Rota 2030 deve reduzir defasagem da indústria brasileira -

Rota 2030 deve reduzir defasagem da indústria brasileira

Dan Ioschpe, presidente do Sindipeças, analisa os benefícios da nova política para o setor automotivo

Por Claudio Milan ([email protected])

 Durante o evento de lançamento do Programa Inova Sindipeças, em agosto, o presidente do sindicato que congrega os fabricantes de componentes automotivos falou com a imprensa. O tema principal foi o Rota 2030, a nova política setorial brasileira criada pela Medida Provisória com força de lei 843/18 assinada em 5 de julho pelo presidente Michel Temer. Para Dan Ioschpe, o texto é positivo e deve contribuir para que as indústrias brasileiras se aproximem em tecnologia, produtos e gestão daquilo que já existe nos principais mercados globais.

 Qual é sua avaliação sobre a nova política para o setor automotivo brasileiro?

Entendemos que o Rota 2030 é bastante equilibrado e positivo para o setor de autopeças, assim como para todo o setor automotivo. Está focado em pesquisa, desenvolvimento e inovação, que no passado não foi a tônica de outros programas. É extensivo à maior parte da cadeia automotiva, aquelas empresas que tiverem dentro do programa e tenham apuração do imposto de renda pelo lucro real. Essa é única limitação efetiva. Então ele vai ter empresas de autopeças, montadoras e promoverá a integração dessas empresas com institutos de pesquisas, de tecnologia e universidades. Tem uma visão de curto, médio e longo prazo pois é um regime de três fases de cinco anos cada. Com isso, permite que a gente tenha previsibilidade muito melhor do que no passado em outros programas. E, finalmente, tem requerimentos nas áreas de segurança, eficiência energética e de emissões que vão nos aproximar dos níveis dos mercados mais sofisticados e maiores; ao longo desse ciclo de 15 anos, vamos reduzir a distancia dos veículos e das autopeças que produzimos aqui para aquilo que se usa lá fora, o que nos aproximará da escala dos grandes mercados. Se em médio prazo estivermos fazendo mais daquilo que se faz nos principais mercados, teremos maior chance de comercializar nossos produtos também naqueles ambientes. Claro que isso depende de várias outras condições do país e da competitividade sistêmica, mas é um bom caminho do ponto de vista setorial.

 

Muitas indústrias têm migrado as atividades de pesquisa e desenvolvimento para matrizes ou unidades no exterior. Como vai se viabilizar P&D aqui em meio a esse movimento?

O Rota 2030 traz vantagens efetivas para a realização dessas atividades no Brasil. A ideia é justamente se contrapor a isso a partir de um beneficio adicional. E, claro, se a gente seguir aproximando os veículos e as autopeças daquilo que se faz lá fora será possível captar ainda mais. Do outro lado, a defasagem de tecnologia ou produto torna o mercado cada vez mais restrito. Nossa ideia é reversa, que a gente se aproxime cada vez mais e amplie esse mercado. Hoje são produzidos cerca de 95 milhões de veículos por ano no mundo. No Brasil nós vamos fazer cerca de 3 milhões. Então se a gente conseguir pensar e se posicionar de uma forma mais próxima nós vamos ter também a possibilidade de trazer para cá desafios de PDI – pesquisa, desenvolvimento e inovação – relacionados à indústria mundial, embora tenhamos também temas centrais aqui, como etanol, motores flex e outras tecnologias que tiveram origem aqui e que pode ter ainda um bom desenvolvimento. A ideia do Rota é fomentar a realização disso no Brasil.

 

As autopeças têm condições, no médio prazo, de investir em pesquisa e desenvolvimento?

Sem dúvida, esse é um dos setores que mais investe no mundo e no Brasil também apresenta bom grau de investimento. É claro que em razão da crise, da retração do mercado e pelo distanciamento do Brasil das grandes cadeias de valor mundiais, que foi crescente nos últimos 15 anos, perdemos um pouco de território. Precisamos recuperar. O mercado automotivo brasileiro está no seu segundo ano de retomada, 2017 foi bom e 2018, mesmo com todas as dificuldades do país, vamos ter um crescimento muito acima da recuperação do PIB – se considerarmos a expectativa de PIB ao redor de 1,5% ou 1,6%, nosso setor está prevendo crescer a produção de veículos ao redor de 11% ou 12%. Estamos em trajetória de recuperação, então, sim, haverá recursos e haverá a necessidade. A questão é onde isso será feito. Temos que lutar para que seja feito – parcela, já que não será a totalidade – no Brasil. E nesse aspecto, além das questões de incentivo do Rota 2030, a vinculação com os institutos de ciência e tecnologia é importante.

 

De que forma as pequenas e médias indústrias se beneficiarão do Rota 2030?

As PMEs que não estejam no lucro real – e são várias – não poderão participar do regime de incentivo tributário a pesquisa, desenvolvimento e inovação. Mas, por outro lado, o Rota 2030 prevê no caso dos ex-tarifários – que são aquelas peças para as quais não temos capacidade de fabricação local –, que até agora pagavam 2% de imposto de importação, estes dois pontos percentuais serão recolhidos para um fundo de desenvolvimento empresarial focado na PME. Então, sim, haverá um incentivo e aí teremos uma série de formas de desenvolvimento gerencial que o Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, junto com outras entidades e institutos especializados, está desenvolvendo para que possamos oferecer uma capacitação empresarial gerencial inclusive em aspectos da inovação para essas empresas. Os recursos desse fundo do Rota 2030 virão de todas as empresas que importam autopeças ex-tarifárias e o governo vai direcionar quais recursos irão para instituições que disponibilizarão de forma facilitada para as PMEs iniciativas de desenvolvimento gerencial.


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