Empresas têm menos de dois anos para adaptarem seus relatórios de sustentabilidade -

Empresas têm menos de dois anos para adaptarem seus relatórios de sustentabilidade

Adequações se tornarão obrigatórias a partir de 2026

Um estudo realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (USP/Fipecafi), com 81 empresas que compunham a carteira do Ibovespa entre setembro e dezembro de 2023, revela que há pouca conexão entre as informações ESG e as informações econômicas e financeiras que são apresentadas nos relatórios abertos das empresas.

As informações de boa parte delas ainda estão em dissonância com as exigências do novo padrão internacional que será emitido pelo International Sustainability Standards Board (ISSB) para elaboração e divulgação dos relatórios de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade. Os requisitos gerais para divulgação de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade (IFRS S1) e de clima (IFRS S2) se tornarão obrigatórias para as companhias a partir de 2026.

O alerta é do diretor de pesquisas da USP/Fipecafi, Fernando Dal-Ri Murcia, que estudou os dados para a realização da tese que defendeu de livre docência sobre o contexto normativo internacional e no Brasil sobre ESG com o objetivo de visualizar o cenário. Na opinião dele, as empresas caminham no sentido da adequação, mas precisam aproveitar a oportunidade para apresentar melhorias.

“As novas regulamentações vão trazer uma mudança de paradigma, uma mudança da forma de fazer estes relatórios. Os relatórios atuais são muito bonitos, mas ainda são pouco utilizados e pouco úteis. O Brasil foi o primeiro país a adotar de forma voluntária e o mercado está demandando informações mais condizentes com a realidade nesses relatórios de sustentabilidade. São normas que passarão a ser exigidas e cobradas e que precisam estar atreladas ao cenário econômico e contábil da empresa”, avalia.

Murcia explica que a regulamentação está em curso voluntário há quase três anos e já fez com que o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) emitisse a Resolução CFC nº 1.710 – estabelecendo os mesmos prazos para a adoção das normas aos seus profissionais contadores. “O contador que estiver envolvido com este tipo de relatório, precisará se adequar também”, comenta.

Dos relatórios analisados no estudo, cerca de 74% contaram com auditoria feita por companhias independentes, provendo análises com menor confiabilidade de apuração, nomeadas como “asseguração limitada”, ou seja, menos abrangente e caracterizada pela não aplicação de todos os procedimentos requeridos para a auditoria convencional. “A mudança que será adotada exigirá relatórios mais voltados para riscos financeiros. De forma a guiar investimentos e estratégicas, com informações mais reais e confiáveis”, explica.

O pesquisador aponta preocupação também com a confiabilidade das divulgações.  Segundo Murcia, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) prevê a “investigação completa” dessas informações obrigatórias já a partir do exercício social de 2026, com as maiores exigências vindas dos auditores e das companhias. “Ao que tudo indica, neste momento, parte relevante das empresas não parece estar pronta para os desafios que a asseguração razoável das informações sobre sustentabilidade irá trazer. Mas a gente conhece o Brasil, as empresas deixarão para última hora, ainda dá tempo, mas é preciso começar”, alerta.


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