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Profissionalizando recursos humanos do varejo brasileiro

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Tradicionalmente o setor com maior índice de geração de empregos no país, o varejo tem vivido ao longo dos anos em uma espécie de ‘ilha de isolamento’ que o aparta das principais ações governamentais e da política educacional brasileira. Esse cenário, que se desenhou pelo constante direcionamento das políticas públicas nacionais ao setor industrial e ao agronegócio, provocou um amadurecimento tardio do varejo – sobretudo no aspecto de profissionalização de gestão e recursos humanos. Sem esmorecer diante dessas pedras no caminho, os varejistas nacionais foram aos poucos se organizando em instituições independentes a fim de trazer a modernidade ao setor que, no Brasil, ainda convive com uma boa escala de carências. Uma dessas instituições é o Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (IBEVAR) que tem como um de seus pilares o ideal de capacitação e consolidação de uma mentalidade desenvolvimentista. A principal ação desse pilar, a Academia do Varejo – instituição de ensino que oferece cursos de graduação e pós-graduação exclusivas para o segmento – surgiu com o intuito de mostrar aos colaboradores varejistas que existe de fato uma oportunidade e crescimento profissional no setor, bem como tirar definitivamente o varejo brasileiro do que chamou de ‘era familiar’. Apoiador de ações que, como essa, transcendem a constante falta de apoio do estado ao varejo nacional, o Novo Varejo foi conhecer um pouco mais sobre a instituição de ensino varejista em uma conversa com a presidente da Academia de Varejo & Diretora Vogal do IBEVA, Andrea Securato.

 

Novo Varejo – Como surgiu a ideia de dedicar uma unidade acadêmica exclusivamente ao varejo?

Andrea Securato – Somos uma instituição de ensino direcionada pela excelência e aspectos práticos da educação. A Academia de Varejo surgiu com o intuito de mostrar ao setor varejista a importância da capacitação. Os colaboradores que trabalham na área de varejo não olhavam o setor como uma oportunidade de crescimento profissional e carreira. Queremos mostrar o contrário, que há uma oportunidade imensa para as pessoas que atuam neste setor. Hoje, podemos dizer tanto ao vendedor de loja que ele pode trilhar uma carreira profissional quanto ao profissional que já atua há muitos anos na área que ele pode se desenvolver na empresa em que trabalha. Sempre buscamos oferecer o conhecimento aliado à pratica profissional, uma vez que os nossos professores são atuantes no mercado. Queremos aplicar conhecimentos que vão além dos livros e exigimos, de nossos alunos, maior participação em sala de aula para que eles possam trocar experiências de varejo.

NV – Historicamente, o varejo é o setor que mais emprega no país. Entretanto, há dificuldades para profissionalizar os gestores e colaboradores do setor, uma vez que a política governamental foi, ao longo dos anos, prioritariamente voltada à indústria. Esta tendência está mudando?

AS – Com certeza! Os gestores que atuam no varejo entenderam que apenas a experiência não contribui para o crescimento de um profissional. É necessário capacitá-lo para um melhor desempenho dentro da empresa. Sabemos que o conhecimento aliado à pratica permite que a o colaborador cresça e, consequentemente, a empresa possa alcançar um patamar de excelência, resultando em um melhor ambiente de trabalho. Temos trabalhado com diversos treinamentos nas empresas varejistas e em diversas áreas. As empresas entenderam que investir na capacitação profissional de seus colaboradores é algo valioso, pois profissionais capacitados geram melhores resultados que, por sua vez, gera crescimento.

NV – Muito se fala sobre o caráter selecionador da crise, ou seja, sobre a possibilidade de a crise brasileira acabar eliminando do mercado os menos preparados. Isso ocorre na prática?

AS – É fato que profissionais mais capacitados terão destaques dentro das empresas, pois é provável que aqueles que não buscarem conhecimento durante este período ficarão para trás. Nosso quadro de alunos conta com pessoas dos mais diferentes perfis em busca de uma recolocação no mercado e querem atualizar seus conhecimentos. Há também aqueles profissionais que estão à procura de novos desafios dentro da empresa em que já trabalham e, para isso, buscam se capacitar para apresentar resultados mais assertivos aos seus gestores e, com isso, conquistarem uma promoção.

NV – Qual é o perfil dos alunos da Academia de Varejo? O profissional recém-saído da universidade ou há, também, aquele varejista mais antigo que deseja se capacitar para profissionalizar a administração do seu negócio?

AS – Temos os dois perfis. Temos alunos recém-formados que estão buscando melhores resultados dentro da empresa e, por este motivo, querem entender melhor sobre o setor varejista, e também os profissionais mais “antigos”, que possuem ampla experiência prática, porém, necessitam entender os novos conceitos de mercado e consumo. Tanto o perfil mais jovem quanto o mais “antigo” trazem para a sala de aula as suas experiências e conhecimentos e ajudam a criar um ambiente de aprendizagem mais dinâmico e prático.

NV – Qual é sua avaliação sobre os principais sinais de recuperação do consumo no país? É possível adotar uma postura mais otimista?

