Sinais de consolidação? Brasil perdeu cerca de 5 mil varejistas de autopeças de 2015 para cá -

Sinais de consolidação? Brasil perdeu cerca de 5 mil varejistas de autopeças de 2015 para cá

Dados do novo anuário do setor foram comentados com exclusividade pelo presidente do Sincopeças Brasil, Ranieri Leitão

No último mês de novembro, o Sincopeças Brasil divulgou a edição 2023/2024 do ‘Anuário do Comércio de Autopeças do Brasil’. Com 68 páginas, o documento atualiza dados demográficos e socioeconômicos do país e os contextualiza com informações segmentadas do universo automotivo nacional, bem como dos comércios de autopeças e motopeças brasileiros.

Em comentário geral feito no anuário, o presidente do Sincopeças Brasil, Ranieri Leitão, destaca os benefícios momentâneos experimentados pelo mercado brasileiro de reposição em face da estagnação do volume de licenciamento de veículos novos.

 Segundo o dirigente, o aumento significativo da demanda só foi respondido pelo aftermarket nacional devido à preparação e capilaridade deste, sobretudo no âmbito dos chamados estabelecimentos independentes. “Devido à agilidade da logística do comércio de autopeças e proximidade das oficinas e lojas com os consumidores finais, o canal independente tem avançado sobremaneira, em detrimento da fragilidade da rede de concessionárias, que têm perdido pontos de venda ao longo dos anos”, coloca Leitão. Dentro do contexto amplo desta preparação do aftermarket independente enfatizada pelo presidente do Sincopeças Brasil, o anuário 2023/2024 trouxe insights extremamente ilustrativos em aspectos como a disponibilidade de produtos de reposição e a distribuição de estabelecimentos de atacado e de varejo ao redor do território nacional. Ao consolidar o gráfico a seguir, a Fraga Inteligência Automotiva reforça o fato de o Brasil ser um mercado desafiador para os varejistas do aftermarket em razão da exigência de ampla disponibilização de produtos (média de 45 mil) e relacionamento com um grande volume de marcas distintas.

“Para atuação no mercado Brasileiro, e disponibilização de um mix completo de produtos, um agente comercial necessita gerenciar pelo menos 113 fornecedores, considerando a atuação em todos os sistemas veiculares”, comenta a Fraga.

Os desafios de atender um mercado tão plural e de tamanha concorrência como o brasileiro podem residir entre diversos os fatores que têm motivado uma diminuição dos players do varejo de autopeças do país.

Segundo dados do CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), em 2015, o Brasil tinha exatas 70.559 mil empresas registradas como comércio de autopeças, número que despencou para 64.231 em 2021 e cuja projeção realizada pelo Sincopeças para 2024 é de 65.456 estabelecimentos. Veja no quadro:

Além dos desafios característicos do mercado nacional, outra possibilidade vem de um movimento já identificado pelos players do aftermarket naquilo que se chama de ‘consolidação’.

Ou seja, na aquisição de empresas menores por parte das maiores. Sobre o assunto, questionamos o presidente do Sincopeças Brasil, Ranieri Leitão, em entrevista exclusiva. “As avaliações no momento poderiam ser múltiplas, desde a própria colocação na pergunta de consolidação de empresas mais estruturadas absorvendo as menores, passando por registros de CNAE e podendo chegar ao ajuste da quantidade de empresas diante de um fechamento espontâneo, inexistência de sucessão, alteração de atividade e etc”, refletiu o dirigente. Ainda no âmbito da possibilidade de acentuação progressiva do movimento de consolidação do comércio de autopeças do país, vale pontuar uma das características mais importantes do aftermarket automotivo: a grande pulverização causada pelo predomínio das microempresas (faturamento anual de até R$ 360 mil) e empresas de pequeno porte (faturamento anual de R$ 360 mil a R$ 4,8 milhões).

 Segundo o Anuário 2023/2024, estas representam mais de 93% do total de estabelecimentos do segmento registrados no CNAE – o que indica que movimentos na direção de promover maior concentração de negócios no âmbito das médias e grandes significariam alterações sistêmicas profundas, algo que, de acordo com os dados do Anuário, já possa estar ocorrendo à medida que, de maneira surpreendente, o país conta com uma proporção de 8 varejos para cada atacadista de autopeças. Ao comentar essa configuração, Ranieri Leitão afirma não ver um caráter especial no aftermarket. Afinal, ela não é ‘privilégio’ do setor e, segundo ele, pode ser encontrada na maioria das cadeias produtivas no Brasil. “As empresas de micro e pequeno porte são frutos de um nascedouro familiar – em vários casos de subsistência, o que acontece na maioria das cadeias produtivas do país e naturalmente faz com que existam mais empresas deste porte em relação às médias e grandes. Penso que uma forma mais interessante de enxergar esta segmentação é verificar que o Brasil, mesmo com seus 5.700 municípios, apenas uns 300 devem ter alguma economia mais robusta e com frota de veículos automotores que permita traçar outro desenho”, analisa o dirigente. De fato, o caráter heterogêneo da distribuição da frota nacional é um dos fatores a serem considerados quando analisamos a nação como um todo e os interesses dos maiores players do aftermarket automotivo em expandirem suas capilaridades por todo o território brasileiro. Isso porque, ainda que se sairmos da análise mais básica dos números brutos e considerarmos os dados per capita, aferimos que estados como São Paulo, Santa Catarina, Paraná, além do Distrito Federal, ultrapassam a relação de 400 automóveis para cada 1000 habitantes, enquanto em localidades como Pará e Maranhão este número não chega a 100. Talvez isso explique também o fato de o relatório do Ministério do Trabalho e Emprego apontar a ausência de atacadistas de autopeças em 45,6% dos municípios brasileiros e de varejistas em 35,9%. Ranieri Leitão, é adepto desta conclusão. “O Brasil não reflete um mercado pujante para o setor automotivo em todos os municípios, até porque regiões como a Norte possuem uma forte presença do modo fluvial, praticamente carecendo de rodovias – e aqui estamos falando da maior região do país territorialmente”, conjectura Leitão, antes de finalizar: “Todos os estados têm varejistas de autopeças. No entanto, atacadistas não estão presentes em todos os municípios, abastecendo- -os a partir de um polo específico dentro do estado”.

5 insights importantes do Anuário do Comércio de Autopeças

  • O número de varejos de autopeças vem caindo sequencialmente de 2015 para cá.
  • Hoje temos menos 5 mil estabelecimentos do que tínhamos há 9 anos. Mais de 90% dos comércios de autopeças do Brasil se enquadram no âmbito das micro e pequenas empresas.
  • Mais de 1/3 das cidades brasileiras não têm um varejo de autopeças.
  • Os varejistas de autopeças brasileiros que se dispõem a atender todos os sistemas do automóvel possuem, em média, um portfólio de 45 mil produtos
  • comércio nacional de peças de reposição apresenta como configuração uma média de 8 varejistas para cada atacado.

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