Embora ao longo dos anos fosse constante a sinalização de que o grupo pudesse contribuir para a intensificação das relações comerciais entre seus componentes, na prática, isso ainda não ocorreu.
Com exceção da China, país que há pelo menos meia década já ultrapassou o status de emergente, se consolidou como potência mundial e – que pela soma de poderio econômico e enorme população – é protagonista da balança comercial de grande parte dos países do mundo, os números dos negócios internos do grupo ainda engatinham.
Para se ter uma ideia da baixa representatividade dos BRICs nas trocas comerciais de seus participantes, basta que se analise os dados do ano de 2015 da balança comercial brasileira. Somados, Índia, Rússia e África do Sul representam cerca de 5% das importações e exportações brasileiras.
Finalmente, após 15 anos de relativa inércia no campo comercial, essa situação pode estar às vésperas de uma mudança drástica. Principal força do grupo com um PIB de mais de R$ 10,9 trilhões, a China defendeu pela primeira vez, no último mês de outubro, a criação de uma área de livre-comércio entre os países do bloco.
O que significa dizer que, caso a ideia se consolide e passe a vigorar, não haveria mais tarifas e barreiras não tarifárias nas negociações comerciais entre os países, reduzindo os custos de importações e exportações apenas ao valor gasto em seu transporte, algo que baratearia sobremaneira os produtos comercializados.
Governo brasileiro não deve apoiar a proposta
Em um primeiro momento, governo brasileiro já sinalizou que não irá apoiar a medida e enfatizou a necessidade de debruçar-se sobre estudos que apontem – ou não – vantagens competitivas mútuas trazidas pelo acordo.
No que depender do histórico brasileiro no que tange acordos dessa magnitude, entretanto, a posição brasileira de negativa inicial não deve ser alterada tão logo. É o que afirma o economista-chefe da Infinity Asset Management, Jason Vieira.
Segundo o profissional, o Brasil possui um grave problema histórico em celebrar acordos supranacionais e – embora o Ministro das Relações Exteriores do país, José Serra, tenha sinalizado uma abertura maior a esse expediente – ainda hoje, não apresenta condições ideais para dissolver esse bloqueio.
“A baixa competitividade da indústria local e a grande dependência do governo evitam que haja sucesso neste processo e, se não ocorrer um movimento semelhante à forte abertura do mercado nos anos 90 (quando Collor comparou os carros nacionais a carroças) e que certamente impactará numa parcela significativa da indústria, o empresariado local não se adaptará à uma nova realidade de comércio como essa”, analisou.
Para Vieira, no entanto, a ideia chinesa deve avançar rapidamente do status embrionário para conversações mais complexas entre os países-membro do BRICs. Isso porque os Chineses, bem como – em uma escala menor – Brasil, Rússia, Índia e África do Sul, precisam encontrar uma resposta ao que chamou de ‘enorme Acordo Trans Pacífico’.
O TPP (Trans-Pacific Partnership), como é conhecido mundialmente, reúne três das grandes potências econômicas do planeta em Estados Unidos, Japão e Canadá e mobiliza outros nove países dotados de mercados importantes estrategicamente na Ásia, na Oceania, na América do Norte e na América do Sul.
Pelo caráter recente do acordo – assinado em fevereiro desse ano – economistas ainda não sabem definir ao certo seu real impacto para o comércio mundial. No entanto, ao somar 40% de toda a economia mundial, o bloco representa uma ameaça ao sucesso da balança comercial dos mais diversos países do mundo – sobretudo os desamparados pela zona do euro, caso dos cinco membros do BRICs.
A expectativa de Vieira é justamente que, com o sucesso do TPP, o cerco se aperte de forma definitiva sobre eles e que, com isso, a proposta Chinesa passe a ganhar mais e mais corpo.