Retail Trends apresenta pano de fundo da economia norte-americana e impactos da crise na reconfiguração do varejo -

Retail Trends apresenta pano de fundo da economia norte-americana e impactos da crise na reconfiguração do varejo

Em evento virtual que aqueceu os motores para a NRF, Eduardo Yamashita, COO da Gouvêa Ecosystem, contou que a covid-19 acelerou em cinco anos a penetração dos canais digitais do varejo dos Estados Unidos.
Por Lucas Torres

Na véspera da maior feira do varejo ocidental – a NRF, iniciada no último dia 12 de janeiro em formato totalmente digital – o grupo Gouvea Ecosystem antecipou os principais temas a serem abordados no evento com a realização da live ‘Retail Trends’. Ao longo da conversa, nomes como Eduardo Yamashita, COO do Gouvêa Ecosystem, e Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor do Gouvêa Malls, discutiram o momento da economia estadunidense e a influência exercida por este cenário nas inspirações, insights e tendências a serem apresentadas na NRF.

Em sua apresentação, Yamashita destacou o forte impacto da covid-19 na economia e no mercado varejista norte-americano – impacto este que provocou uma crise ainda maior do que as observadas nas recessões dos anos de 2002 e 2008, as mais recentes crises da maior economia do mundo. “Após uma expansão de 128 meses consecutivos, o PIB dos Estados Unidos sofreu quedas frequentes a partir de março do ano passado e fechou 2020 com um déficit de 3,5%”, ilustrou.

Este golpe só não foi sentido de maneira direta e catastrófica pelo varejo local devido ao enorme pacote social introduzido pelo governo de Donald Trump, que injetou cerca de US$ 2 trilhões na economia para auxiliar não apenas na sobrevivência de uma população de mais de 14% de desempregados – maior taxa desde início da medição, em 1948) –, mas também, é claro, para manter ativo o mercado de consumo.

Os esforços para manter funcionando o principal motor da economia do país, o varejo, surtiram efeitos consideráveis quando observamos o setor em seus aspectos mais gerais. Segmentos como alimentos, farmácia e, surpreendentemente, o de bens duráveis apresentaram crescimento acima da marca dos 3%, segundo com Yamashita. Crescimento que caminhou junto com o boom do e-commerce, que passou de um share de 11,3%, em 2019, para a casa dos 16,1% em 2020. “A covid-19 acelerou em quatro a cinco anos a penetração dos canais digitais do varejo dos Estados Unidos”, afirmou o COO da Gouvêa Ecosystem.

Yamashita observou, no entanto, que, embora o cenário de 2020 pareça ter sido menos catastrófico do que poderia para o varejo americano, ele deverá deixar sequelas importantes para o próximo ano – é bem provável que a população tenha ‘mordido a isca’ e antecipado recursos e crédito durante a pandemia, de modo a sentir estes impactos ao longo de 2021 e até mesmo dos próximos anos, nos quais poderá se ver não apenas sem o ‘pacote emergencial’, mas também sentir ainda o efeito perdurante do desemprego.

Além disso, Yamashita pontuou que a necessidade de distanciamento social e o consequente aumento da reclusão a população dentro de suas resistências propiciou com que gastos com serviços e entretenimento fossem realocados para o mercado varejista, algo que deverá voltar ao normal após a imunização populacional, aumentando a pressão sobre as vendas do varejo.

Ao amarrar todo esse contexto, o palestrante destacou que a observação do cenário dos Estados Unidos é bastante relevante para identificarmos tendências no mercado brasileiro – ambos os países adotaram, dentro de suas próprias capacidades de investimento e robustez econômica, estratégias semelhantes para mitigar os impactos da pandemia no consumo.

Pandemia tirou tendências do papel

Ao iniciar sua apresentação notando que a sobrevivência dos grandes varejistas americanos não foi uniforme – estando os mais tradicionais/analógicos mais propensos à falência e os mais digitalmente-prontos a um crescimento exponencial –, o sócio-diretor da Gouvêa Malls, Luiz Alberto Marinho, destacou que o novo coronavírus funcionou como uma espécie de máquina do tempo, ‘trazendo o ano de 2030 para 2020’.

Segundo ele, este cenário se deu a partir da antecipação de tendências que, até então, vinham se inserindo pouco a pouco no contexto varejista, casos do conceito de omnichannel e a própria obrigatoriedade do e-commerce, mas que com a crise sanitária passaram a ser indispensáveis. “Não dá mais pra pensar em varejo sem pensar no omnichannell. É claro que isso é óbvio. Mas é preciso destacar: não existe mais a divisão do online e do offline”, reforçou Marinho.

Ainda nesse sentido de antecipação de tendências, dentro do qual ancorou toda sua apresentação, o executivo deu exemplos de experimentos ainda incipientes que tiveram de ser colocados em prática antes mesmo de virarem protótipos consolidados em diversos setores da economia. “Vimos escolas tradicionais operarem sem sala de aula. Empresa abrir mão do escritório e varejo abrir mão da loja. Tudo por necessidade”.

Para finalizar, o palestrante afirmou que essa ‘abreviação do tempo de implementação de tendências’ irá consolidar um movimento de ressignificação das coisas como são hoje no varejo. Sobretudo no que diz respeito à loja física que, embora ainda importante, passará a ser vista muito menos como um ‘canal de vendas’ para se tornar um ponto de captação de informação de um cliente omnichannel, bem como um local que oferece opções não existentes no e-commerce, como o serviço de montagem, instalação e customização de produtos.



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