Renovar é preciso -

Renovar é preciso

O nível de exigência dos consumidores hoje, bem como a evolução tecnológica dos veículos, não permite mais a oferta de “pés de boi” no mercado. Ninguém abriria mão de uma direção assistida, vidros e travas elétricas e ar-condicionado para ter acesso a um carro 0km.

Claudio Milan [email protected]

O assunto mais importante deste mês no setor automotivo foi o programa de incentivo à redução de preços dos veículos leves que custam até 120 mil reais. A ideia nasceu de uma queixa do presidente da República sobre a impossibilidade de aquisição de um carro 0km por parte da classe C e camadas mais populares da sociedade.

A realidade, hoje, é ainda mais dramática: com juros nas alturas e preços partindo dos 68 mil reais, até para a classe média a compra de um carro novo parece distante. E a escalada não para. De acordo com estudo da Jato Dynamics, o preço médio do 0km subiu 90% em cinco anos. Em agosto de 2017, participamos em São Paulo do evento de apresentação à imprensa do Renault Kwid. Ele já nascia com a proposta de ser o carro mais barato do Brasil. E era. O preço? Partia de R$ 29.990. É isso mesmo que você leu. Hoje, o valor de tabela do mesmo carro é R$ 68.990, sem o desconto do programa do governo. São 130% de reajuste em menos de seis anos! Um absurdo, um escândalo, uma galhofa com o consumidor brasileiro. E, claro, esta barbárie não diz respeito apenas à marca francesa.

O cenário inevitavelmente é um convite a atitudes populistas. Assim como Itamar Franco ressuscitou o Fusca em 1993, Lula lançou o balão de ensaio do retorno dos carros populares ao mercado. Mais um exemplo de solução simples – e ineficaz – para problemas complexos.

O nível de exigência dos consumidores hoje, bem como a evolução tecnológica dos veículos, não permite mais a oferta de “pés de boi” no mercado. Ninguém abriria mão de uma direção assistida, vidros e travas elétricas e ar-condicionado para ter acesso a um carro 0km.

A solução encontrada, para desgosto do ministro da Fazenda, foi um programa capenga que concede R$ 1,5 bilhão em créditos tributários para os fabricantes de veículos. Apenas R$ 500 milhões foram destinados aos automóveis leves – incentivo que, segundo a Anfavea, acaba um mês após a implantação. Com essa ajudinha, os carros mais baratos do país – Fiat Mobi e o próprio Renault Kwid – passaram a custar R$ 58.990. Um bom desconto, é verdade, de R$ 10 mil. O governo e parte da imprensa chamam a iniciativa de Programa do Carro Popular. Das duas, uma: ou povo está sendo muito bem remunerado no Brasil ou assistimos a um escárnio. E sabe do que mais? Parte do incentivo virá da antecipação da reoneração do preço do diesel, combustível responsável pelo transporte da maior parte das riquezas do país.

Nesta edição do Novo Varejo Full Digital, tratamos da importância da renovação de frota para o aftermarket automotivo. Mas sob uma abordagem de longo prazo e muito mais séria do que a cortina de fumaça do governo. A estagnação prolongada da venda de carros 0km é um problema contratado para os próximos anos no mercado de reposição. É preciso, sim, pensar na renovação da frota. Mas com estudos profundos, debates com a sociedade e o setor automotivo, seriedade e sem populismo.


Notícias Relacionadas