Mas mesmo assim o preço chinês ainda é um dos mais competitivos do mundo e hoje, com a evolução da qualidade, apresenta uma relação entre custos e benefícios favorável”, finaliza Trosman.


Os impactos da crise

Desde o ano de 1995 a China se consolidou como o único país do mundo a apresentar anualmente crescimento de dois dígitos em seu Produto Interno Bruto. A partir do ano passado, entretanto, a roda da economia chinesa parece estar começando a girar mais devagar.

Em 2015 o PIB do país asiático cresceu 6,9%, menor alta em 25 anos, acendendo a luz de alerta do mundo, sobretudo dos países emergentes/em desenvolvimento, caso do Brasil, para um possível arrefecimento da economia chinesa.

Para Eduardo Trosman, da Laquila, essa diminuição de ritmo se deve a uma crise global que reduziu a movimentação de mercados como o dos países da zona do euro e o dos Estados Unidos, e tem afetado de forma substancial o dia-a-dia dos chineses. “O mundo inteiro está comprando menos. Eu diria que o mundo inteiro está em crise. Muitas vezes nos é colocado que a crise chinesa é pequena devido aos índices ainda positivos, mas ela não é. Na minha última visita, no mês passado, pude ver algumas fábricas fechando por lá em razão dessa crise”, relata.

Perguntado sobre os efeitos nas relações comerciais Brasil-China, Trosman afirma que eles ainda não ocorreram e as relações seguem saudáveis.

 


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