Lucas Torres jornalismo@novomeio.com.br
O ano de 2023 mal começou, mas já oferece diretrizes fundamentais sobre os tópicos que devem ser protagonistas no varejo mundial ao longo do ano. Entre os dias 15 e 17 de janeiro, a cidade estadunidense de Nova Iorque recebeu a National Retail Federation Big Show & Expo (NRF) – maior feira varejista do planeta que, nesta edição, reuniu cerca de 38 mil participantes vindos de 99 países diferentes. Embora traga conteúdo relevante em cada uma de suas realizações anuais, o evento deste ano trouxe uma característica diferente e, na opinião dos consultores e empresários presentes, mais substancial. Isso porque, se em outras ocasiões a feira primou pelo aspecto do ‘show e do futurismo’, a edição deste ano visou colocar os pés dos participantes no chão ao reforçar a importância de bases que a loja física deve ter como pilares para testar e desenvolver soluções de características mais inovadoras.
“Sem dúvida foi uma NRF muito mais pautada em aspectos relacionados à execução daquilo que foi já considerado inovação em edições anteriores do que um apanhado de novos trends. Neste contexto, a jornada do consumidor passa a ser vista cada vez mais integrada, onde todo o ponto de contato é extremamente relevante. E, sem dúvida alguma, a loja física e seu novo papel ficaram reforçados na retomada pós-pandemia”, relatou o diretor comercial B2C da Infracommerce, João Paulo Amadio, que esteve presente no evento do mês passado. Na mesma linha de percepção de retomada do destaque das lojas físicas na NRF 2023, outro empresário presente no evento, o executivo do Myrp Enterprise, Paulo Guimarães Peguim, pontuou três conclusões da feira que motivaram este ‘retorno à tradição’:
1 – Percebeu-se que as lojas físicas são extremamente importantes ao longo da cadeia de eventos de decisão do consumidor, o momento de desejo do produto até a realização da compra;
2 – A loja física tangibiliza a marca para o consumidor, ou seja, uma marca sem ponto físico dificilmente será lembrada no meio virtual;
3 – A loja física ainda tem um sentido de conveniência mais forte do que a online. Muitos consumidores optam pelo meio virtual após conhecerem o produto em uma loja física, fora desse contexto, quando o cliente não tem conhecimento da loja física, ele acaba optando por ir até um ponto de venda presencial para saber mais sobre o produto.
“É como um movimento pendular, no início do pêndulo todos acreditavam muito no combo e-commerce mais delivery, ou seja, que a melhor solução seria a compra online para receber a domicílio. Mas agora o pêndulo está retornando à posição central”, observou Peguim. Esta posição, ao que tudo indica, representa um ponto de equilíbrio entre as profundas inovações tecnológicas e o modelo de negócios que acabou por consagrar o varejo ao longo de sua história. No fim, prevalece o bom senso.
Brasileiros presentes na NRF 2023 destacam tendências apontadas pela feira
A edição de 2023 da National Retail Federation Big Show & Expo teve no retorno às bases do varejo sua característica principal. Apesar disso, a feira não deixou, é claro, de ser vitrine para as tendências tecnológicas que já estão em plena aplicabilidade nas empresas ao redor do mundo.
Inteligência artificial – Paulo Cesar Peguim, Myrp Enterprise Para o executivo da empresa especializada em sistemas de gestão empresarial com PDV exclusivo voltado às grandes operações do varejo de moda, o uso maduro da inteligência artificial em plena atividade apresentado por meio de cases concretos foi uma das tendências mais relevantes da NRF 2023. Peguim destacou que há diversas rotinas de inteligência artificial aplicadas à logística, lojas, centros de distribuição, gôndolas e até mesmo projeção de tendências para os próximos períodos, como, no caso de seu segmento, as cores que estarão em alta. Além disso, segundo ele, este elemento está cada dia mais presente nos PDVs menores que rodam em android e são capazes recomendar para o lojista que ele encomende determinado item, avaliam a sazonalidade dos produtos, fazem balanço de vendas, e conseguem até apresentar qual foi o clima de tal época do ano anterior, qual período vendeu mais determinado produto; além de ponderar tudo isso, pode dar uma atribuição para o resultado de vendas.
Construção de nichos – Bruno Stuchi, Coaktion O CEO e fundador da empresa especializada na digitalização de processos de experiência do consumidor apontou para a tendência de maior valorização da construção de nichos específicos como um dos principais trends apontados pela feira. Neste sentido, vale pontuar que a NRF 2023 não careceu de cases de grandes marcas que mostraram estar investindo em vínculos mais aproximados no lugar de buscar um ‘alcance de milhões’. Entre os destaques apontados estavam a Hollister e Forever 21, para as quais o investimento nos micro e pequenos influenciadores têm sido tratado como chave para atingir públicos mais segmentados e fiéis.
Recommerce – João Paulo Amadio, Infracommerce Uma tendência que exemplifica a chegada da pauta da economia circular e dos compromissos ESG chamou a atenção do diretor comercial de um dos maiores ecossistemas de comércio digital da América Latina. Ao analisar as novidades apresentadas na NRF 2023, Amadio destacou o crescimento exponencial do chamado ‘recommerce’ – comercialização de maneira estruturada, via criação de ecossistemas, de itens de segunda mão – especificamente no mercado de moda/luxo. “Este é um mercado que cresce três vezes mais que o varejo tradicional”, salientou o especialista.
Self checkouts – Ariane Carolina Bete, DM Como tem acontecido nos últimos anos, a NRF 2023 reforçou a importância de oferecer uma experiência cada vez mais fluida e prazerosa para o consumidor. Neste contexto, a head comercial da empresa de cartões private label apontou a popularização do self checkout como uma das tendências mais relevantes apresentadas pela feira. Vale destacar que a ferramenta atua como um caixa de autoatendimento. Sendo assim, tal como um checkout tradicional, ele tem a capacidade de realizar o controle de vendas e o pagamento das compras dos seus clientes.