União Europeia reage à pressão chinesa nos elétricos – e o que isso sinaliza para o Brasil -

União Europeia reage à pressão chinesa nos elétricos – e o que isso sinaliza para o Brasil

Para o País, mercado emergente no consumo de automóveis eletrificados, o debate europeu pode antecipar tendências regulatórias e estratégicas que chegarão em breve ao setor local.

No discurso de abertura dos trabalhos da União Europeia após o período de recesso, nesta quarta-feira, 10 de setembro, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se manifestou sobre a necessidade do bloco competir de forma mais firme contra a ofensiva chinesa em veículos elétricos. O posicionamento traz reflexos que vão muito além do Velho Continente. Para o Brasil, mercado emergente no consumo de automóveis eletrificados, o debate europeu pode antecipar tendências regulatórias e estratégicas que chegarão em breve ao setor local.
Von der Leyen foi enfática ao cobrar ação coordenada do bloco europeu diante da rápida expansão das montadoras chinesas. “A Europa precisa estar em condições de competir de igual para igual. Não podemos permitir que um setor estratégico como o automotivo dependa apenas de tecnologias importadas”, declarou, em referência ao avanço de grupos como BYD e MG, que vêm conquistando espaço com modelos acessíveis e fortemente subsidiados.
Segundo a dirigente, a resposta não pode se limitar a incentivos pontuais, mas deve incluir investimentos estruturais em inovação, semicondutores, baterias e energia limpa. “Se queremos que nossos filhos e netos conduzam carros feitos na Europa, precisamos investir agora em baterias, semicondutores e energia limpa”, destacou.
Para o Brasil, o discurso europeu funciona como um termômetro. A rápida penetração dos elétricos chineses no continente europeu — com preços agressivos e forte apoio governamental — sinaliza um caminho que também poderá pressionar cada vez mais montadoras e fornecedores locais – vide o recente embate entre Anfavea e BYD envolvendo políticas de incentivo para a importação de veículos CKD ou SKD. A indústria nacional de autopeças, já desafiada por margens apertadas e necessidade de atualização tecnológica, terá de se preparar para uma nova configuração de mercado, em que baterias, softwares e eletrônica embarcada ganham peso frente à mecânica tradicional.
Além disso, von der Leyen deixou claro que medidas contra concorrência desleal estão na mesa em Bruxelas. “A abertura de mercado é um valor europeu, mas não seremos ingênuos. Precisamos garantir condições justas para nossos fabricantes”, disse. O movimento pode inspirar debates semelhantes na América do Sul, onde a presença crescente de players asiáticos vem alterando a lógica competitiva tanto no mercado de veículos novos quanto no de reposição.
Para o aftermarket brasileiro, o recado é claro: a transição energética está em curso, e a disputa global entre China, Europa e EUA moldará também o futuro das oficinas, distribuidores e varejistas de autopeças no país. Entender o ritmo da eletrificação e antecipar ajustes na oferta de produtos e serviços poderá ser fundamental para manter competitividade em um setor que, cada vez mais, não pode se dar ao luxo de apenas reagir.


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