Rota 2030 prevê ações para encaminhar demandas do setor automotivo rumo ao crescimento sustentável. Mas o ciclo de modernização está relacionado à destinação correta para os veículos sucateados
Claudio Milan
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O Relatório da Frota Circulante 2017 elaborado pelo Sindipeças estima que rodam pelo Brasil 42,9 milhões de veículos, entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. O mesmo estudo informa que a idade média é de 9 anos e 3 meses, a mais alta desde 2006. Como uma das consequências da maior recessão enfrentada pelo país, a frota ficou mais velha.
Até o final do ano, nossas vias deverão receber cerca de 2,2 milhões de novos veículos saídos das linhas de montagem, segundo previsão da Anfavea, naturalmente sujeita a revisão. De qualquer forma, contabilizar a entrada de automóveis 0 km no mercado é um exercício muito simples. Mais difícil é precisar quantos deixam de circular em razão do sucateamento.
De acordo com estimativas do mercado, a vida útil de um carro de passeio se aproxima dos 20 anos. Embora as informações sobre o total de veículos que deixam de circular a cada ano sejam desencontradas, o índice de 10% é aceito como próximo da realidade. Será mesmo? Tomemos como base dados do estudo divulgado anualmente pelo Sindipeças. Em 2015, a frota era estimada em 42.587.250 unidades. Naquele ano, foram vendidos no país 3.982.816 veículos. Mas em 2016, ainda de acordo com o Relatório do Sindipeças, tínhamos 42.872.414, um crescimento de apenas 285.164 veículos. Ou seja, 3.982.816 deixaram de circular no período de 12 meses, um índice de aproximadamente 8,5%. É claro que se trata de um cálculo pouco cientifico, mas que permite imaginar que mais de 3 milhões de veículos possam estar sendo sucateados a cada ano no Brasil. E para onde vão esses automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus? Na maioria dos casos, são descartados de forma inadequada em desmanches e similares, onde podem permanecer por décadas em processo de decomposição e agressão ao meio ambiente – segundo estima o SINDINESFA – Sindicato do Comércio Atacadista de Sucata Ferrosa e Não Ferrosa do Estado de São Paulo, 98,5% dos veículos produzidos aqui são descartados inadequadamente.
Isso se deve muito ao fato de não existir no Brasil uma legislação que imponha regras para o correto desmonte dos automóveis – ao contrário do que ocorre nos países do chamado primeiro mundo. O mais próximo que chegamos de regulamentar o descarte correto de produtos industrializados foi a genérica Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída em 2010 e que, no entanto, ainda está longe de ser respeitada pela sociedade – ou, falando em claro português brasileiro, é mais uma lei que “não pegou”. Mas nem ela resolveria sozinha os desafios do descarte adequado dos veículos sucateados.
É neste ambiente que o governo federal e as principais entidades do setor automotivo discutem as regras para a nova política setorial brasileira, denominada Rota 2030, que vai substituir o criticado Inovar-Auto, que encerra vigência em 31 de dezembro. Entre as propostas em discussão, os desejados programas de Renovação de Frota e Inspeção Veicular. Tais ações têm potencial para aumentar os índices de sucateamento da frota. E, ao que tudo indica, especificamente essa questão ainda não recebe a devida atenção das autoridades ou do próprio setor automotivo. Sem dar o devido encaminhamento aos veículos retirados de circulação, como amarrar as pontas de forma a efetivamente modernizar o Brasil e colocar o país numa rota sustentável de crescimento até 2030?