Com um público recheado de autoridades, do palco ao auditório, a ocasião reforçou o otimismo do setor quanto ao sucesso do evento. Diretor de portfólio da RX Brasil, Márcio Alves destacou que o montante de 1.500 marcas expositoras espalhadas pelo pavilhão supera em 30% o total registrado na última edição.
“Além disso, esperamos 90 mil visitantes ao longo semana, um número que, mais do que expressar o apetite do setor por negócios, evidencia o papel estratégico que a Automec representa para o aftermarket automotivo”, destacou Alves.
Para além dos discursos de celebração, a cerimônia de abertura foi um espaço para apontar as urgências estruturais do setor, com ênfase em duas pautas: a regulamentação e a implementação prática da inspeção técnica veicular e a consolidação do direito à reparação (Right to Repair).
Ambas as agendas atravessaram os discursos de executivos e lideranças, refletindo a esperança de um alinhamento crescente entre as demandas do mercado e a formulação de políticas públicas.
Entre os primeiros a discursar, Carlos Abdala, representante da Bosch, destacou o papel da Automec como plataforma de negócios, formação técnica e projeção de futuro.
“Temos uma frota de mais de 48 milhões de veículos no Brasil. A Automec é uma oportunidade para perpetuar um segmento que já se mostrou extremamente resiliente. É aqui que debatemos inovação, capacitação e os rumos da reparação automotiva no país”, afirmou Abdala, salientando que, nesta edição, a marca alemã dará uma ênfase importante para a apresentação de softwares.
O crescimento do uso de softwares e tudo o que ele acarreta em termos de acessibilidade de informações, ou a falta delas, para as oficinas independentes foi o centro do discurso do presidente do Sindirepa Brasil, Antonio Fiola.
Segundo ele, o fato das oficinas independentes serem responsáveis pela manutenção e reparo de cerca de 80% da frota circulante do país faz com que a chegada do movimento Right to Repair à pauta nacional seja algo urgente.
“É inadmissível que as montadoras tenham reserva de informação. Precisamos fazer com que a pauta do direito ao reparo chegue com mais força no Congresso”, disse Fiola, expressando o descontentamento crescente do setor com o fato do avanço tecnológico dos automóveis estar caminhando lado a lado com uma desigualdade no acesso a informações, liberdade do consumidor e equilíbrio competitivo entre seus diferentes players.
Além do tema do Right to Repair, Fiola também foi enfático ao defender a implementação da inspeção técnica veicular obrigatória no país – destacando seu impacto direto tanto na segurança das vias quanto no meio ambiente.
“É importante termos em mente o fato de mais da metade dos acidentes ter como causa principal a falha mecânica dos automóveis. Sem um programa de inspeção, não conseguimos nem sequer saber quantos deles poderiam ter sido evitados. E isso não é só uma questão de segurança: um carro com catalisador danificado polui até dez vezes mais. É uma pauta ambiental também”, destacou Fiola lembrando do envelhecimento progressivo da frota brasileira evidenciado pelo período da covid-19 em 2020.
A união de elos como reparação, varejo e distribuição com a indústria de autopeças é há muito tempo uma esperança do setor para que as pautas da reposição possam ganhar ainda mais força junto às autoridades.
E, neste sentido, a abertura da Automec 2025 representou um passo importante quando o presidente do Sindipeças, Cláudio Sahad, reforçou a importância da pauta da inspeção técnica veicular.
“Não cabe mais dizer que a inspeção técnica veicular é impopular, afinal, nossa sociedade clama por mais segurança e sustentabilidade, questões diretamente impactadas pela inspeção técnica veicular. Precisamos que o poder público, a indústria e todo o setor se juntem para fazer isso acontecer”, salientou, antes de complementar revelando que a indústria deve investir mais de R$ 50 milhões em inovação e capacitação até o fim de 2025.
“Esse é um esforço contínuo que estamos fazendo e seguiremos fazendo para acompanhar a evolução tecnológica do setor automotivo”.
A presença do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, foi interpretada pelas lideranças como um gesto político relevante. “A presença do Alckmin simboliza a importância do nosso setor”, avaliou Fiola, ao lado de dirigentes da Aliança do Aftermarket.
Em seu discurso, Alckmin destacou que a indústria automotiva brasileira cresceu 14,1% nas vendas de veículos em 2024 frente ao ano anterior, em contraste com um desempenho global.
“No ano passado, estivemos no topo do mundo. E o Governo Federal está trabalhando para apoiar ainda mais esse setor. O Programa Mover, por exemplo, prevê R$ 19 bilhões em investimentos até 2030, sendo R$ 7 bilhões aportados já nos próximos dois anos. Também estamos estruturando o LCD (Linha de Crédito para o Desenvolvimento) e o para baratear o custo do dinheiro para o desenvolvimento dos players do segmento automotivol”, detalhou o vice-presidente.
Sobre a inspeção técnica veicular, Alckmin fez uma sinalização timidamente favorável à pauta ao dizer que reconhece que os acidentes, sobretudo os acidentes de trânsito ocupam o posto de terceira maior causa de mortes no mundo, seguida das doenças pulmonares.
“Por esse motivo, nós temos consciência que a inspeção faz sentido tanto do ponto de vista ambiental quanto da segurança viária” admitiu, sem, no entanto, se comprometer ou detalhar medidas práticas para impulsionar a pauta no país.
Ao abordar o cenário internacional, Alckmin também fez um gesto diplomático aos Estados Unidos, lembrando que o Brasil é o único país com o qual os americanos não possuem déficit na balança comercial. “Estamos estreitando o diálogo para construir uma relação ganha-ganha. Olho por olho, dente por dente não nos levará a nada”, afirmou.
A programação da Automec 2025 segue até sábado, 26/04, com debates, palestras técnicas, treinamentos e lançamentos que cobrem toda a cadeia do mercado de reposição. Além das novidades em autopeças, equipamentos e tecnologia, a feira se consolidou como um espaço de articulação política e institucional — uma arena onde os rumos da reparação automotiva brasileira são pensados e projetados.