Varejistas projetam cenário e oferecem sugestões ao governo de Michel Temer -

Varejistas projetam cenário e oferecem sugestões ao governo de Michel Temer

Reforma fiscal e controle dos gastos públicos devem ser prioridade na visão de players do mercado de reposição

Depois de um ano e cinco meses de intensa pressão política e uma quase inexistente governabilidade, o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff foi interrompido em 12 de maio após o Senado Federal autorizar abertura do processo de impeachment. Embora em um primeiro momento a consumação de um afastamento há semanas prenunciado possa representar a sensação de certo abrandamento do jogo político em Brasília e retomada da discussão de pautas urgentes para a solução das diversas crises pelas quais o país atravessa, o agora presidente interino Michel Temer enfrentará um cenário tão ou mais desafiador do que o vivenciado por Dilma.

O peemedebista herda uma situação de profunda instabilidade econômica, caracterizada por rombos gigantescos no orçamento da União e nas finanças públicas. O presidente também carece de popularidade e precisará enfrentar um cenário de instabilidade institucional em razão de dívidas políticas advindas das alianças formadas com o objetivo de conquistar os votos necessários para a admissão do processo nas duas casas legislativas.

Mas, entre todos os desafios que se apresentam, o mais expressivo está mesmo no campo econômico. A maior preocupação do novo governo é uma dívida pública que caminha a passos largos para a casa dos R$ 3,0 trilhões.

Vislumbrando promover uma política de austeridade que possa diminuir os gastos excessivos do estado, o presidente em exercício já começou a rechear os ministérios com nomes conhecidos por uma abordagem mais liberal, como o ex-presidente do Banco Central durante a gestão Lula, Henrique Meirelles – para a Fazenda; e o líder do Democratas na Câmara, o deputado Mendonça Filho, para a educação.

Enquanto o presidente interino monta sua equipe de trabalho, a sociedade civil espera ao menos por sinalizações que possam oferecer alguma faísca de esperança nesse cenário para lá de nebuloso.

Inseridos nesse contexto, varejistas ligados à reposição automotiva em todo o Brasil esperam com ansiedade por uma retomada – ainda que tímida – do consumo no setor e por simplificações tributárias que lhe permitam uma maior flexibilidade de investimento.

Mas qual a avaliação dos varejistas brasileiros em relação ao governo anterior? Quais são os principais erros do governo Dilma e como fazer para que eles não se repitam durante a gestão Temer? Quais suas sugestões para a retomada do consumo? O que fazer para estancar o desemprego? A fim de dar voz às expectativas e avaliações dos varejistas, bem como para as entidades que representam o aftermarket, o Novo Varejo ouviu lideranças do mercado abordando questões que fazem parte do cotidiano de varejistas do Brasil inteiro e apurou suas expectativas para o novo Brasil que está nascendo.

Direção austera aponta para futuro promissor

Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Peças e Acessórios para Veículos no Estado de São Paulo (Sincopeças-SP), Francisco de La Tôrre, o principal desafio de Temer no primeiro momento é recuperar a credibilidade do Governo Federal.

Ele salienta a necessidade da implementação imediata do que chamou de ‘receita amarga’, com o objetivo de controlar as contas públicas e diminuir o déficit fiscal. Para tanto, sua habilidade em tratar com o congresso será fundamental para a implementação de medidas extremamente amargas, inclusive o aumento da carga tributária.

“Inicialmente essas medidas devem provocar um efeito recessivo, comprometendo ainda mais a saúde financeira das empresas e dos consumidores. Porém, ao adotar essas medidas, ele sinaliza para o mercado uma direção austera que apontará para um futuro mais promissor. Isso aumentará a confiança do capital privado, por exemplo, fazendo com que o empresário fique mais propenso à retomada do investimento”, analisa.

Embora considere necessária a adoção das medidas chamadas ‘impopulares’, de La Tôrre acredita que o presidente interino encontrará enormes dificuldades para aprová-las no Congresso, sobretudo pelo fato de, na maioria dos casos, os deputados federais não estarem dispostos a associar seus nomes a medidas que possam lhes tirar votos em eleições futuras. Pensando nisso, o presidente do Sincopeças paulista afirma ser importante ao menos sinalizar nessa direção.