AS – Os especialistas apontam para uma retomada do varejo entre o fim de 2017 e o início de 2018. O momento exato, entretanto, é desconhecido, pois depende de fatores econômicos e políticos, bem como do setor de representação. Setores que dependem mais de crédito e possuem fluxo mais longo, como material de construção e eletros, por exemplo, tendem a demorar mais para voltar à normalidade. A crise existente no varejo é uma crise de confiança, que, por sua vez, desencadeia em uma crise financeira pela insegurança do brasileiro em investir e comprar bens. Somente com a retomada da confiança, que depende da efetividade da adoção das medidas econômicas propostas, é que o varejo voltará ao seu ritmo normal.

NV – Você também é diretora vogal do IBEVAR. Qual é o papel da entidade? O Instituto possui alguma representatividade junto aos órgãos governamentais brasileiros?

AS – O Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (IBEVAR) surgiu com a missão de desenvolver o executivo de varejo e o mercado de consumo, com a formação e a troca de experiência entre estes profissionais. Não é um papel político e de representatividade e, sim, de desenvolvimento destes executivos por meio de conteúdos e vivências compartilhadas. O varejo brasileiro, ainda muito familiar, carece desse compartilhamento e entendimento mútuo entre os diferentes segmentos. O IBEVAR possui como pilares o conteúdo (pesquisas primárias e secundárias que mantém os profissionais atualizados), o networking (facilitador da troca de experiências) e os negócios entre as empresas do setor.

NV – É possível mensurar o envolvimento de varejistas de autopeças nos cursos da Academia de Varejo?

AS – A reposição automotiva, assim como muitos setores do varejo brasileiro, é caracterizada por empresas de gestão familiar, com base em princípios de replicação das estratégias implementadas pelos gestores anteriores. Os canais deste mercado também têm sofrido alterações com o aprendizado de que os conceitos de gestão são capazes de otimizar os processos de venda e estoques, garantindo, assim, maior resultado de curto e longo prazos. Algumas empresas de reposição automotiva têm modificado o mercado, com modelos de negócios diferenciados, baseados em e-commerce, gestão compartilhada de estoques e entendimento dos comportamentos de consumo. É uma mudança do paradigma de reposição para o de solução para o cliente. Os cursos da Academia de Varejo são voltados para a formação do profissional de varejo de qualquer setor. Em nossa faculdade, por exemplo, vemos líderes de negócios do setor automotivo e de concessionárias que necessitam desse aprendizado básico de gestão de operações de maneira prática e aplicada. No nosso “MBA Varejo, Distribuição e Mercado de Consumo”, temos como alunos donos e gerentes de lojas que desejam aprimorar a sua gestão e tomada de decisão.

NV – Como você avalia a posição do varejo nacional em um contexto macro? Como ele está colocado na comparação com o varejo das principais economias do mundo?

AS – O varejo brasileiro ainda é um jovem adulto comparado aos modelos internacionais. O modelo de varejo no Brasil surge, tal qual modelo de negócio, em 1994, após a introdução do Plano Real. O que se tinha antes era um modelo de negócios diferenciado, pautado em ganhos financeiros oriundos da inflação. Só para ter uma ideia, em alguns segmentos de varejo, como o de supermercados, era comum que 80% de seus faturamentos se dessem em um único dia. Com a implantação do Plano Real e a estabilização da moeda, as empresas tiveram que se reinventar, com adaptação dos conceitos internacionais e criação de novos modelos de gestão. Por isso, dizemos que o varejo brasileiro ainda é jovem, já que, nesse formato, ele tem apenas 22 anos. Muitas empresas ainda estão aprendendo a lidar com este novo cenário, com o choque das gerações e de gestão, e necessidade de profissionalização. Em contrapartida, durante todo este tempo, os modelos internacionais se desenvolveram, possuindo graus de maturidade totalmente diferentes, bem mais evoluídas.

NV – O varejo nacional já se adaptou de forma satisfatória às plataformas digitais e às novas exigências do consumidor do século XXI?

AS – O varejo nacional vem se modernizado ao longo dos anos. Temos falado e ouvido muito a respeito de e-commerce, novos perfis de consumo, experiências de compra. Todos esses conceitos mostram o quanto é importante buscarmos conhecimento para este setor, tendo em vista que, hoje, os consumidores não buscam apenas comprar, mas interagir com a empresa que vende os produtos e serviços que eles adquiriram. Aqui, na Academia de Varejo, temos buscado oferecer aos nossos alunos esse conhecimento do novo “varejo nacional”. Um dos nossos cursos, por exemplo, a pós-graduação em “Varejo Físico e Digital” possui temas ligados a esse assunto como Comportamento do Consumidor, Marketing Digital, Omnichannel Trade Marketing, entre outros, que levam essa questão das plataformas digitais aliadas à loja física e também às novas tendências de consumo. Sabemos que há muito para evoluir no varejo nacional e que, a cada dia, teremos que buscar novos conhecimentos. E no que depender da Academia de Varejo, iremos contribuir com as melhores práticas profissionais aos nossos alunos atuantes da área varejista.


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