Representante comercial leva terapia do riso a profissionais do Aftermarket Automotivo -

Representante comercial leva terapia do riso a profissionais do Aftermarket Automotivo

Saiba como a técnica surgida na Índia pode melhorar o desempenho de profissionais como os balconistas de autopeças

Lucas Torres [email protected]

Cobrança por produtividade, avaliação de metas de vendas, ameaça de desemprego… A carga de stress incidente sobre o cotidiano do profissional contemporâneo é enorme e pode – no fim das contas – ser um dos principais inimigos da qualidade de entrega de seu  trabalho. Reconhecendo este cenário, algumas startups e empresas de tecnologia têm buscado por modelos laborais mais descontraídos em que os profissionais se sintam confortáveis para compartilhar seus esgotamentos e fragilidades emocionais a fim de buscar formas de minimizá-los. Mais revigorante do que observar este movimento nas corporações mais ‘modernas’, no entanto, é reconhecer que essas iniciativas começam, aos poucos, a se pulverizar em outros segmentos. Dentro do Aftermarket Automotivo, por exemplo, este trabalho de humanização tem no representante comercial Paulo Barddal, de 48 anos, um de seus principais embaixadores. Há três anos, o profissional curitibano tem levado uma técnica conhecida como ‘terapia do riso’ para algumas das principais empresas dos elos de distribuição e varejo de autopeças, além da reparação de veículos. Para isso, ele reserva minutos significativos de suas palestras técnicas para fazer com que os trabalhadores tenham um momento de conectividade e bem-estar com técnicas inusitadas. No ‘cotonete do riso’,

Barddal convida as pessoas a traçarem uma linha imaginária e limpar seus cérebros enquanto simulam uma gargalhada. Já na ‘motocicleta gargalhante’, ele pede que os profissionais acelerem suas motos imaginárias com a força de um motor movido a risadas frouxas. Todas essas técnicas, aliás, foram aplicadas comigo, Lucas, antes desta entrevista. E, em menos de 10 minutos, transformaram sorrisos mecânicos em gargalhadas genuínas que, além de se traduzirem em uma entrevista mais leve, diminuíram significativamente minha carga de stress no momento. Mas e em profissionais como os balconistas de autopeças? Quais são os impactos levados pela ‘terapia do riso’? Você descobre a seguir na íntegra desta entrevista para lá de especial.

Novo Varejo – No que consiste essa técnica do riso?

Paulo Barddal – A técnica consiste em explorar os benefícios do riso para diminuir o stress do dia a dia. A partir de pesquisas, percebeu-se que rir com uma boa frequência produz um impacto direto na relação hormonal do nosso corpo, diminuindo o cortisol – hormônio muito relacionado ao stress – e aumentando os níveis de endorfina e serotonina, hormônios relacionados ao relaxamento e ao bem-estar.

NV – Onde essas pesquisas foram inicialmente realizadas? Quando elas surgiram?

PB – As pesquisas se iniciaram com um médico indiano chamado Madan Kataria, em 1995. Ele era intrigado com os benefícios do riso e começou a fazer testes com sua família. Inicialmente, os testes eram feitos a partir de piadas e etc. Algo que não se mostrou sustentável. A partir daí ele pensou ‘eu tenho que desenvolver uma técnica’. E, como a esposa dele era do Yoga e trabalhava muito a questão da meditação, ele resolveu criar exercícios estimulando o riso através desses princípios. Com isso, percebeu que o nosso cérebro não distingue o riso real do riso treinado – e que, por isso, este segundo trazia os mesmos benefícios. A partir disso começou a ser criado o conceito de terapia do riso que vem avançando desde então.

NV – E como essa técnica chegou ao mundo ocidental? Aliás, sobre isso, queria te fazer uma provocação. Você vê alguma relação direta da disseminação da terapia do riso com o nosso modelo de sociedade pós-moderno – dentro do qual se prega a produtividade como o atributo mais importante do nosso cotidiano? PB – Por aqui a terapia se popularizou bastante com a jornalista estadunidense Norman Cousins, que convivia com muitas dores e chegou até a ser hospitalizada por isso. Depois de várias tentativas, ela descobriu que o motivo para ter ficado doente era o stress – o que causou certa surpresa, já que era um período em que ainda se começava a perceber o quão danoso o stress é para nossa saúde. E sim, não tenho dúvida que tem tudo a ver com nosso modelo de vida atual. Já cheguei a, por exemplo, visitar uma fábrica onde a diretora tomava injeções periódicas para diminuir os níveis de cortisol. Tudo isso é fruto deste movimento que ‘engole a gente’ nos tempos atuais, desse verdadeiro liquidificador humano em que a gente vive. Isso está muito claro nos números. Hoje nós temos cerca de 70% dos brasileiros sofrendo com níveis significativos de stress, dado que tem crescido ainda mais nestes tempos de pandemia.

