Na edição de outubro, o Novo Varejo deu amplo destaque à revolução tecnológica, de usos e costumes que virá em consequência dos carros conectados e do compartilhamento de veículos. O tema continuará recebendo atenção de nossa reportagem. Neste mês, conversamos com o especialista e consultor automotivo JR Caporal, fundador da AutoAvaliar, que reúne vasta experiência no setor. Vivendo nos Estados Unidos, ele acompanha de perto as últimas tendências do setor automotivo.
Existem indicadores concretos de que o compartilhamento de veículos será uma realidade no dia a dia dos cidadãos?
No início deste ano, a General Motors, investiu US$ 500 milhões no Lyft, um dos principais rivais do Uber nos Estados Unidos. Outros grandes fabricantes de automóveis anunciaram investimentos em aplicativos: a Volkswagen colocou US$ 300 milhões no Gett; a Toyota, por sua vez, entrou no Uber, especialmente para oferecer leasing aos motoristas; a BMW tem se concentrado no Scoop, um aplicativo para compartilhar o carro; a mesma coisa com a PSA (Peugeot/Citroën), na Koolicar. Finalmente a Ford, nesse meio tempo, criou seu próprio aplicativo, o FordPass, que administra a propriedade de um automóvel Ford e, em breve, permitirá que um usuário possa também compartilhar o carro com os outros e ainda ganhar dinheiro depois que o veículo for deixado em um aeroporto. O FordPass foi desenvolvido com a colaboração da Pivotal, uma empresa de software do Vale do Silício. A montadora, em outubro, anunciou ter investido US$ 182 milhões na Pivotal. Essas são as apostas que temos. E, se pensarmos no UBER, Lyft, Didi, Gett, esses já são uma realidade.
Quais são os possíveis impactos da concretização desta tendência no que se refere ao eventual encolhimento da frota global de veículos?
Tanto as concessionárias como as OEMs serão impactadas pela redução das vendas de automóveis e peças novas. Elas terão de identificar as novas lacunas e avançar para um novo modelo de negócio, justamente para sustentar a rentabilidade e incentivar os concessionários a se mover na mesma direção. O tempo necessário para compreender as alterações e identificar o impacto sobre todas as partes do negócio é agora, pois a mudança provavelmente vai acontecer mais rápido do que a maioria imagina. Ninguém ainda tem os números sobre o que será de frota próprio e o que será de veículos compartilhados. Outro fator é que os concessionários devem entender que o transporte pessoal vai além de carros. Devem compreender de como ser “multi-modais” e isso é extremamente importante. Portanto, um comerciante também pode vender ou alugar (e manter) bicicletas e scooters. Pode prestar serviços de coleta e transporte de entrega e possuir ou manter veículos de entrega e de passageiros. Uma capacidade de vincular claramente o acesso multi-modal juntos em uma solução mais abrangente vai se tornar um grande benefício comercial.
Em relação aos veículos conectados, de que forma tal tecnologia pode influenciar nos procedimentos e rotinas de manutenção?
Para proprietários, frotistas, particulares e motoristas em geral, um carro conectado pode aumentar a economia de combustível, diminuir os custos de manutenção e ajudar a automatizar suas vidas. Alguns dos maiores nomes da tecnologia de consumo, além de companhias de seguros e empresas, estão se integrando com o carro ligado. O veículo online permite automatizar tarefas rotineiras, como o de controle de despesas ou manter a manutenção e localização do seu carro. As seguradoras podem oferecer descontos substanciais para os segurados, enquanto os novos motoristas podem se beneficiar de um aplicativo para ajudar a orientá-los durante os seus primeiros meses na estrada. Usando os mesmos dados de condução, os proprietários podem obter insights sobre o seu comportamento ao volante. Para o concessionário, o cliente pode optar por um programa de serviço proativo, receber um alerta quando é hora para uma troca de óleo ou se um problema surge. O sistema pode automatizar campanhas de agendamento de serviços, recalls e fornecer assistência rodoviária, aceitar pagamentos e ainda mesmo facilitar os serviços de valet.
Quais são as reais expectativas para a inserção de veículos autônomos no mercado e de que forma esse conceito deve se expandir pelos próximos anos?
A peça central em torno de como as pessoas interagem com veículos autônomos será por meio de plataformas de internet móvel, principalmente centradas em aplicativos em smartphones. Quando os usuários necessitarem de um carro de uma frota de veículos autônomos, eles vão chamá-lo de seu telefone, semelhante à forma como Uber opera hoje. Eles também serão capazes de comprar e organizar entregas autônomas de compras online, de modo que um pedido só terá de 10 ou 15 minutos para chegar de um comércio local. Como parte da experiência de compras online, uma estimativa de tempo de entrega será incluído, não medido em dias, mas em questão de minutos. Desenvolvedores de aplicativos que sejam inovadores nesta área estarão bem posicionados para ter sucesso.
Diante de tantas inovações, qual é sua expectativa pessoal para as empresas independentes envolvidas com a manutenção de veículos e quais adequações elas precisam implementar para manter importância e competitividade no mercado?
A minha expectativa é que a venda de mercadorias derivadas da compra online vai aumentar cada vez mais. E as pessoas vão querer uma entrega instantânea. Parece absurdo que essas frotas vão usar veículos de passageiros em tamanho real para o transporte de pequenos objetos em distâncias curtas. É por isso que pequenos veículos (não dedicados a usar passageiros) terão uma enorme vantagem no preço de compra, custo de propriedade e capacidade de manobra para a prestação desses serviços, bem como ter um impacto reduzido na densidade de tráfego. Eu posso ver esses veículos serem impressos em 3D e equipados com um pequeno sistema de transmissão elétrica. E as baterias sendo carregadas por um carregador indutivo nos pontos de entrega. Como estes veículos não irão transportar pessoas, a procura de níveis elevados de segurança não será tão crítica, o que significa que a engenharia e a complexidade de fabricação serão reduzidas significativamente. Tais veículos teriam uma velocidade máxima de cerca de 60 km/h ou 70 km/h, o que iria cobrir situações de transporte urbanas e poderiam até ter faixas de tráfego dedicadas. Portanto, a demanda para médias e grandes impressoras e desenvolvedores de plataformas de veículos ultra pequenos em 3D irá aumentar significativamente