Tocando em pontos ainda mais delicados, o entrevistado vê nas privatizações e nas PPPs (Parcerias Público-Privadas) um passo importante para oferecer novo fôlego à economia nacional. “Privatização de portos, aeroportos e construção da infraestrutura na qual o Brasil possui uma série de gargalos. É por meio desse expediente que o governo pode encontrar soluções para garantir investimentos produtivos, volume de encomendas e uma geração de emprego robusta”.

Outra sugestão de La Tôrre para a diminuição dos índices de desemprego é a polêmica flexibilização da legislação trabalhista. “A contratação de um funcionário é muito cara, muito onerosa. E com um cenário de desconfiança, isso inibe ainda mais novas contratações”.

Mudança na equipe econômica é bem vista pela indústria

Elias Murafej, conselheiro do Sindipeças para o mercado de reposição e coordenador do GMA – Grupo de Manutenção Automotiva, avalia que a mudança de governo representa uma nova e necessária etapa. “Não que será fácil daqui para frente, mas acreditamos que representará uma retomada. Para a indústria em geral, assim como para autopeças, acreditamos que a mudança radical da equipe econômica possa resultar em melhores condições, pois a situação é extremamente complicada para todos os setores”.

Fazendo uma leitura simples, Mufarej avalia que é possível dizer que o primeiro obstáculo foi vencido e que agora a expectativa é que o governo do Michel Temer possa trazer mais confiança e tornar o ambiente mais propício para as empresas e também para a população, permitindo que a economia volte a reagir. “Ainda que isso leve um tempo para acontecer, voltamos a ter esperança de que pode melhorar”.

 

Menos impostos e mais produção

Para Alexandre Kohara, diretor da Braskape, de São Paulo (SP), o governo de Dilma Rousseff foi desastroso. Para reverter o quadro pintado por ela, o varejista sugere ao novo governo redução de impostos e um ousado programa de incentivos à indústria e à produção.

Qual a sua avaliação do governo Dilma, sobretudo em relação à política econômica e tributária?

O governo Dilma foi desastroso em todos os aspectos. Com linhas de ação centradas no fisiologismo e corporativismo. Gastou-se muito e gastou-se muito mal, levando o país a um endividamento insuportável, permeado por sucessivos atos corruptos jamais vistos neste país.

Durante o fracassado governo Dilma, o segmento de autopeças foi afetado pela fraca demanda, principalmente pela política equivocada de estimular a venda de carros novos, mediante desoneração fiscal (IPI).

Quais os principais fatores responsáveis por promover a desaceleração do consumo e o consequente processo de asfixia do varejo?

Em minha opinião, isso se deu principalmente pelo excessivo grau de endividamento dos consumidores, aceleração da inflação e perda crescente e contínua de emprego.

Que medidas você sugeriria para a equipe econômica do novo governo?

Redução de impostos e um ousado programa de incentivos à indústria e à produção, com taxa de juro baixa e compatível com os resultados almejados por esse programa.

Como aumentar a necessária arrecadação do estado sem causar danos ao varejo e ao consumidor?

O aumento da arrecadação na forma aludida será viável somente com o aumento da produção/vendas, bem como mediante forte fiscalização para se evitar fraudes. De qualquer forma, acho necessário que o estado priorize o corte dos enormes e vultosos gastos públicos, bem como elimine os desvios de verbas destinadas às suas reais necessidades.

Recuperação do poder de compra é expectativa positiva

Antônio Fiola, que preside o Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios (Sindirepa) em São Paulo e nacionalmente, acredita que a mudança no Governo Federal traz nova esperança aos empresários na espera que o consumidor recupere o poder de compra, aumentando, por conseguinte, os níveis de consumo no país.

Em relação ao mercado de reposição automotiva em específico, Fiola afirma que, embora a queda do volume de vendas de automóveis seja benéfica para o setor, o mau momento da economia nacional fortalece um velho trauma dos empresários varejistas: a inadimplência.

“A queda das vendas de veículos faz com que o dono do carro faça manutenção do usado, mas, com a crise, o maior problema é o aumento da inadimplência. Por isso, sem dúvida, a mudança de governo renova a esperança de um cenário mais favorável”, enfatiza.