NV – Os benefícios para a vida pessoal de se levar uma vida mais leve, com risadas frequentes – sejam elas naturais ou estimuladas – me parecem muito claros. Mas eu queria entender um pouco melhor este impacto no mundo corporativo. Como o riso contribui para a melhora de desempenho e das entregas no dia a dia?

PB – A gente costuma dizer que o stress é o assassino da inovação e da criatividade. Então, quando você diminui seus níveis de cortisol, essas são as primeiras áreas a apresentar uma alta melhora de desempenho. Mas não são só elas. O riso traz melhoras para o foco, para a energia e aumenta a resiliência profissional. Ou seja, melhora a resposta das pessoas aos altos e baixos do cotidiano, permitindo a elas enfrentar esses desafios com mais energia. Além disso, o maior bem-estar melhora muito a questão da conectividade interpessoal. As pessoas se relacionam melhor umas com as outras e substituem a ilusão da competitividade por uma noção de cooperação. Deixam de pensar “eu tenho que ser melhor que o outro e chegar à sua frente” para pensar “eu tenho que ajudar o outro e chegar junto com ele”.

NV – Vamos trazer esta questão para a realidade dos balconistas de autopeças, algo que você faz bastante em suas visitas aos varejos. Que benefícios estes profissionais experimentam na atividade diária?

PB – Como representante comercial, muitas vezes cheguei às lojas de autopeças e percebi que o balconista mal olhava para mim. Diante disso, logo entendi que é preciso melhorar essa conexão. Estando menos estressado, você tem uma percepção melhor do seu cliente. Você se conecta melhor com ele. Com um semblante mais leve e positivo é inevitável que você acabe cativando mais o cliente. É mais fácil trazer ele pra você. Melhora esse relacionamento, as vendas. Mas, mais do que isso, rir mais e diminuir seus níveis de stress traz melhorias para a pessoa em si. O que é ainda mais importante. Eu vejo que isso falta muito no nosso ramo, essa humanização.Eu vou a distribuidores que só têm aquela coisa de ‘meta, meta, meta’ dentro das empresas e não olham para o bem-estar. É preciso humanizar o nosso ramo e isso, a meu ver, passa por rirmos mais e estarmos mais conectados uns com os outros

NV – Fizemos alguns exercícios por aqui e realmente a técnica funciona. É muito legal! Mas acredito que alguns profissionais acabem apresentando resistência a fazer essa imersão no riso, não? Como você consegue engajar as pessoas, muitas vezes já com um alto nível de stress e cansaço, nos lugares para os quais você leva essa experiência?

PB – Essa era uma das coisas que eu mais pensava que teria dificuldade. Me lembro da primeira vez que fiz a dinâmica para os mecânicos, no interior do Paraná. O pessoal estava meio cabreiro, chegando cansado do trabalho… Eu ia falar de retentores em uma palestra técnica. Mas pensei: “quer saber? Vou fazer um quebra gelo de 15 minutos, mostrando os benefícios da risada para o nosso trabalho”. E propus para o pessoal. A gente fez uma roda, longe das cadeiras, onde pudéssemos ter contato visual. Fizemos a escova de dente do riso, a motocicleta do riso onde o motor era a gargalhada, alguns jogos como caçadedo – coisas que levam a gente mais para o estado infantil. Quando vi, meu quebra gelo tinha dado muito certo. Eu percebi que na palestra eles passaram a fazer mais perguntas, falar das concorrentes na hora de dar exemplos – algo que, geralmente, conta com uma restrição, já que os profissionais acham chato falar de outra empresa nas discussões. Mas, relaxados, eles se sentiram mais vontade. Essa primeira experiência que tive tem se repetido desde então. Tem dado muito certo!

NV – Até onde você já levou a terapia do riso?

PB – Onde eu levo as minhas palestras técnicas, eu levo a terapia do riso junto comigo. Levo para distribuidoras como a Pacaembu, Sama, Roles, Pelegrino… E para diversos varejos, como o Alvorada. A gente leva a ideia técnica, mas tenta mostrar: “Acorda! Você está perdendo tempo. Poderia estar levando uma vida mais alegre e positiva”.


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