Programa de incentivo à qualidade avança na reposição -

Programa de incentivo à qualidade avança na reposição

Aftermarket dispõe de ferramentas efetivas para qualificar o mercado. O problema é que a utilização dos recursos está abaixo do necessário

 

Por Claudio Milan ([email protected])

O setor automotivo acelera rumo à indústria 4.0, ao carro conectado e autônomo e à eletrificação da frota. São novas, revolucionárias e irreversíveis tecnologias que promoverão uma revolução no mercado. Em pouco tempo, teremos automóveis muito mais avançados e complexos. Mas e quando esses carros chegaram ao mercado de reposição?

A pergunta foi colocada por Sergio Alvarenga, diretor executivo do Sindirepa Nacional, em sua apresentação no 6º Fórum IQA da Qualidade Automotiva, realizado em 10 de setembro em São Paulo. “As novas tecnologias exigirão um investimento altíssimo e o que me preocupa é que o veículo, depois de colocado em uso, no pós-venda é um pouco deixado à mercê, não pela indústria, mas pelo próprio mercado. E é aí que começa o nosso problema. Temos que cuidar do veículo em uso, o que significa a vida útil inteira. É preciso que haja regulação, caso contrário começam a aparecer os problemas.

Para adequar o mercado a este novo horizonte que se aproxima rapidamente, Sergio Alvarenga exalta a evolução das ações e regulamentações visando à qualidade no aftermarket e cobra a utilização das ferramentas. “Nos últimos anos diferentes regramentos entraram no nosso setor com foco na qualidade. Ocorre que não se usam muito essas ferramentas. Temos que usar o regramento que a gente criou. Normas de serviços e normas de qualificação do mecânico existem, a peça tem que ser manuseada por um profissional automotivo, tem que estar na embalagem. E seria importante haver ainda mais obrigatoriedades na certificação de peças”.

Em 2018, o aftermarket ganhou o Programa de Incentivo à Qualidade, que Sergio Alvarenga considera fundamental. “O PIQ resgata a qualidade em um setor. É importante que o pessoal da engenharia, seja nas indústrias de autopeças ou montadoras, discuta mais com seu pessoal de aftermarket e pós-venda os caminhos em direção ao PIQ. Isso representa exatamente os pontos que podem ser o equilíbrio, a equação perfeita, para os temores que envolvem, por exemplo, as ameaças ao carro conectado e os riscos de manuseio daqueles que não têm competência para mexer no carro ou nas peças. Se o Brasil tem a ferramenta proporcionada com a criação do IQA em 1994, basta saber usar o órgão acreditado do Inmetro para fazer a operação, esse é o nosso pleito em relação ao PIQ, que está avançando numa velocidade incrível, com forte adesão. Muitas companhias de seguros, assim como algumas indústrias de peças que mantêm redes de serviços, estão conosco nessa empreitada. A disseminação do Programa de Incentivo à Qualidade permite evitar custos de garantia de autopeças e o desgaste na imagem do veículo”.

 

Complexidade da cadeia dificulta padronização e definição de política setorial

O gráfico acima, exibido por Sergio Alvarenga no Fórum IQA, traz uma visão simplificada da cadeia automotiva em que fica clara a transição da previsibilidade para a incerteza. É fácil enxergar a previsibilidade e padronização na montagem e produção mas, quando o veículo chega ao mercado de reposição, encontra incerteza e variabilidade. “É um desafio gigantesco. A logística de disponibilidade dos componentes ainda é um problema gravíssimo no Brasil – eu diria que não está corrigido no mundo inteiro, mas aqui, e na América Latina como um todo, os problemas são mais complexos. Se confundia muito no passado desabastecimento com disponibilidade; uma coisa é você não ter o componente no país, outra é não encontrar o componente. Essa é a dificuldade num país da dimensão do nosso”, avalia.

Focando ainda mais no mercado de reposição, Alvarenga critica a cultura da “produção empurrada” que sempre existiu no Brasil. “Ou seja, você empurra para o próximo elo da cadeia. Não se estuda demanda, se estuda uma produção e empurra, coloca para o próximo elo. No Brasil empurramos até o imposto como estoque na cadeia seguinte, que é outra perversidade que temos”.

O diretor do Sindirepa defende que seria importante a cadeia automotiva valorizar todo o conjunto de elos que a compõem e não apenas o step seguinte. “Temos que lutar na mesma direção, colocar um regramento mais claro. Existe o órgão acreditado do governo, que disponibiliza o regramento acreditado pelo governo, que é baseado na norma. Com isso você impulsiona o setor de serviços, que é gigantesco. Porque se você for esperar o estado fazer isso, fica complicado”.

Outro problema que aflige o aftermarket automotivo como um todo é a própria complexidade das relações comerciais na cadeia em que, hoje, todo mundo vende para todo mundo. “O grau de dificuldade é imenso. Cada um vende para quem pode vender, imagine como fica a cabeça do consumidor final, seja frotista ou particular, e as dificuldades que ele encontra num setor tão complexo. É um trabalho maluco se definir uma política para esse setor”.


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