A partir de janeiro de 2026, a principal entidade representativa dos reparadores independentes do Brasil estará sob nova direção. Atual vice-presidente do Sindirepa Nacional e presidente do Sindirepa-MG, Alexandre Mol assumirá o comando da entidade com a missão de ampliar a representatividade do setor e fortalecer a capacitação técnica e gerencial das oficinas de todo o país.
Mol chega ao cargo embalado pelos resultados de um projeto inovador recentemente executado em Minas Gerais. Em parceria com o Procompi (Programa de Apoio à Competitividade das Micro e Pequenas Indústrias), o Sindirepa-MG promoveu a capacitação e revitalização de 15 oficinas mecânicas, levando melhorias expressivas em gestão, produtividade e estrutura física.
O projeto foi desenvolvido ao longo de 2024 e aplicou metodologias de diagnóstico empresarial, consultorias personalizadas e reestruturação operacional em pequenas e médias oficinas. Em média, as participantes alcançaram aumento de produtividade de até 30% e redução de custos operacionais próxima de 40%, além de aprimoramentos em layout, controle financeiro e atendimento ao cliente, resultados que consolidaram o programa como um case de transformação da reparação independente mineira.
O programa, que combinou consultorias individuais e treinamentos coletivos, já é apontado como um modelo a ser replicado em âmbito nacional.
Para entender como iniciativas como essa podem inspirar a nova fase do Sindirepa Nacional – e quais serão as prioridades da liderança de Mol –, o Novo Varejo Automotivo conversou com o executivo.
Na entrevista, ele destacou temas como a profissionalização da reparação independente, o impacto das novas tecnologias na rotina das oficinas e a importância da união entre os elos do aftermarket por meio da Aliança Aftermarket Automotivo.
Veja abaixo a íntegra da entrevista e conheça os próximos passos da política nacional de fortalecimento da reparação automotiva.
Novo Varejo – Recentemente, a ação conjunta entre Sindirepa-MG e Procompi que capacitou e revitalizou 15 oficinas do estado de Minas Gerais foi destaque no Portal da Indústria. De onde surgiu a ideia deste projeto?
Alexandre Mol – Esse projeto é o Procompi, que é o Programa de Apoio à Competitividade das Micro e Pequenas Indústrias. Ele é coordenado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e executado pelo IEL, com o apoio do SEBRAE e da FIEMG. Nós, do Sindirepa-MG, entramos como parceiros dessa iniciativa para aplicar o programa nas oficinas de reparação automotiva do nosso estado. A ideia surgiu da necessidade de desenvolver o setor em aspectos de gestão, produtividade e competitividade. Queríamos trazer para o ambiente da reparação automotiva uma metodologia que já deu certo em outras áreas da indústria, adaptando-a à realidade das oficinas.
Novo Varejo – Quais foram os problemas mais comuns identificados nas oficinas que participaram da ação?
Alexandre Mol – A gente identificou problemas muito recorrentes em oficinas de pequeno e médio porte, como falta de controle financeiro, ausência de processos padronizados, layout inadequado e dificuldades na gestão de estoque e atendimento. Em muitos casos, os empresários até tinham consciência desses desafios, mas não sabiam por onde começar. O programa ajudou justamente nisso: a identificar as prioridades e colocar a casa em ordem. Em alguns casos, o aumento de faturamento foi expressivo, e o empresário passou a enxergar o negócio como uma empresa, e não apenas como uma oficina.
Novo Varejo – Que critérios foram utilizados para selecionar as oficinas participantes? Eles se manterão durante as próximas edições?
Alexandre Mol – Nós usamos critérios técnicos e de engajamento. Buscamos empresas formalizadas, com CNPJ ativo, que tivessem o desejo de crescer e estivessem dispostas a seguir todas as etapas do programa. A seleção também considerou a localização e o perfil de atuação das oficinas, justamente para garantir uma boa representatividade. Esses critérios devem se manter nas próximas edições, porque eles garantem que o investimento traga resultado. A ideia é ampliar o alcance do projeto, mas sempre mantendo essa base de comprometimento dos participantes.
Novo Varejo – Com a sua iminente posse no Sindirepa Brasil, como você vê a possibilidade deste projeto ser ampliado para todo o país?
Alexandre Mol – Esse é um dos nossos principais objetivos. Nós queremos levar essa experiência de Minas Gerais para todo o Brasil. O Procompi mostrou resultados muito positivos e se encaixa perfeitamente nas necessidades da reparação independente de outros estados. Vamos trabalhar junto à CNI, ao SEBRAE e às federações das indústrias regionais para replicar esse modelo. A ideia é criar uma rede nacional de capacitação, em que os Sindirepas estaduais tenham autonomia, mas compartilhem a mesma metodologia.
Novo Varejo – Como você vê o atual estágio de maturidade da cadeia de reparação independente do país para responder à potencial demanda gerada pelo aumento da presença de carros elétricos e híbridos? Será preciso fazer um trabalho de incentivo nesse sentido, tanto no aspecto da capacitação quanto no de investimento em equipamentos e ferramental?
Alexandre Mol – Eu acredito que o reparador brasileiro não encontra barreiras técnicas que não consiga superar. Temos muitos profissionais competentes, que estão sempre buscando atualização. O que precisamos é garantir acesso à informação e a treinamentos de qualidade. Em Minas Gerais, já promovemos cursos sobre veículos híbridos e elétricos em parceria com o IQA e empresas como a Bosch, e o resultado foi excelente. Claro que será preciso investir em ferramental e infraestrutura, mas vejo o híbrido como um caminho mais viável para o Brasil neste momento, por conta da nossa matriz energética e da falta de estrutura para o elétrico puro.
Novo Varejo – Quais devem ser as prioridades iniciais da sua gestão?
Alexandre Mol – Vamos trabalhar para ampliar a representatividade do Sindirepa Nacional. Queremos aproximar os sindicatos estaduais, fortalecer o diálogo com o governo e com outras entidades e levar mais capacitação e serviços para os associados. Outra prioridade é aumentar o alcance da nossa atuação. Hoje, o Sindirepa representa, principalmente, o setor de mecânica leve, mas queremos abraçar também os segmentos de motocicletas, retíficas e convertedores de GNV. Vamos trabalhar por uma entidade nacional mais abrangente, moderna e preparada para os desafios tecnológicos do setor.
Novo Varejo – De que maneira você vê o atual posicionamento do Sindirepa na Aliança Aftermarket Automotivo? Vocês enxergam que a união dos diversos elos da reposição tem fortalecido as pautas da reparação junto aos fabricantes e ao poder político?
Alexandre Mol – Sem dúvida. A Aliança Aftermarket Automotivo é uma conquista muito importante. Ela mostra que o setor entendeu que, para ser ouvido, precisa falar em conjunto. Esse fórum reúne fabricantes, distribuidores, varejistas e reparadores, e isso fortalece a cadeia como um todo. Temos desafios comuns, como o acesso às informações técnicas e o direito de reparar, e é fundamental que enfrentemos isso de forma unida. Nosso objetivo é continuar fortalecendo esse diálogo, buscando sempre soluções conjuntas e evitando o caminho do conflito.










