Crise hídrica e escassez de energia acrescentam novas camadas de preocupação ao ambiente inflacionário -

Crise hídrica e escassez de energia acrescentam novas camadas de preocupação ao ambiente inflacionário

Para economista do Ipea, o aumento da taxa de energia elétrica – somado à inflação de alimentos que também tem a seca como um de seus motivadores parciais – deixará os brasileiros em uma situação delicada, com grande parte do orçamento destinada às chamadas despesas fixas.

Lucas Torres jornalismo@novomeio.com.br

Embora a desvalorização cambial consista, por si só, numa força capaz de produzir aumento de preços, ela não é o único fator responsável pelo retorno do dragão inflacionário ao Brasil. Desde 1º de setembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) criou uma nova bandeira tarifária de energia elétrica que, na prática, produzirá um aumento substancial nas contas de luz de residências e empresas.

Nomeada de ‘Bandeira Tarifária de Escassez Hídrica’, o mecanismo tem como objetivo levantar custos para subsidiar a ativação das nossas usinas termoelétricas – fundamentais para a tentativa de evitar racionamentos compulsórios provocados pelo baixo volume de água nas hidrelétricas. Para ter a medida da magnitude das altas do custo da energia elétrica no Brasil, basta observar que o item superou em quase três vezes a média da alta inflacionária ao longo de 2021. Enquanto o IPCA saltou 5,81% de janeiro para cá, o aumento das contas de luz foi de 16,07%. Para José Ronaldo de Castro Souza Jr., do Ipea, o aumento da taxa de energia elétrica – somado à inflação de alimentos que também tem a seca como um de seus motivadores parciais – deixará os brasileiros em uma situação delicada, com grande parte do orçamento destinada às chamadas despesas fixas. O raciocínio do diretor do Ipea é acompanhado pelo advogado e economista Alessandro Azzoni. “A inflação realmente corrói o dinheiro e, somada ao aumento da energia elétrica, diminui de maneira drástica a chance de a população investir em carros, imóveis e nas compras em geral. Acredito que nós estamos indo para um cenário recessivo. Potencializado pelo custo do dinheiro com o aumento da taxa de juros”, apontou Azzon.

Não bastasse o impacto no custo de vida e de produção do país, a crise energética pode, segundo Azzoni, limitar a capacidade de operação da indústria nacional, caso esta tenha de responder a um improvável aquecimento de demanda. “Se nós retomássemos a economia, o nível de produção pré-crise de 2016, nós provavelmente não teríamos energia para sustentar essa retomada ou passaríamos a conviver com o risco de apagão e racionamento”. Entre os especialistas ouvidos pela reportagem do Novo Varejo, o sócio da BRA Investimentos, João Beck, foi aquele que ousou se colocar como uma voz de otimismo em meio à crise multifacetada vivida pelo país. Para fazê-lo, se ancorou na esperança de que fenômenos meteorológicos como as geadas e a falta de chuvas presente em 2021 não se repitam no próximo ano. “Por isso, é esperada uma convergência da inflação para níveis menores, por volta de 4% no ano que vem”, projetou Beck.


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