Trinta associações representativas do mercado de reposição na Austrália, Brasil, Canadá, Colômbia, Índia, África do Sul, EUA e de quase 20 países europeus, bem como associações europeias representando seus setores no nível da União Europeia, reuniram-se durante a Automechanika 2024, em Frankfurt, para discutir o Right to Repair. O encontro foi organizado pela FIGIEFA – Federação Internacional de Distribuidores Independentes de Peças Automotivas de Reposição, entidade que congrega associações de distribuidores europeias, com o propósito de compartilhar experiências de ações que busquem proteger os consumidores, garantindo-lhes o direito de consertar seus veículos onde bem entenderem.
O Brasil foi representado pela Aliança Aftermarket Automotivo, movimento que congrega sete entidades do mercado de reposição, entre elas a ANFAPE – Associação Nacional dos Fabricantes e Comercializadores de Autopeças para o Mercado de Reposição, que apresentou o posicionamento favorável do País. “De olho nos movimentos do Exterior, temos buscado maneiras de tornar realidade o livre acesso à manutenção e ao reparo, haja vista que o Right to Repair representa a defesa do consumidor pelo seu direito de escolha, bem como milhões de empregos gerados pelo setor de reparação”, afirmou Renato Ayres Fonseca, diretor presidente da ANFAPE.
Um dos principais porta-vozes da Aliança em relação ao tema, Fonseca comentou que o Right to Repair é fundamental para a manutenção da relevância do mercado independente no médio prazo. Isso porque, com o crescimento da frota dos veículos dotados da tecnologia de conectividade nas ruas e o iminente fim de seus prazos de garantia, as montadoras terão cada vez mais oportunidade de controlar quem poderá acessar – ou não – informações fundamentais para uma manutenção assertiva, como os dados de rodagem e informações de diagnósticos armazenadas em ambientes virtuais em nuvem acessíveis apenas às concessionárias. “Vale dizer ainda que essas são apenas algumas das maneiras com as quais as montadoras podem cercear o direito do consumidor à livre escolha pelo local de reparo. Isso também pode ser feito com a imposição de barreiras de acesso às peças de reposição”, salientou o presidente.
Essa inserção no debate mundial sobre o direito de reparar tem permitido aos brasileiros acompanhar de perto o avanço da criação de legislações e diretrizes sobre o tema ao redor do mundo. Neste sentido, como exemplo, as lideranças acompanharam o fato de que, de 2022 para cá, três estados norte-americanos (Nova Iorque, Minnesota e Califórnia) adotaram legislações importantes em relação ao Right to Repair, tanto no âmbito do direito de reparar quanto para garantir que haja disponibilidade de peças de reposição e informações ao dono do veículo.
Ainda no encontro de Frankfurt, as entidades destacaram a importância de conscientizar consumidores, empresários e empregados sobre seus direitos e as ameaças que vêm sofrendo. E nesse contexto os distribuidores são o principal canal de comunicação. “Considerando cada experiência, ficou unânime a posição dos países que é mais efetiva a atuação do aftermarket se as entidades estiverem unidas no propósito de garantir o direito de escolha do consumidor, impedindo o monopólio das montadoras”, assegurou Fonseca.
RIGHT TO REPAIR PELO MUNDO
Ao longo dos anos, a reunião Right to Repair tem se tornado cada vez mais uma plataforma crucial para o diálogo e colaboração entre as associações que representam o mercado de reposição automotiva em todo o mundo. Mais do que apenas uma reunião, esse fórum molda ativamente o futuro da indústria. Um foco central inclui abordar desafios comuns, particularmente aqueles decorrentes de práticas pouco claras por parte dos fabricantes de veículos.
Um desafio significativo enfrentado por reparadores, distribuidores de peças e fornecedores é a necessidade de manter acesso irrestrito às informações de reparo e manutenção (RMI), informações técnicas e a liberdade de usar ferramentas e peças de reposição. Com o advento da digitalização e o surgimento do “veículo definido por software”, novas preocupações surgiram, incluindo o acesso a dados gerados no veículo, as funções e recursos operacionais do veículo, a crescente ausência de informações de reparo para baterias de veículos elétricos e o crescente problema de cativeiro de peças.
Nesse contexto, os fabricantes de veículos ganham uma vantagem competitiva ao controlar os dados gerados pelos veículos. Esse controle impacta o volume e a qualidade das informações disponíveis para provedores de serviços independentes, limitando, em última análise, as oportunidades digitais para as empresas e restringindo a liberdade de escolha dos consumidores.
Os participantes concordaram com a necessidade urgente de um jogo justo e um apoio legislativo robusto para enfrentar esses desafios em várias regiões do mundo. Medidas de execução eficazes são essenciais para garantir que os fabricantes de veículos cumpram mais rigorosamente as regulamentações automotivas.