Reformas devem ter início imediato

O novo governo deve dar início imediato às reformas tributária, trabalhista, previdenciária e política. É o que defende Renato Passaglia, diretor da Bom Preço, de Goiânia (GO).

O que você espera da gestão Temer em relação ao reaquecimento do setor varejista brasileiro?

A expectativa por mudanças é muito grande, porém o que está sendo sinalizado pela equipe econômica do governo Temer é que o foco será na recuperação da atividade econômica. Medidas duras devem ser implementadas, temos que apoiar essas medidas e cobrar para que sejam efetivamente tomadas, e com urgência. O novo governo tem muito pouco tempo para mostrar a que veio, se não agir rápido vai perder apoio.

Você acha viável que um pacote de reformas seja iniciado já nesse primeiro momento?

Creio que seja imprescindível o início imediato das reformas tributária, trabalhista, previdenciária e política. Mas isso depende do Governo e do Congresso, vai ser um teste de fogo para a articulação política de Michel Temer.

Que medidas você sugeriria para a equipe econômica do novo governo?

As prioridades seriam o controle dos gastos públicos, combate a inflação e maior eficiência do estado, na busca de diminuir os juros e estimular a economia.

É possível estancar o aumento do desemprego imediatamente?

O setor produtivo está muito afetado, só com a retomada do crescimento esse quadro vai se revertendo aos poucos.

A sociedade é que vai “pagar o pato”

Existe um oceano entre a realidade e a fantasia vivida pelo governo. Carlos Eduardo Ribeiro, diretor da Perim, de São Paulo (SP), teme aumento de impostos e da carga tributária.

Qual sua avaliação do governo Dilma e que dificuldades o varejo enfrentou nesse período?

Não sei existe um adjetivo para mensurar, horrível, talvez destrutivo, se é que cabe aqui, pois destruiu pilares fundamentais como o político, o social e o econômico que, juntos, formam o pior cenário para uma economia capitalista, e que é potencializada pelo pessimismo, onde amargamos uma recessão em nossa área como tantas outras.

Como aumentar a necessária arrecadação do estado sem causar danos ao varejo e ao consumidor?

A conta não fecha, governo federal está endividado e os estaduais e municipais sem dinheiro e quase todos comprometidos em sua maioria com a máquina pesada nas três esferas. A grave queda na arrecadação nos leva a reviver a história que sempre se repete nesse país, como diz a FIESP, “quem vai pagar o pato” somos nós com prováveis novos impostos e aumento da carga. Como sempre os governos inaptos não fazem sua parte reduzindo seus custos. Demissão de 4.000 cargos comissionados até o final do ano em comparação a algo em torno de 10 milhões de desempregados é algo similar a um conto de fadas onde há um oceano entre nossa realidade e a fantasia vivida pelo governo.

Redução de juros e enxugamento da máquina pública

Luís Trindade, diretor do Baratão Autopeças, de Salvador (BA), chama a atenção para as dificuldades causadas pelo aumento da carga tributária no governo anterior. E adverte para os riscos da presença de tantos remanescentes no atual.

Quais foram as principais dificuldades enfrentadas pelo varejo durante o governo Dilma?

No começo havia um clima de euforia, o governo do PT colocou uma sucessora no poder e não parecia que iria haver muitas mudanças em relação ao governo Lula. Mas houve. E em relação ao período Dilma, os aumentos dos impostos, sobretudo do MVA (ST), foram as principais dificuldades enfrentadas.

A instauração de um novo governo já será capaz de retomar, ainda que lentamente, a confiança do consumidor?

Sim, mas com uma ressalva. O atual governo é composto por muitos integrantes da gestão passada, portanto, basta um único escândalo para ir por água abaixo toda a confiança.

Você acha viável que as reformas estruturais sejam implementadas já nesse primeiro momento?

Acho que este seria o melhor momento para iniciarmos uma reforma fiscal, criando uma política de redução de impostos e aumento da arrecadação.

Que tipos de medidas você sugeriria para a equipe econômica do novo governo?

Redução dos juros, aumento do credito, controle da inflação e enxugamento da máquina publica.


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