Varejos apostam em Centros de Distribuição como adequação às mudanças do aftermarket -

Varejos apostam em Centros de Distribuição como adequação às mudanças do aftermarket

Conheça os motivos do movimento e os resultados que já podem ser percebidos pelas empresas pioneiras

Lucas Torres [email protected]

A disrupção tecnológica que se espalhou pela economia mundial nos últimos anos alterou diversos aspectos da cadeia tradicional de fabricação e distribuição de produtos. Mercado que movimenta cerca de R$ 65 bilhões anuais, o aftermarket automotivo brasileiro não ficou de fora dessa onda de mudanças e já há um bom tempo convive com uma espécie de reorganização do papel de cada um dos elos que compõem a cadeia de negócios do setor. Entre as transformações mais comentadas – sobretudo desde a pandemia para cá – está o esforço cada vez maior da indústria de autopeças para encontrar formas de se relacionar de maneira mais direta com o consumidor final.

Este maior engajamento dos fabricantes ficou evidente, por exemplo, durante o Fórum E-commerce Brasil 2022, realizado na cidade de São Paulo (SP) nos dias 27 e 28 de julho. Acontecendo presencialmente pela primeira vez desde 2019, o evento teve importantes players da indústria de reposição automotiva como protagonistas à medida que estes foram em busca de soluções capazes de lhes permitir maior envolvimento na ponta. O movimento chamou a atenção de participantes como o gerente de Vendas da empresa Oto CRM, Anderson Tomaszewski, profissional habituado a contribuir com o processo de digitalização das atividades relacionadas à venda a partir do melhor aproveitamento dos dados dos clientes. “Uma questão que me chamou bastante atenção neste fórum foi a inclusão da indústria. Nós tivemos muitos fabricantes de autopeças visitando os estandes em busca de tecnologia, porque eles entenderam que têm de assumir, de certa forma, o protagonismo na relação com o cliente”, afirmou Tomaszewski, complementando com cases que presenciou na ocasião: “Tivemos a presença de empresas interessadas em explorar soluções de marketplaces, tal como a Randon fez com o ‘Autoexperts’, onde vende autopeças de marcas como Fras-Le, Nakata e Fremax. Este tipo de indústria não fazia parte deste evento até 2019, por exemplo. Outro destaque, já mais no campo das montadoras, foi a presença da Stellantis”.

À primeira vista, esta busca da indústria por uma relação mais estreita com o consumidor final pode gerar dúvidas quanto à capacidade do varejista conseguir se manter relevante no médio e longo prazo. Tomaszewski, porém, fez questão de tranquilizar os players do varejo brasileiro destacando que o foco da maioria dos fabricantes é utilizar tecnologia para ajudar os comerciantes a venderem seus produtos no estoque, passando a atuar tanto nas etapas de sell-in quanto de sell-out das autopeças. Essa dinâmica, aliás, já havia sido destacada pela CEO da Leonora Ventures, Ana Debiazi, na edição digital 365 do NV Automotivo. Na ocasião, ela afirmou que, em geral, a indústria interessada em atuar na venda direta prioriza exercer o papel de intermediário entre o consumidor e o varejista e conta com este último como ponto de suporte para fazer a distribuição do produto.

Varejistas de autopeças estão cada vez mais preparados para o novo cenário

Se players da indústria estão confiando aos varejos a missão de atuar como centros de distribuição espalhados pelos mais diversos lugares do país, oferecendo capilaridade e, assim, mais agilidade às entregas, então eles podem ficar tranquilos. Isso porque alguns dos principais varejistas de autopeças brasileiros não estão apenas dispostos a se tornarem simulacros de centros de distribuição, mas a terem de fato estrutura e atuação prática de atacadista/distribuidor. Os cases deste movimento já se espalham pelo varejo e, no último mês de junho, empresas que já haviam realizado esta transição, como a paulistana Josecar e a campineira Rocha Autopeças, ganharam a companhia de mais um player importante: a Ramos e Copini, da região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A empresa comandada por Flavio Ramos inaugurou um novo Centro de Distribuição com mais de 3 mil metros quadrados na cidade de Cachoeirinha (RS), onde já armazena cerca de 35 mil itens. Em entrevista exclusiva ao Novo Varejo Automotivo, Ramos comentou que a proximidade do Centro de Distribuição junto aos fornecedores pesou na decisão de investimento da empresa que, ao transferir sua sede do interior para a grande Porto Alegre, busca também ganhar relevância junto ao mercado da capital gaúcha. Mais do que projetar os impactos que o posicionamento como distribuidor terá estritamente em sua empresa, porém, o executivo da Ramos e Copini está confiante de que o movimento irá colaborar para a cadeia do aftermarket como um todo. “Participando da cadeia, com muita parceria com as fábricas e os distribuidores nacionais, a gente quer contribuir imensamente para o desenvolvimento do aftermarket”, salientou Flavio Ramos.

Quando questionado sobre o fato desta ampliação do leque de atuação dos varejistas se configurar ou não em uma tendência para o segmento, sobretudo no âmbito das grandes empresas, com corpo para crescer, Ramos afirma ver, sim, a criação dos centros de distribuição como um caminho natural. “Pensa bem, o empresário desenvolve o negócio e, como um varejista forte, começa a comprar das fábricas com maior frequência. Daí surge a necessidade de ter escala e volume – e uma maneira de escalar o negócio é a partir da distribuição”, analisou o executivo. Ainda que concordando com a noção de tendência, porém, Ramos fez questão de salientar que a transição de varejo para distribuidor é apenas mais uma entre diversas oportunidades existentes para a expansão dos negócios no varejo de autopeças. “O momento atual oferece diversas possibilidades para quem quer crescer sendo, entre elas, o e-commerce uma das mais atrativas. Além disso, temos também outros modelos de negócio surgindo”, concluiu.


Notícias Relacionadas
Read More

Como será o mercado em 2035?

Marcelo Gabriel, head do After.Lab, o núcleo de inteligência de dados da Novo Meio, nos traz uma análise da pesquisa feita pela Roland Berger nos Estados Unidos que aponta 9 tendências que devem moldar o aftermarket em 2035.