Roland Setton: "De um jeito ou de outro as coisas vão acontecer" -

Roland Setton: “De um jeito ou de outro as coisas vão acontecer”

Roland Setton, diretor da Isapa, chama atenção para movimentos que resultam em mudanças no perfil da frota.
Roland Setton, diretor da Isapa

Roland Setton, diretor da Isapa, chama atenção para movimentos que resultam em mudanças no perfil da frota. Confira a entrevista abaixo:

NV – Quais são suas impressões sobre o processo de recuperação do mercado de reposição?
RS – Maio já foi melhor do que abril, mas a partir de junho tivemos um processo de recuperação. Com muita instabilidade, porque o Brasil é um país continental, onde as coisas acontecem em diferentes momentos. Em alguns locais o comércio estava forte, em outros fechava. Mas no geral é um processo que ocorre praticamente em todas as regiões. E é mais do que esperado porque não se para tudo de uma vez, embora tenha menos carros nas ruas, as mercadorias precisam ser transportadas e a vida continua.


NV – Há uma queda acentuada na venda de carros novos, o que abre perspectivas para os veículos usados. Você vê tendência de alteração no perfil da frota com impactos no mercado de reposição?

RS – Houve aumento de cerca de 30% nas vendas dos carros usados acima de 12 anos. Isso significa que, pelo menos nas grandes cidades, as pessoas perderam a confiança no transporte público. Muita gente está comprando um carro usado, os chamados velhinhos. Antes da pandemia o carro era quase um item obsoleto, o pessoal mais jovem não queria saber de carro, só andava de Uber. Agora mudou, está todo mundo com medo de pegar um Uber porque não sabe quem esteva lá dentro. Então está havendo uma corrida aos carros mais antigos. Isso tem efeitos na demanda do mercado de reposição porque se as pessoas compram esses carros, elas cuidam, consertam o que é preciso. Mas é um retrato do momento.

NV – Gostaria de ouvir também sua analise sobre o crescimento da atividade de delivery e no que isso resulta para o aftermarket.
RS – É também muito interessante. Antes da pandemia nós íamos às lojas e fazíamos nossas compras. Já havia venda pela internet, mas agora eu não vou mais ao shopping. Agora peço pela internet. Isso gera um maior transporte de mercadorias e é um transporte muito pulverizado, não são caminhões que fazem essas entregas. São motocicletas e eu vi muitos carros de passeio informalmente com o motorista e vários pacotes dentro. Muitas empresas não estavam prontas para fazer essa logística, então muita gente está usando o carro particular para esse serviço. Também o serviço de vans aumentou muito, compensado a queda das vans escolares, que estão paradas. Conheço gente que tem van escolar e agora está fazendo entrega. Vai chegar um momento em que as escolas vão voltar e as vans escolares terão que fazer manutenção. Tudo está acontecendo muito rapidamente e nossa função como atacadista é estar pronto para atender o comércio. Porque de um jeito ou de outro as coisas vão acontecer.


NV – Como a alta do dólar tem impactado os negócios da Isapa?
RS – Uma parte fundamental do custo na Isapa é a taxa cambial e não temos nenhum controle sobre isso. Por mais que eu negocie com um fornecedor o preço pode aumentar 10% ou 20% no mês sem que eu possa fazer nada. Nós somos importadores, mas hoje em dia a grande maioria dos distribuidores também importa bastante. Ninguém consegue produzir para atender uma frota tão diversificada como a nossa. Então todos somos importadores hoje. E todos sentimos, não tem como fugir. Você pode atrasar um pouco, pode usar teu custo médio de estoque, mas se você repassar abaixo do custo vai comprar menos quando for repor. É uma situação inevitável, temos que nos adaptar.


NV – Existe risco de desabastecimento no mercado?
RS – Muitos fabricantes ficaram em férias, muitos importadores seguraram as compras e existe um pequeno risco. Mas não é um fator muito relevante. Na Isapa estamos com estoque, atendendo bem o mercado, inclusive em junho até nos beneficiamos disso porque alguns concorrentes estavam com estoque baixo. O mercado ainda não está fluindo normalmente, tem picos e vales.


NV – Com que expectativas a Isapa trabalha para os meses finais de 2020 e para o ano de 2021?
RS – Pergunta difícil de responder. Nós estamos achando que o mercado vai continuar dinâmico nesse fim de ano, não sabemos como irão evoluir a pandemia e o isolamento social, esse abre e fecha. Porque aqui fizemos uma quarentena “meia boca”, bem brasileira, não foi como nos outros países que fecharam tudo por 30 ou 60 dias e depois tudo abriu quase que normalmente. Nós estamos há quatro meses nesse abre e fecha. E isso vai continuar, então o mercado vai permanecer nessa instabilidade dinâmica, vamos chamar assim, não é uma instabilidade depressiva. E 2021 só Deus sabe.


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