A CLEPA – Associação Europeia de Fornecedores Automotivos realizou nos dias 20 e 21 de março a 15ª edição da Conferência de Reposição. E o momento é oportuno para o debate: segundo avalia a própria entidade, o aftermarket automotivo no continente enfrenta um cenário transformador moldado por políticas de sustentabilidade, avanços tecnológicos e quadros regulatórios em evolução. O evento aconteceu em Bruxelas e reuniu 250 participantes, entre eles formuladores de políticas, especialistas e tradicionais formadores de opinião que apresentaram insights e orientações estratégicas para um ecossistema de mobilidade mais competitivo.
Neste ano, a conferência teve como tema “Soluções Digitais e Sustentáveis para um Mercado de Reposição Competitivo” e teve entre os destaques importantes palestrantes da Comissão Europeia e da indústria.
“Alcançar estratégias de sustentabilidade só será possível com o apoio público para a desmitificação dos investimentos em novas tecnologias e regras que sejam coerentes e consistentes com os objetivos políticos. Olhando para as eleições europeias, vimos cinco anos de atividade política e regulatória sem precedentes – agora é hora de focar na implementação dessas políticas”, disse Benjamin Krieger, Secretário-Geral da CLEPA, em seu discurso de abertura. Na sequência das boas-vindas, o presidente da associação, Matthias Zink, reafirmou seu compromisso em moldar políticas que promovam a ação climática enquanto apoiam uma indústria da UE competitiva: “O quadro regulamentar geral na Europa deve permanecer ambicioso, porém flexível, para capacitar a inovação contínua e permitir que todas as soluções desempenhem seu papel. Isso nos ajudará a alcançar nossos objetivos mais rapidamente e de forma mais eficiente, além de atender à escolha do consumidor”.
INOVAÇÃO
Nesta 15ª edição, o evento contou com a participação de 10 startups inovadoras que apresentaram tecnologias de ponta em eletrificação, sustentabilidade, big data e inteligência artificial, oferecendo uma antevisão dos futuros serviços no mercado de reposição. A canadense BL Innovare venceu o ‘melhor pitch’ por apresentar um sistema de inspeção drive-thru sem contato, capaz de capturar milhares de medições por segundo, oferecendo uma verificação abrangente do veículo, desde a documentação da forma externa do carro até a medição dos ângulos de alinhamento das rodas. No segundo dia da conferência, a primeira sessão focou o ambiente legislativo e as perspectivas de mercado para o aftermarket automotivo europeu, preparando o terreno para discussões sobre tendências da indústria e desenvolvimentos regulatórios. Debbie Capell, da S&P Global, delineou as principais tendências que impactam o mercado de reposição europeu, incluindo eletrificação e o aumento dos veículos elétricos a bateria chineses. Louise Wohrne, Presidente do Fórum de Sustentabilidade do Mercado Automotivo (FAAS), destacou o compromisso da associação em promover a sustentabilidade ao longo da cadeia de valor no mercado de reposição. Mariam Lochoshvili, da Próxima Geração do Mercado Automotivo (NAAG), concentrou-se em como a aquisição e retenção de talentos podem ser melhoradas na indústria automotiva. Sebastian Kempf, da McKinsey, apresentou um estudo de caso demonstrando como a inteligência artificial generativa está desbloqueando novas oportunidades na mobilidade e no mercado de reposição, aproveitando a complexidade do negócio de reposição para impulsionar soluções baseadas em IA.
REPARAÇÃO
Na segunda sessão, Marcus Sacré e Thomas Funke, da Osborne Clarke, apresentaram uma palestra sobre a relevância da legislação de Informações de Reparo e Manutenção (RMI) e do Regulamento de Isenção de Bloco de Veículos a Motor (MVBER), destacando os desafios de aplicação. Esta apresentação foi seguida por um painel de discussão focado em como manter um campo de jogo equilibrado para reparadores de veículos. O painel contou com a participação de Mark Nicklas, chefe da Unidade de Mobilidade da Direção-Geral de Mercado Interno da Comissão Europeia, Laurianne Krid da FIA Região I, Jeremy Smith da Belron e Jan-Willem van der Linden da CECRA. As discussões giraram em torno do papel do quadro legal na manutenção da competitividade entre os players do mercado de reposição.
Enquanto a legislação específica do setor sobre acesso a dados permanece em discussão na Comissão, o painel enfatizou a prioridade imediata de regular o acesso seguro ao Diagnóstico a Bordo (OBD) e garantir a instalação segura de peças de reposição. A CLEPA pede uma legislação específica do setor e apoia a intenção da Comissão de regular o acesso seguro ao OBD apenas se cobrir todas as interfaces de veículos. Um consenso foi alcançado sobre a necessidade de um quadro legal claro para manter a concorrência e a escolha do consumidor, com a legislação RMI e MVBER emergindo como pilares essenciais com relevância crescente no futuro.
A última sessão destacou o impacto da tecnologia de IA e eletrificação no mercado de reposição. Stefan van Dalen (Hella), Adnan Cemal (Hella Gutmann) e Bastian Mertens (AHEAD Automotive) apresentaram soluções de serviço pós-venda alimentadas por inteligência artificial projetadas para ajudar técnicos a navegar nas complexidades de várias tecnologias. Alma Oprasic (Exfluency) apresentou uma ferramenta de tradução utilizando IA para documentação técnica multilíngue e manuais de reparo. Richard Stooß (Authentic Vision) e Alfred Wimmer (Dana) mostraram sua abordagem para o envolvimento inteligente do cliente por meio da autenticação segura de produtos. Bas Wintjes (WESP) explicou como os dados podem ser usados para tornar as oficinas de reparação ainda mais eficientes e lucrativas, e Marlies Doornenbal (Auto Totaal Houten) e Michael Dittmar (Dittmar & Stachowiak) concluíram a sessão enfatizando a importância de investir na capacidade de oferecer serviço e manutenção para veículos elétricos a bateria. Frank Schlehuber, Consultor Sênior de Assuntos de Mercado da CLEPA, encerrou a 15ª edição da conferência com uma nota otimista: “Estamos no caminho certo rumo à sustentabilidade, e tecnologias como IA são fundamentais para simplificar processos para uma transformação verde e digital. O foco da Comissão em formular uma nova regulamentação para acesso seguro aos sinais OBD sinaliza progresso, mas o desafio permanece em estender essa solução geral a todas as interfaces de veículos disponíveis. Convido a todos a advogarem pelo acesso seguro e justo às interfaces de veículos, essencial para sustentar um ecossistema de mobilidade verde e competitivo, assim como acessível e amigável ao consumidor, na Europa”.
