Varejo ainda tem dificuldade para encontrar seu lugar de contribuição na pauta sustentável -

Varejo ainda tem dificuldade para encontrar seu lugar de contribuição na pauta sustentável

Um dos principais balizadores para o processo de criação de uma economia mais sustentável no país, a Política Nacional de Resíduos Sólidos tem como uma de suas características mais marcantes a responsabilização de cada elo das cadeias produtivas no cuidado com o descarte de resíduos e na destinação correta no âmbito da logística reversa.

Lucas Torres [email protected]

Um dos principais balizadores para o processo de criação de uma economia mais sustentável no país, a Política Nacional de Resíduos Sólidos tem como uma de suas características mais marcantes a responsabilização de cada elo das cadeias produtivas no cuidado com o descarte de resíduos e na destinação correta no âmbito da logística reversa. Dentro de um contexto prático, no entanto, alguns setores acabaram se desenvolvendo de maneira mais célere do que outros ao longo da última década. Nestas disparidades entre os diferentes elos, o varejo é um daqueles que menos se desenvolveu. Na opinião de Fernando Gambôa, da KPMG, uma visão crítica direcionada ao setor varejista torna inevitável a constatação de que nossas lojas e redes estão muito atrás dos fabricantes quando o assunto é sustentabilidade. “Para exemplificar, com nomes, isso fica muito claro quando observamos o desempenho de empresas como a Ambev e a Natura – exemplos de ESG no país.

Enquanto, no varejo, estamos ainda começando a ver exemplos surgindo”, introduz Gambôa, antes de relatar uma articulação que busca mobilizar varejistas e distribuidores em prol da melhora do desempenho neste aspecto: “Tivemos recentemente uma ação na qual a KPMG foi curadora em parceira com a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), o Fórum Nacional da Cadeia de Abastecimento, cujo objetivo era justamente introduzir de maneira mais forte essa agenda no setor de consumo e varejo”.

Entre as propostas apresentadas no Fórum, o executivo da KPMG destacou aquelas ligadas à economia circular e a um processo de educação dos players do setor às práticas de ESG. Sobre esta questão de disseminação do conhecimento do tema aos empresários a fim de gerar um ciclo virtuoso que diminua o gap do varejo em relação aos outros segmentos, convidamos Gambôa a listar ações práticas do dia a dia do negócio capazes de, no volume, fazer uma diferença significativa.

Segundo o especialista é fundamental que o dono da empresa entenda que, antes de querer transforma-la em modelo no âmbito da sustentabilidade, é preciso compreender maneiras de buscar pequenas mudanças factíveis de serem implementadas tendo em vista o atual momento do negócio. Para ele, não é porque temos a noção de que o varejo tem a urgente necessidade de ir numa direção mais sustentável que toda empresa precisa ter ações de alto impacto. “A gente não está esperando isso dos pequenos varejistas. O que esperamos é que eles comecem com ações como a instalação de painel solar para a geração de energia; troca de determinados tipos de lâmpadas por lâmpadas de baixo consumo; e realização da coleta seletiva dentro da empresa. Esses pontos, que parecem simples, já vão ajudar o país no âmbito da sustentabilidade e da economia circular”, lista Gambôa.

LOJAS DE AUTOPEÇAS devem estar atentas à reciclagem

Ao ser questionado sobre alguns dos principais gargalos das lojas de autopeças na execução das pequenas missões de ESG na atividade, Fernando Gambôa, da KPMG, aponta para o papelão como um elemento importante – já que esses varejos lidam com uma grande quantidade do produto nas embalagens, mas acabam destinando uma parcela muito pequena deste volume para a reciclagem. “O Brasil hoje, quando a gente fala em economia circular, é um grande reciclador de papelão, vidro e alumínio.

Chegamos a estar no TOP 3 no ranking mundial de reciclagem de alumínio. Então, essas empresas de autopeças podem contribuir fazendo com que este material chegue às prefeituras da melhor forma ou ainda se articulem junto a associações de coletores para fazê-lo”, indica o executivo.

Consultor Legislativo do Senado Federal para a área de Meio Ambiente, Joaquim Maia Neto foi outro a identificar esta lacuna de engajamento do setor varejista no âmbito da economia circular. Para ele, o setor deveria ter uma presença muito maior na reciclagem de embalagens e outros produtos, sobretudo em razão da “ampla capilaridade que possui”. Maia Neto afirma ainda que, além da questão ambiental, esta prática teria relevância nos pilares social e econômico do tripé da sustentabilidade, ao passo que é capaz de estimular catadores, induzindo a um percentual alto de recuperação, além de uma taxa importante de recolocação na indústria e a consequente redução de custos deste setor


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